Golpe é diferente da Turquia, avalia Dilma

Enquanto no país europeu aconteceu ação 'tipicamente militar', no Brasil é 'parlamentar', diz petista a estudantes

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Dilma Rousseff analisa que 'nós vivemos um outro momento, temos uma outra circunstância' no País
A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) voltou a defender seu mandato ontem, durante evento na Universidade Federal de São Bernardo do Campo, no Grande ABC Paulista, e a classificar de golpe o seu afastamento da presidência da República.
Diante de uma plateia com quase 500 pessoas, formada por professores, alunos da universidade, presidentes de associações e sindicatos ligados ao ramo da Educação, Dilma iniciou seu discurso reforçando que o motivo do evento era discutir a democracia que permitiu ao Brasil a construção de uma política educacional, de ciência, tecnologia e inovação.
"Estamos aqui discutindo a democracia que permitiu no Brasil, com seus erros e acertos, a construção da política educacional, de ciência e tecnologia, e inovação", disse.
Ela fez questão de dizer que o Brasil atravessa um golpe. "Estamos vivendo um golpe de Estado diferente do que aconteceu na Turquia, que vive na região um problema de guerra. A Turquia sofreu um golpe tipicamente militar. É preciso que a gente raciocine sobre as diferenças entre nós e o golpe lá, porque um dos maiores argumentos dos golpistas é que nós não vivemos um golpe, porque não há armas e não existem tanques nas ruas", observou Dilma.
Na Turquia, de acordo com ela, há a tentativa de tirar o governo e, necessariamente, acabar com o regime democrático. "Nós vivemos um outro momento. Aqui, no Brasil, nós temos uma outra circunstância. Nós temos o golpe parlamentar, que alguns chamam de golpe frio; e outros, de golpe institucional. Mas se no golpe militar você tem o machado derrubando a árvore da democracia, no golpe parlamentar você tem as parasitas atacando a árvore. Isso é muito grave", comparou a presidente afastada.
Para Dilma, no Brasil, o "golpe" visa a assegurar "uma pauta que não foi e não será aprovada sem que passe pelo crivo do voto popular". Ela ainda acrescentou que, diante da crise, o governo tem um conflito distributivo, de definir para onde vai o dinheiro. Segundo Dilma, é uma "temeridade" achar que o dinheiro garantido para a população ou que políticas feitas são intocáveis.
Segundo Dilma, a disputa sobre o dinheiro público se dá em relação à ação do Estado como um processo de garantia de direitos individuais e coletivos como interferência na ordem econômica. Ainda de acordo com ela, por trás do "golpe" no Brasil, há uma ambição muito forte pelo parlamentarismo.
Dilma voltou a se defender das acusações de ter cometido crime de responsabilidade. "Isso já está ficando chato, porque não só o Senado, como a comissão de perícia que a Comissão do Impeachment nomeou, diz que não há crime de responsabilidade. E, na semana passada, o Ministério Público Federal disse que não se caracteriza irregularidade em pedaladas. Se for, todos os presidentes anteriores a mim serão responsabilizados", disse.
Dilma voltou a dizer que no orçamento público do governo interino de Michel Temer (PMDB) não há previsão de crescimento nos gastos com Saúde e Educação. Ela criticou o que o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, enumerou de planos A, B e C para a solução do problema fiscal. De acordo com ela, os planos do governo visam a cortar gastos, privatizar, mas não deixam claro de onde virá o aumento de arrecadação, porque não falam que terão de aumentar impostos.

Se voltar, petista afirmou tratar da relação entre inflação, juros altos e taxa de câmbio

A presidente afastada Dilma Rousseff (PT) disse ontem que, caso volte à presidência da República, seu governo irá tratar da relação entre inflação, juros altos e taxa de câmbio. Ela não detalhou como pretende fazer isso, apenas disse que "temos que tratar a relação no Brasil entre inflação, taxa de juro e taxa de câmbio. Temos que tratar essa tríade, porque em 2013 reduzimos a taxa de juros a seu menor valor em toda a história do Brasil e não conseguimos manter".
O menor patamar da taxa Selic foi registrado entre o final de 2012 e o início de 2013, quando o governo Dilma, por meio do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC), reduziu os juros a 7,25% ao ano. A medida foi duramente criticada pelo mercado, que viu na decisão uma porta de entrada para o galope inflacionário.
"Eu posso explicar em algum momento no futuro por que é difícil manter a taxa de juros nesse patamar e a redução dos spreads bancários sem haver, por parte da população, uma compreensão e um processo de desindexação", disse Dilma. Ela reconheceu que, depois de ter reduzido a Selic a seu menor patamar histórico, gerou-se no País uma "profunda" pressão inflacionária. "Não é possível a queda da taxa de juros com a inflação elevada. Nós vamos ter que encarar as duas coisas", disse.
No entanto, a presidente afastada refutou a tese de que a inflação no País resulta da decisão do governo de indexar o salário-mínimo à variação do PIB de dois anos atrás e à inflação do ano anterior.