Delatores depõem em ação contra Eduardo Cunha

Peemedebista é acusado de ter contas não declaradas na Suíça

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Brazilian suspended president of the Lower House Eduardo Cunha (C) leaves the Congress after resigning to the Lower House Presidency in Brasilia on July 7, 2016. Cunha, the Brazilian politician who spearheaded the drive to impeach suspended president Dilma Rousseff, resigned from his post as congressional speaker as a corruption probe closed in on him. / AFP PHOTO / AGENCIA BRASIL / JOSE CRUZ
O Supremo Tribunal Federal (STF) marcou os depoimentos de cinco delatores da Operação Lava Jato na ação penal em que o deputado federal afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) responde pelo recebimento de US$ 5 milhões de propina em contas não declaradas na Suíça. As testemunhas são de acusação e foram arroladas pelo Ministério Público Federal (MPF).
 
Conforme despacho assinado, na sexta-feira passada, por um juiz auxiliar do gabinete do ministro Teori Zavascki, no dia 1 de agosto, serão ouvidos, na Justiça Federal do Rio de Janeiro, o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró, o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa e o lobista Fernando Soares, conhecido como Fernando Baiano.
 
No dia 21 deste mês, o doleiro Alberto Youssef prestará depoimento na Justiça Federal em Curitiba. Outro delator, o empresário Júlio Gerin de Almeida Camargo, que acusou Cunha de receber propina, falará à Justiça Federal em São Paulo no dia 8 de agosto.
 
Com a exceção de Youssef, todos os delatores estão em prisão domiciliar em função das informações fornecidas à força-tarefa de investigadores da Lava Jato. Por terem assinado acordo de colaboração, os quatro delatores são obrigados a contar os fatos de que tiverem conhecimento e não podem ficar calados durante a oitiva.
 
No dia 22 de junho, o Supremo decidiu abrir a segunda ação penal contra Cunha, na qual o parlamentar é acusado de receber US$ 5 milhões de propina em um contrato de exploração da Petrobras no Benin, na África, e de ter contas não declaradas na Suíça.
 
A terceira denúncia contra o parlamentar foi protocolada pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, no mês passado. Cunha foi citado nos depoimentos de delação premiada de Fábio Cleto, ex-vice-presidente de Fundos de Governo. Segundo Cleto, o deputado recebia 80% da propina arrecadada entre empresas interessadas na liberação de verbas do Fundo de Investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS). Após a divulgação do conteúdo da delação, o ex-presidente da Câmara divulgou nota negando o recebimento de "vantagens indevidas".
 
 

Mensagem sugere lobby de Cunha em favor de empreiteiras na Câmara

A Polícia Federal encontrou nos celulares do empreiteiro Otávio Marques de Azevedo, da Andrade Gutierrez, que fechou acordo de delação premiada na Operação Lava Jato, diálogos que sugerem a atuação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) em favor de empreiteiras.
Em umas das mensagens, de abril de 2014, chamou a atenção dos investigadores o fato de Cunha confirmar a Azevedo que atendeu a uma demanda da construtora Odebrecht para modificar um trecho de um projeto de lei "em segredo". "Eduardo, estas modificações propostas pela CNO (segundo a PF, referência à Construtora Norberto Odebrecht) estão aceitas pelo governo e a Câmara?", questiona Azevedo em uma das mensagens. Em seguida, após listar os artigos em que pede modificações, o executivo continua: "Soube por eles: O ponto 1 estará alinhado entre o relator e a Fazenda, mas gostaria de assegurar que é isso mesmo".
Na resposta, Cunha confirma, mas diz que precisa manter a alteração em segredo. "Esse ponto 1 eu acertei, mas tem de ser em segredo. O segundo não."
O relatório da PF não deixa claro qual o projeto de lei que os dois discutiram, mas reforça as suspeitas levantadas pela Procuradoria-Geral da República, de que o peemedebista atuava em favor de empreiteiras no Congresso. Procurado, Cunha não respondeu até o fechamento desta edição.