'O afeto (com o negócio) pode ser o fiel da balança, mas não quer dizer vantagem competitiva, tampouco garantia de sucesso'

Empreendedores se dão bem em negócios que não conheciam


'O afeto (com o negócio) pode ser o fiel da balança, mas não quer dizer vantagem competitiva, tampouco garantia de sucesso'

O único ponto comercial na região do antigo Timbuca, no bairro Assunção, Zona Sul de Porto Alegre, é um salão de beleza. Criado pelo casal Tadeu Oliveira Junior, de 34 anos, e Gabriela Oliveira, 32, o espaço Happy Beauty é diferenciado por contar com área estética, café-bar, espaço kids para recreação e uma vista estonteante do Guaíba. Tudo isso pensado por uma dupla que nunca teve um negócio no ramo dos cortes e tinturas.
O único ponto comercial na região do antigo Timbuca, no bairro Assunção, Zona Sul de Porto Alegre, é um salão de beleza. Criado pelo casal Tadeu Oliveira Junior, de 34 anos, e Gabriela Oliveira, 32, o espaço Happy Beauty é diferenciado por contar com área estética, café-bar, espaço kids para recreação e uma vista estonteante do Guaíba. Tudo isso pensado por uma dupla que nunca teve um negócio no ramo dos cortes e tinturas.
Em frente ao cemitério Jardim da Paz, na Lomba do Pinheiro, Zona Leste da Capital, Rosemeire da Silva, 45, abriu uma floricultura. O provável seria apostar em produtos que homenageassem os mortos. Mas isso daria uma imagem mórbida à loja, interpreta ela, que foca as vendas em flores coloridas, vasos e no serviço de jardinagem. Rosemeire também jamais havia trabalhado no segmento paisagístico.
No Centro de Canoas, na Região Metropolitana, Sandro Dutra, 42, comemora os resultados da sua padaria. As vendas estão em alta. Os clientes, quando não lancham nas mesas do local, levam os pãezinhos frescos para casa - há uma parada de ônibus e uma estação de trem ao lado do estabelecimento, o que contribui para o movimento. Dutra, como já é possível prever, tem algo em comum com os empreendedores citados anteriormente: se aventurou em algo que não tinha intimidade.
As três experiências divergem do que repete a maioria dos especialistas: "antes de empreender, é preciso ter afinidade com o negócio". Exceções, no entanto, existem.
Junior, Gabriela, Rosemeire e Dutra estão aí para provar. "O afeto (com o negócio) pode ser o fiel da balança, mas não quer dizer vantagem competitiva, tampouco garantia de sucesso", reconhece Paulo Bruscato, gerente da regional metropolitana do Sebrae-RS.
No caso de Junior e Gabriela, o "fiel da balança" foi a experiência de ambos como consumidores. Antes de abrirem o Happy Beauty Zona Sul, em maio de 2015, eles passavam por transtornos na hora de se embelezar. Lucca, o filho do casal, que hoje tem cinco anos, não tinha com quem ficar. "Um de nós sempre tinha de cuidar dele para o outro cortar o cabelo", exemplifica Gabriela.
A necessidade fez a ocasião - ou melhor, o negócio. Ao perceberem a lacuna, decidiram investir no ramo da beleza. Estudaram o mercado e estruturaram o plano de negócios.
Quase três anos depois, Junior largou a operação que mantinha numa consultoria esportiva, e Gabriela saiu da clínica que trabalhava como psicóloga. Com um investimento de R$ 150 mil, entraram de cabeça no empreendedorismo.
As coisas não foram fáceis no começo. Um dos desafios era a desconfiança dos próprios funcionários.
"Por não virmos do setor, eles não acreditavam no conceito que a gente estava propondo", lembra Junior. À medida que os clientes chegavam e exaltavam os diferenciais do Happy Beauty, os funcionários se renderam.
"A gente não era do meio, mas era cliente - e sabia o que oferecer", garante ele.
A busca constante por inovação, segundo Junior, é a força motriz da operação. E mimar os que visitam o espaço também.
O agora empresário recebe os consumidores na rampa, oferta mantas para quem encara o frio na área externa do café e dá água quente para os chimarreiros que assistem ao pôr do sol na região.
O local também promove eventos, como sessões de filmes, teatro e festas de 15 anos. O resultado fica evidente nos números: a cada mês, o faturamento cresce 6%.

De assistente administrativa a dona de floricultura na Capital

Rosemeire da Silva era assistente administrativa de uma grande empresa de logística, em São Paulo, quando conheceu o ex-marido, Sérgio Tomaz. Ao emplacar o namoro, há 15 anos, eles decidiram viver em Porto Alegre. Quando procurou emprego, Rosemeire deu de cara com a realidade: enquanto em São Paulo ganhava o equivalente a três salários-mínimos, aqui receberia um terço disso.
Sem fechar as contas, Tomaz teve uma ideia. Já que ele trabalhava com vasos para plantas e jardins - e frequentava floriculturas para vendê-los -, por que não abrir uma floricultura só deles?
"Desconhecíamos o mercado, mas buscamos conhecimento", explica Rosemeire. "Conforme o tempo passou, pegamos gosto pela coisa."
Localizada em frente ao cemitério Jardim da Paz, a Cabana das Flores até atende quem frequenta o local. Mas seu maior lucro está nas áreas de decoração, jardinagem e paisagismo. "Por isso não exponho coroa de flores", justifica.
Para a analista e especialista em comportamento humano Jan de Oliveira, da escola de desenvolvimento Master Mind, "quem tem tino para os negócios desenvolve o comportamento empreendedor onde quer que atue". "Muitas vezes, a pessoa começa a se ver naquilo, e faz do negócio a sua menina dos olhos", acrescenta.
Dedicada, Rosemeire inaugurou recentemente um serviço de assinatura. São quatro recargas de flores mensais, cada uma com um arranjo diferente. Os pacotes (são três) custam de
R$ 150,00 a R$ 220,00 por mês. Outra novidade será lançada ainda em agosto: a loja virtual da Cabana das Flores.
 

A troca da moda pelo pão

Desde 2004, Sandro Dutra trabalhou com confecção de roupas em sua loja própria. E, apesar de gostar de "tomar café e comer um pão quentinho", nunca tinha acompanhado os bastidores administrativos de uma padaria. Isso, no entanto, não o impediu de abrir a Padaria Tomaselli, em Canoas.
A atividade no mercado de moda deixou lições. "Minha esposa (Rosilene Tomaselli) trabalhou por 15 anos na Lojas Renner e tinha experiência com o varejo. Vimos potencial na área", lembra. Com o passar dos anos, esse conhecimento não evitou o declínio de vendas até porque o segmento perdia espaço para os produtos importados. A Tomaselli surgiu como uma solução para esse contexto. Decidido, partiu em busca de imóveis, mas tinha dificuldade para encontrá-los. Ao se queixar para um amigo, ele lhe sugeriu que abrisse a padaria no ponto da própria loja.
Com a ajuda do Sebrae, Dutra estruturou o plano de negócios. "A consultoria me ajudou a ver processos que eu não tinha noção", elogia. Um dos entraves iniciais, ele lembra, foi a escolha do nome da empresa. Pensou muito até optar pelo sobrenome da esposa. "Não conheço um negócio com nome de gringo que tenha dado errado", brinca.
A Padaria Tomaselli opera desde abril de 2012, e cresce a despeito da crise. A alta é de 10% ao ano. "As pessoas deixam de comprar roupa, viajar, ir ao cinema, mas não de comprar café e pão", afirma.
"Até de almoçar as pessoas estão deixando. Tem gente que se satisfaz com um salgado e um refri."