Um antigo ditado diz que "cavalo dado não se olha os dentes". A anedota diz respeito à idade do animal, que pode ser verificada pelo estado da sua arcada dentária. Quando se recebe um presente, portanto, não é de bom tom reclamar da sua condição. Na origem da brincadeira, entretanto, está uma questão séria: a higiene bucal é um dos cuidados mais importantes para os cavalos. A prestação de serviços de saúde aos animais é um mercado em crescimento no Brasil e engloba itens de alimentação, limpeza, medicamentos e fisioterapia, entre outros.

No Referencial Centro Equestre vivem 62 cavalos de diversas raças. O local oferece hospedagem, treinamento para competição, aulas de equitação e lazer. Mordomia não falta, a começar pela alimentação. Com um sistema digestivo bastante sensível, eles sofrem com cólicas, problema que pode avançar para um quadro cirúrgico ou até a casos irreversíveis, conforme explica a médica veterinária Tamarini Arlas. "A maior causa de mortes decorre da má alimentação, que precisa ser equilibrada conforme a raça, o tamanho e a intensidade dos exercícios", detalha.

Os equinos precisam comer bastante fibra verde para ajudar a desgastar os dentes, que crescem de 2 a 3 milímetros por ano. A inserção de ração na dieta, inclusive, tem obrigado os criadores a contratarem dentistas para fazer o processo manualmente. "Se deixar criar pontas, os cavalos perdem peso, sofrem lesão devido ao uso da embocadura, podem ficar agressivos e ter problemas de movimentação", destaca o dentista Henrique Noronha. Outras intervenções comuns na área são a extração do dente de lobo - um similar do siso - e o uso de aparelho para correção da arcada.

Periodicamente, os cascos também recebem atenção especial. "É como um ser humano usando sapato torto ou apertado por muito tempo. Pode causar lesões nos membros locomotores e na coluna. Por isso, mensalmente, é realizado o controle da ferradura conforme a morfologia do casco", conta a proprietária do Referencial Centro Equestre, Fernanda Camargo. No dia a dia, a escovação dos pelos é feita para retirar o pelo morto; e o banho com shampoo e condicionador acontece sempre depois dos treinos, principalmente no verão.

No fim das contas, alimentação, odontologia, casqueamento e ferrageamento, exames sanitários e higiene não saem por menos de R$ 1 mil por mês. O atendimento odontológico, por exemplo, é recomendado uma vez a cada seis meses e custa em torno de R$ 400. Embora seja mais comum em cavalos atletas, só 1% dos animais recebe o dentista no Brasil, contra 80% nos Estados Unidos e na Alemanha. "Estamos tentando mudar esse quadro devido a sua importância para saúde do animal. Seja dado ou comprado, se olha os dentes, sim", brinca Noronha.