Desemprego atinge 11,8 milhões de pessoas

Resultado do trimestre encerrado em julho é o maior desde janeiro de 2012, quando se iniciou a pesquisa do IBGE

Por

Trabalhadores sem registro estão sem condições de atuar no momento
A fila de pessoas em busca de um emprego já tem 11,847 milhões brasileiros em todo o País. A taxa de desemprego voltou a bater recorde no trimestre encerrado em julho: 11,6%, o maior patamar registrado pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), série histórica iniciada em 2012. Os dados foram divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A massa de rendimentos dos trabalhadores que permanecem ocupados encolheu 4% no trimestre encerrado em julho, ante o mesmo período do ano anterior, o que alimenta o círculo vicioso do desemprego, alertou Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE. "Você tem menos pessoas gastando, consumindo. Consequentemente, o comércio vai ter menos saída, a indústria vai produzir menos, e você vai ter mais pessoas sendo mandadas embora", disse.
Após sucessivos cortes de vagas e redução no salário de trabalhadores ainda ocupados, a massa de renda em circulação na economia, de R$ 175,3 bilhões, regrediu ao mesmo patamar de maio de 2013. "A desaceleração da inflação é o primeiro passo para sair desse círculo vicioso", disse Mauricio Nakahodo, economista do MUFG (Mitsubishi UFJ Financial Group), dono do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ Brasil. Segundo ele, a redução no IPCA (a taxa oficial de inflação) acumulado em 12 meses "acabará contribuindo para uma estabilização no poder de compras das famílias". Até julho, o IPCA em 12 meses acumula alta de 8,74%. O banco estima que fique um pouco acima de 7,1% no ano.
Em julho, o setor privado eliminou 1,396 milhão de vagas com carteira assinada. "A carteira de trabalho tem o menor patamar desde o trimestre encerrado em julho de 2012", observou Azeredo.
Como consequência, aumentou o número de ocupados em atividades informais ou menos qualificadas, como o trabalho por conta própria (527 mil pessoas a mais no trimestre encerrado em julho em relação ao mesmo trimestre de 2015), trabalho sem carteira assinada no setor privado (95 mil pessoas a mais) e o trabalho doméstico (mais 126 mil pessoas).
Entretanto, na comparação com o trimestre anterior, encerrado em abril, houve redução expressiva no contingente de pessoas trabalhando por conta própria (342 mil a menos), compensada em parte pela elevação no total de trabalhadores informais no setor privado (mais 207 mil).
Segundo Azeredo, o resultado significa que muitos dos trabalhadores com carteira assinada que foram demitidos e passaram a trabalhar por conta própria tiveram de voltar à informalidade no setor privado ou ficaram sem ocupação depois que seus negócios "não vingaram". Com mais pessoas em busca de uma vaga, aumenta ainda mais a taxa de desemprego.
Por grupamentos de atividade, houve estabilidade na população ocupada em todos os grupos na comparação com o trimestre encerrado em abril deste ano. Já frente ao mesmo período de 2015, a estabilidade foi verificada no contingente de trabalhadores na agricultura, construção, comércio, alojamento e alimentação e outros serviços. A população ocupada na indústria caiu 10,6%, em serviços de informação a ocupação reduziu 9,8%, enquanto que tiveram alta os grupos de transporte e armazenagem (4,8%), administração pública (2,7%) e serviços domésticos (3,5%).
Na semana passada, o Ministério do Trabalho divulgou os dados sobre emprego com carteira em julho. O País fechou o mês passado com 94.724 postos de trabalho com carteira assinada a menos do que em junho, o 16º mês consecutivo de saldo líquido negativo do mercado formal. No mesmo período de 2015, foram eliminados 157.905 empregos com carteira assinada, o pior resultado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), iniciado em 1992.

Para economistas, situação só melhora em meados de 2017

Os sinais de que o pior momento da crise ficou para trás não chegaram ainda ao mercado de trabalho. Segundo economistas, o desemprego deve continuar crescendo até meados do ano que vem. Para Igor Velecico, economista do departamento de pesquisa do Bradesco, o ritmo de demissões no mercado deve ser menor no segundo semestre deste ano, mas a recuperação ainda vai demorar. "O mercado de trabalho reage com um a dois trimestres de defasagem a uma melhora na atividade econômica. Então só devemos ver uma queda da taxa de desemprego na metade de 2017", disse o economista.
O economista Daniel Silva, do Modal Asset, não faz projeção da taxa de desemprego para o próximo ano, mas também avalia que uma recuperação só ocorrerá em 2017. "O emprego é um dos últimos a reagir, porque, durante a recessão, a economia ganha uma margem de ociosidade, a jornada de trabalho é reduzida. Antes de recontratar, isso precisa ser preenchido", diz Silva.
Em relatório, o Itaú diz que a tendência de aumento da taxa de desemprego - que, pela série com ajuste sazonal, avançou pelo 20º mês consecutivo - deve continuar "à frente", já que a queda da economia ainda não teve "impacto completo" no mercado.
O pico do desemprego, segundo as projeções do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre-FGV), será atingido no começo de 2017, atingindo 12,8% da força de trabalho, e se estabilizando nesse patamar ao longo do ano. A recuperação só virá em 2018. Na opinião de Bruno Ottoni, pesquisador do Ibre, a situação é das piores já vistas na economia. "Os índices de confiança descolaram do desempenho da atividade, e o desemprego já atinge os salários mais altos. Entramos num ciclo vicioso que vai pressionar a taxa ainda mais e que traz um problema de longo prazo, porque já afetou o chefe da família, o jovem que não pode se preparar, porque precisa imediatamente de um emprego e, quanto mais tempo as pessoas demoram a se recolocar, mais dificuldades têm para conseguir um emprego", explica.