Publicada em 28 de Agosto de 2016 às 10:15

Sindilat estimula a modernização da coleta de leite

Adequações jurídicas e burocráticas atrasaram a fase de testes, diz Guerra

Adequações jurídicas e burocráticas atrasaram a fase de testes, diz Guerra


Lívia Stumpf/JC
Marina Schmidt
Um dos grandes desafios do setor lácteo no País é modernizar a coleta e o transporte do leite cru. Essa é uma realidade que já vem sendo estudada, graças a parceria entre o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), Embrapa Clima Temperado e Fundesa, que, junto, investem em um projeto de automação, lançado em dezembro do ano passado, em Capão do Leão, e iniciado, na prática, neste mês.
Um dos grandes desafios do setor lácteo no País é modernizar a coleta e o transporte do leite cru. Essa é uma realidade que já vem sendo estudada, graças a parceria entre o Sindicato da Indústria de Laticínios e Produtos Derivados do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), Embrapa Clima Temperado e Fundesa, que, junto, investem em um projeto de automação, lançado em dezembro do ano passado, em Capão do Leão, e iniciado, na prática, neste mês.
Em visita à Casa do JC na Expointer, o presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, contextualizou que o atraso no início da fase de teste ocorreu por conta de adequações jurídicas e burocráticas, necessárias para a disponibilização de verbas. O sistema favorece o controle do volume de leite coletado junto ao produtor e amplia o controle da rastreabilidade do produto, dois benefícios que se revertem em melhorias para o criador, a indústria e aos consumidores.
Com a utilização de um caminhão-tanque específico para uma coleta de leite mais qualificada e de softwares que registram dados do processo, é possível acelerar o prazo de captação do insumo e de geração de dados, sem a necessidade de intervenção do transportador na separação do material que irá para análise ou na mensuração da quantidade de leite entregue. "O segredo é ninguém mais botar a mão quando ocorre a coleta de amostras para os testes nos laboratórios oficiais".
Dessa forma, a quebra entre volume coletado e pago, um dos grandes problemas enfrentados atualmente pela indústria, pode ser corrigido. Como atualmente a medição é feita pelo transportador com o uso de uma régua que mede a quantidade diretamente no tanque do produtor, é comum que, na chegada à fábrica, o montante apurado não seja o mesmo do registrado inicialmente. Isso ocorre por diversas razões: pode ser desnível no solo em que está instalado o tanque, a quantidade de espuma se a medição for feita logo após a coleta ou outro erro humano.
Mas para os industriais do setor, essa distorção sai cara, porque o que será pago ao produtor é o valor anotado, e não o alcançado, de fato. Segundo Guerra, a estimativa é de uma quebra de 0,5 ponto percentual no volume entregue nos laticínios. A produção diária do Estado é de 13 milhões de litros de leite. Com isso, a quebra seria de 40 mil litros ao dia. Em um mês, a conta chega a 1 milhão. 
Só a correção nessa etapa já é benéfica para o setor, além de tornar a relação entre empresário e agricultor mais transparente. Em busca de alcançar esse benefício, já há empresas adquirindo os medidores de vazão, avaliados entre R$ 80 mil e R$ 130 mil (muitos são importados, por isso a variação de preços). Investir para equipar todo o processo, no entanto, sai bem mais caro: o tanque isotérmico, por exemplo, custa entre R$ 60 mil e R$ 70 mil, além do caminhão. O preço total do investimento pode alcançar R$ 200 mil.
"Depois dos experimentos e de comprovarmos que é eficaz, vamos trabalhar com o governo para desonerar a compra dos equipamentos", sustenta Guerra. O Sindilat também recomenda que, na medida do possível, o empresário invista no sistema, pois ele se paga ao longo do tempo, com a maior precisão na medição do volume coletado e redução na quebra, mas também fortalecendo os mecanismos de segurança da produção. "As amostras vão chegar ao laboratório da indústria rastreadas e com a segurança de que saiu de cada produtor." 
Presente em países com maior volume de produção por propriedade, sobretudo europeus, o sistema está sendo testado para que seja avaliada a viabilidade de adoção em uma cadeia que ainda precisa avançar na questão da produtividade, como é o caso brasileiro. A expectativa da entidade é que o processo se mostre viável, mesmo que seja com uma possível adaptação.

Indústrias gaúchas pedem cotas de importação para o Uruguai

A visita do ministro da Agricultura, Blairo Maggi, à 39ª Expointer abriu a oportunidade de apresentação de demandas do setor leiteiro gaúcho à pasta. O pedido feito pelo presidente do Sindilat, Alexandre Guerra, no sábado, foi para que o Brasil estabeleça cotas de importação para o leite em pó vindo do Uruguai.
Na ocasião, o dirigente defendeu que a pasta volte o olhar para a questão, já que o maior volume de importação do produto vem do país vizinho, que, diferentemente de outros países próximos, como a Argentina, não tem limite para venda no Brasil. "Nunca foi estabelecida uma cota para o Uruguai, porque o volume importado era baixo, o que já não era o caso da Argentina. Porém, diante da limitação à importação argentina, a quantia uruguaia aumentou", contextualiza Guerra.
A atividade leiteira vive de sazonalidades. Aqui, por exemplo, a produtividade é maior nos meses mais frios do ano: o volume produzido começa a se elevar entre abril e maio. Porém o período mais quente registra a queda na produção, começando a partir de meados de setembro em diante. Esse ciclo interfere diretamente na disponibilidade de produtos lácteos e também no preço cobrado. Por essa razão, há períodos em que o ingresso do leite em pó importado não é um grave problema; porém, em outros, pode ser um peso a mais para o produtor e a indústria, que precisam equalizar a situação no preço para se tornarem competitivos.
Entre julho e agosto, por exemplo, a produtividade local aumentou 20% em relação ao período imediatamente anterior. É mais produto para competir no mercado consumidor. A balança comercial exemplifica o desafio colocado aos produtores nacionais: a importação aumentou 70%, enquanto a exportação reduziu 30%. "A solução é criar uma cota de importação para o produto uruguaio, uma cota que possa ser flexibilizada."
Guerra saiu do encontro com Maggi com o compromisso de que a questão seria tratada ainda no fim de semana, já que, no domingo, o ministro se encontrou com o ministro da Agricultura do Uruguai, Tabare Aguerre, em encontro fechado. "Tenho certeza de que esse pedido vai avançar e de que as entidades representativas de outros estados brasileiros também apoiarão a medida", afirmou o presidente do Sindilat. 
Comentários CORRIGIR TEXTO