Reviver imóveis: exercício de consciência

Ainda que nem sempre ofereçam as facilidades da vida contemporânea, é possível adaptá-las

Por JC

Paço Santo Inácio, no bairro Moinhos de Vento, terá prédio moderno ao fundo
Edificações antigas preservam a história de pessoas e fazem parte do imaginário das cidades. Porto Alegre ainda mantém importantes exemplares - casas e prédios do passado - que carregam valores arquitetônicos e culturais.
Ainda que nem sempre ofereçam as facilidades da vida contemporânea, é possível adaptá-las. Restauro e retrofit aparecem como alternativas sustentáveis para a construção civil: reviver um imóvel pode ser ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável e interessante, pois revitalizar um imóvel evita novas construções, uma vez que aproveita e atualiza o que já existe.
Rômulo Plentz Giralt, arquiteto, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e conselheiro do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul (CAU-RS), anda pelas ruas atento aos prédios mais antigos. Seu trabalho de pesquisa está focado em eficiência energética e qualidade ambiental associada às edificações do passado.
E observa que muitos destes pequenos edifícios e grandes casas encontram-se desocupados ou deteriorados. "Nada pode ser mais correto do que reativá-las e trazer vida nova. As casas mais antigas preservam, além da própria arquitetura, materiais, habilidades e técnicas construtivas que já não são mais encontradas em novos empreendimentos."
Giralt comemora o interesse e a dedicação de algumas construtoras, em Porto Alegre, em dar nova destinação para tais imóveis. "Acho estas iniciativas fantásticas. Podemos, ainda, citar Jane Jacobs, maior crítica de urbanismo do mundo, quando ela diz que 'as janelas são os olhos da rua'", comenta, considerando a transformação da relação das pessoas com a rua por conta da revitalização das casas.
"O Plano Diretor tornou-se menos rígido e, agora, a edificação nova pode ficar lá atrás cumprindo seu papel. O Hotel Laghetto Viverone, no bairro Moinhos de Vento, dá um belo exemplo do que pode ser feito", comenta. A mansão da década de 1930, tombada pelo Patrimônio Histórico e que foi morada da família Micheletto, faz parte da estrutura do hotel. Ali, é possível encontrar serviços de recepção, bar e restaurante. "Revitalizar e incrementar é sustentabilidade. É importante a preocupação de incorporar com sensibilidade", comenta.
A tradicional mansão da família Bica, localizada no Moinhos de Vento, sempre despertou a curiosidade da vizinhança e de todos que ali passavam. Como seria viver lá dentro? A UMA Incorporadora, a partir do lançamento do Paço Santo Inácio, abre as portas da casa para comunidade. Projetada pelo arquiteto espanhol Fernando Corona, no início do século passado, a casa integrará o novo empreendimento da empresa, o Paço Santo Inácio. "Entendemos que toda essa riqueza transcende o uso individual. Quando começamos, há quase 10 anos, a cultivar ideias e vislumbrar este projeto, já pensávamos em preservar, restaurar e revitalizar o espaço. Tudo para dar vida a ela", comenta.
A casa abrigará um café bistrô, salas de reunião, auditório e um memorial com relatos sobre a história da casa, que também é um pouco da história do Moinhos de Vento", adianta Antônio Ulrich, diretor da UMA. O restauro acompanhará uma torre residencial, aos fundos, com apartamentos de metragem próxima a 80 m2. "Tivemos a felicidade de conseguir o terreno de trás, o que possibilitou esta realização. É uma casa que emociona as pessoas. Tudo aqui está bem conservado: o piso, a escada, os ornamentos do teto, as pinturas da parede. Eu acredito que preservação da história também é sustentabilidade", reconhece.

Histórias registradas

Inspirado pelos casarões da avenida Independência, o publicitário Pedro Goldsztein ao lado da equipe da TGD, decidiu ir atrás das histórias das casas antigas de Porto Alegre. E assim nasceu o projeto Preserva. A ideia é disponibilizar o conteúdo, produzido em pequenos vídeos, na página do projeto no Facebook (www.facebook.com/preservapoa) e, com a ajuda dos internautas, tentar reescrever o passado e suas curiosidades.
"Quando começamos a trabalhar com o restauro dos casarões da avenida Independência, que integram o próximo empreendimento da TGD, passamos a observar as casas de Porto Alegre com mais atenção. E sempre fazíamos aquela mesma pergunta: 'quem será que morava aqui?'. O projeto Preserva, da TGD, quer trazer essas respostas de maneira colaborativa", comenta Pedro Goldsztein, responsável pelo marketing da construtora.
Os três primeiros episódios mostram a casa do restaurante Puppi Baggio, construída a pedido do irmão de Getulio Vargas; a Casa Lutzenberger, projeto do arquiteto alemão Josef Lutzenberger e, depois, berço do movimento ambientalista. Hoje é a sede da empresa Vida, fundada pelo ecologista José Lutzenberger. "O último vídeo apresenta o casarão ocupado pelo Chicafundó, um bistrô muito simpático comandado por Elisa Prenna. Ficamos bem impressionados com o sucesso e o interesse das pessoas pelo tema: tivemos 5,6 mil visualizações na rede social. É um número bem expressivo para um projeto tão iniciante", empolga-se.