Para analistas, crise não acaba com impeachment

Queda de Dilma Rousseff encerra apenas um ato da turbulência

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Analistas especializados em Brasil na Europa consideram que, ao menos por ora, o impeachment não representa o final da crise política interna nem a retomada da atratividade econômica do País em relação a investidores estrangeiros. Para os experts, a queda de Dilma Rousseff encerra um ato da turbulência, mas não garante que o presidente Michel Temer conseguirá estabilizar o País nos próximos meses, em meio à Operação Lava Jato e às eleições.
Para François-Michel Le Tourneau, geógrafo do Instituto de Estudos da América Latina (Iheal), de Paris, a destituição de Dilma Rousseff representa também a derrocada do Partido dos Trabalhadores (PT), ao menos temporária. Por outro lado, não significa que Michel Temer comandará um governo estável. "O País está longe de ser estável. A capacidade de Temer de estabilizá-lo não é evidente, ainda mais no contexto da Operação Lava Jato, que ainda derrubará ministros e parlamentares", entende Le Tourneau. "Esse episódio chegou ao fim, mas a crise política não."
Para Juliette Dumont, professora de História especializada em Brasil e América Latina na Université Sorbonne Nouvelle-Paris 3, o Brasil vive uma ruptura em relação à ordem democrática estabelecida pela Constituição de 1988. "Há uma reflexão a se fazer sobre como funciona o sistema político brasileiro, o presidencialismo de coalizão, sobre a questão de o Congresso ter muitos partidos, mas uma representação bastante desconectada do povo brasileiro", afirma. Para Juliette Dumont, haverá questões também sobre o papel que o Brasil quer representar no cenário internacional. "A imagem do Brasil está muito abalada. O Brasil era tido como uma das maiores democracias do mundo, mas não sei se deu uma boa imagem de sua democracia", diz a pesquisadora.
Também no que diz respeito à credibilidade da economia do País, a instabilidade ainda não passou aos olhos dos europeus. Para o advogado Charles-Henry Chenut, conselheiro de Comércio Exterior da França, órgão de consulta do primeiro-ministro, Manuel Valls, "a destituição não muda nada no cenário brasileiro, marcado por uma classe política muito corrompida". "No que diz respeito aos investimentos diretos do exterior, em especial, de empresas e investidores franceses, eles permanecem estáveis. Mas não há novos atores chegando ao mercado brasileiro, porque o País não oferece perspectivas claras, e seu horizonte econômico ainda é muito sombrio", analisa o advogado, que atua na assessoria de empresas entre os dois países. "Observamos mais a Aliança do Pacífico, o México e a Colômbia, eventualmente também a Argentina, que intriga um pouco. O Brasil seduz menos, pelo menos por enquanto."

Entidades se manifestam sobre a decisão do Senado

Robson Andrade – Presidente da Confederação Nacional da Indústria

“Com o cenário político mais claro, é hora de alcançar consensos para decidir, com firmeza e determinação, o que precisa ser feito para deixarmos a crise no passado e retomarmos o crescimento econômico.” O dirigente defendeu que as reformas da Previdência e das leis trabalhistas sejam prioridades do governo de Michel Temer.

Sérgio Rial - presidente do Santander

“ É chegada a hora de se fazer um pacto pela retomada do crescimento econômico e da geração de empregos. Neste momento, duas palavras são fundamentais: tolerância, para reduzir a distância dos polos ideológicos, e urgência, para tomar as medidas necessárias para que o País saia da crise o mais rapidamente possível e de forma sustentável.”

Heitor Muller - Presidente da Federação das Indústrias do Estado

“Esperamos que o governo do presidente Temer adote medidas efetivas para a retomada do crescimento econômico. São medidas simples, mas de grande efeito, como a dinamização das exportações, uma política cambial ajustada, taxas de juros equilibradas, simplificação de procedimentos internos e adiamento da enorme carga regulatória que atinge as empresas.”

Simone Leite - Presidente da Federasul

“Agora o Brasil volta a crescer, gerar impostos, renda e movimentar a economia, num clima de tranquilidade e confiança. Esperamos do novo presidente, Michel Temer, um forte ajuste que devolva fôlego à classe produtiva, além das essenciais reformas tributária, previdenciária e trabalhista como condições necessárias para a economia voltar aos trilhos.”

Paulo Kruse - Presidente do Sindilojas Porto Alegre

“Neste dia importante para o Brasil, reforçamos nossa posição a favor do desenvolvimento do País e da adoção de novas posturas, não somente por parte dos políticos como também de toda a sociedade. O sindicato está otimista com o momento de mudanças que o Brasil enfrenta e com a perspectiva de retomar a economia brasileira. E mais do que nunca é hora de focar no crescimento do País e no seu desenvolvimento. “

Paulo Skaf - Presidente da Federação das Indústrias de São Paulo

"O processo terminou. Agora é hora de virar a página, deixar as diferenças para trás, arregaçar as mangas e, de braços dados, reconstruir o Brasil. O novo governo chega com um voto de confiança da nação. Mas deve, com a ajuda de todos, ser firme no esforço diário pela reconstrução do nosso Brasil.”