Potencial de transformação: financiamento coletivo chega à construção civil

Urbe.me é primeira plataforma de crowdfunding dedicada ao mercado imobiliário

Por JC

Criadores do Urbe.me, primeira plataforma de crowdfunding imobiliário do Brasil, com investimento a partir de R$ 1 mil
A Estátua da Liberdade é um presente da França ao país norte-americano por seu centenário em 1876. O artista francês Frédéric-Auguste Bartholdi fez a escultura, mas ela não tinha pedestal. Joseph Pulitzer, dono do New York World, convidou a comunidade a contribuir com algum dinheiro para finalizar o monumento em troca de reconhecimento no periódico e uma réplica em miniatura. Quando ainda nem se pensava em internet, já estava lançado o primeiro crowdfunding do mundo: em seis meses, foi arrecadado o dinheiro necessário.
O financiamento coletivo - também conhecido como "vaquinha" - é capaz de transformar realidades e oportunizar que ideias saiam do papel. E isso pode ser o pedestal da Estátua da Liberdade, mas também livros, filmes, pesquisa e até edificações. É nisto que aposta Paulo Deitos, um dos criadores do Urbe.me, primeira plataforma de crowdfunding dedicada ao mercado imobiliário.
Através do Urbe.me, o mundo dos negócios torna-se mais democrático. O site oportuniza que qualquer pessoa seja um investidor num dos segmentos mais sólidos e rentáveis do Brasil, a construção civil. A plataforma possibilita investimentos em empreendimentos imobiliários a partir de R$ 1 mil, aproximando as pessoas de um mercado que, até então, ficava restrito a grandes investidores. "O mercado imobiliário tem números de vendas sólidos, conhecidos e seguros. A pessoa que investe recebe um título de participação sobre as vendas e vai recebendo os rendimentos", comenta Deitos.
Ao iniciarem as vendas das unidades, os resultados serão apurados a cada três meses, e a participação de cada investidor será depositada na sua conta bancária. O investimento dura de 24 a 60 meses, dependendo do projeto, mas poderá ser finalizado antes, caso todas as unidades já tenham sido vendidas. "Tão importante quanto o retorno financeiro - uma vez que os rendimentos anuais são melhores que outras opções de investimentos - é a possibilidade de escolher os projetos que fazem sentido para a cidade: um edifício com uma fachada diferenciada, uma interação bacana com a rua, a experiência de carros compartilhados e lavandeira comum", reflete.
O primeiro empreendimento lançado pela plataforma, o edifício VN Cardoso de Melo, da Incorporadora Vitacon, em São Paulo, arrecadou R$ 1,279 milhão. O montante, fruto de investimentos de 144 pessoas, é a maior captação via crowdfunding do Brasil. Em Porto Alegre, o empreendimento Libres, da incorporadora Rotta Ely, é o primeiro da região Sul a levantar recursos via investimento coletivo.

Investimento imobiliário mundo afora

De acordo com as pesquisas de Paulo Deitos, nos Estados Unidos, plataforma semelhante já existe desde 2012. O Fundrise, criado pelos irmãos Dan Miller e Ben Miller, propõe facilitar o acesso de investidores a grandes empreendimentos comerciais. "Até pouco tempo atrás, era possível investir no 3 World Trade Center, terceira torre em reconstrução do complexo de Nova Iorque. O projeto, com previsão de término em 2018, custa US$ 2,49 bilhões e recebeu investimentos a partir de US$ 5mil, com estimativa de retorno anual de 5%", detalha.
Outro projeto de financiamento coletivo imobiliário é o BD Bacatá, empreendimento localizado em Bogotá, na Colômbia, que inclui apartamentos, escritórios, lojas e hotel. Ali está a mais alta torre da Colômbia, com 66 andares. "A companhia Prodigy Network iniciou a captação em 2009, e qualquer pessoa tinha oportunidade de investir em ações de US$ 20 mil, pagas em até dois anos. A construção do empreendimento foi financiada quase em sua totalidade pelo crowdfunding imobiliário, contando com cerca de 3.800 investidores. Em 2013, durante a construção, a companhia já tinha adquirido mais de US$ 170 milhões através do financiamento coletivo, e os investidores podiam comprar e vender ações, podendo elevar o valor destas em até 40%."

Intervenções na cidade

A revitalização do Quarto Distrito, em Porto Alegre, é uma das importantes pautas do urbanismo da Capital. A região, que dá conta dos bairros Floresta, São Geraldo, Navegantes, Humaitá e Farrapos, sofreu um processo de industrialização e, já faz alguns anos, quando as empresas que ali funcionavam mudaram de endereço, o bairro entrou em decadência.
Em Barcelona, uma história parecida: o antigo bairro operário Poblenou entrou em crise econômica e urbana nos anos 1970, após décadas de crescimento industrial. Em 2000, a prefeitura criou ali o 22@Barcelona, um distrito de inovação para atrair empresas na área de tecnologia da informação e da comunicação. Em Berlim, o Mitte, bairro do Centro que ficava no antigo lado oriental, tornou-se point de inovações criativas após a queda do Muro de Berlim. Hoje, é zona de turismo, que reúne todas as lojas bacanas de estilistas consagrados e hotéis.
"Existem bairros assim no mundo todo. É uma combinação de artes, educação, gastronomia e turismo. O bairro Floresta, de maneira muito natural, tem reunido as economias criativa, do conhecimento e da experiência", comenta Jorge Piqué, idealizador do Distrito Criativo, iniciativa da agência de inovação social UrbsNova Porto Alegre, que propõe a troca entre os empreendedores criativos da região para realização de ações que possam valorizar o entorno através da economia criativa, do conhecimento e da experiência.
Para Piqué, apesar de todos os esforços feitos para revitalizar o Quarto Distrito, a região ainda é uma aposta para o grande investidor. E, neste sentido, o crowdfunding presta-se como uma via para realização deste movimento.
Afinal, o crowdfunding é, assim como o Distrito Criativo, um movimento bottom-up (de baixo para cima), que se orienta em outro sentido: com contribuições de diversas pessoas. "Considerando que o financiamento coletivo torna risco menor, uma vez que é possível investir valores menores, pode ser uma alternativa, desde que algumas pessoas acreditem que essa será, no futuro, uma zona de inovação e criatividade", reconhece.