Gastos de estrangeiros no Brasil recuam 9,8%

Em junho foram gastos US$ 402 milhões, segundo relatório do BC

Por Adriana Lampert

Jogos Olímpicos vão gerar grande fluxo somente no Rio de Janeiro
No mês de junho, os visitantes estrangeiros deixaram US$ 402 milhões no País, valor que corresponde a uma redução de 9,83% em relação ao mesmo período de 2015. De acordo com a Associação Brasileira de Turismo Receptivo Internacional (Brazilian Incoming Travel Organization - Bito), o resultado reflete também a queda de reservas em hotéis do período. "Julho, inclusive, deixou de ser alta temporada para quem conta com presença destes turistas", emenda o presidente da Bito, Salvador Saladino. Ele afirma que o trade receptivo internacional no Brasil vem se desenvolvendo negativamente em faturamento nos últimos dois anos. "A redução de visitantes estrangeiros é evidente e notável", lamenta o dirigente. O levantamento foi divulgado pelo Banco Central (BC).
A chegada de turistas de fora do País ocorre de forma sazonal, e este ano os dois primeiros meses foram bastante positivos no segmento de lazer, pondera o diretor de Estudos Econômicos e Pesquisas do Ministério do Turismo (MTur), José Francisco de Salles Lopes. "Além disso, apesar dos gastos ocorrerem em reais, transformamos o resultado em dólar - por isso, quando o câmbio está desfavorável, dá a impressão de que a redução do montante foi maior", avalia.
Conforme o relatório do BC, a entrada de capital estrangeiro no Brasil registrou crescimento de 7% nos seis primeiros meses do ano, frente ao primeiro semestre de 2015. Segundo o documento, o gasto dos turistas internacionais alcançou a marca de US$ 3,16 bilhões de janeiro a junho, quando no mesmo período do ano passado a receita foi de US$ 2,94 bilhões. Para Lopes, a expectativa é de que a abertura dos Jogos Olímpicos na próxima sexta-feira impulsione os gastos dos estrangeiros no País durante o mês de agosto. "Será uma oportunidade para visitantes de mais de 200 países descobrirem os nossos destinos e aproveitarem o que há de melhor nos serviços turísticos." Além disso, o Brasil terá maior visibilidade, uma vez que a mídia irá expor o País para um público de cerca de 5 bilhões de pessoas durante os jogos, comenta Lopes.
O diretor de pesquisas do Mtur afirma que, apesar da estimativa ser de incremento no ticket-médio desembolsado por visitantes internacionais no mês que se inicia, estes valores devem ficar concentrados no Rio de Janeiro. "Entendemos que o setor de turismo terá um movimento normal durante o mês de agosto nos demais destinos." Lopes completa que não se pode mensurar o volume de recursos que deverá ser injetado no período usando a Copa do Mundo como referência, até porque o evento das Olimpíadas é diferente em estrutura. "Em 2014, por exemplo, o Mundial contou com 12 cidades sedes", destaca.
Já o dirigente da Associação Brasileira de Turismo Receptivo Internacional confirma que a expectativa de crescimento é pontual. "São visitantes que virão especificamente para os jogos, sendo que 90% das reservas em hotéis foram feitas através do Comitê Olímpico Brasileiro", ressalta. Para o presidente da entidade, que representa agências receptivas e empresas de hospedagem, o resultado para operações do segmento será "pior que a Copa do Mundo". "Não vejo ganho para o turismo de lazer", observa, explicando que o público esportivo não costuma gastar em entretenimento com a mesma ênfase que visitantes em férias.
Saladino, inclusive, comenta que por conta do receptivo das Olimpíadas, o trabalho das agências do segmento foi prejudicado. "Desde o translado até os hotéis, as tarifas de preços duplicaram ou triplicaram, o que atrapalha as vendas das empresas."
 

Brasileiros também estão desembolsando menos no exterior

Apesar da procura por viagens internacionais ter crescido em 10% no primeiro semestre, em vista da queda do câmbio, os gastos dos brasileiros no exterior se mantêm tímidos. De acordo com o presidente da Associação Brasileira de Viagens, Edmar Bull, os consumidores estão viajando mais para lazer e menos para comprar. "Antigamente, as pessoas iam para Estados Unidos e Europa para fazer enxovais", comenta o dirigente. Mas, segundo ele, com a elevação do dólar em patamares muito altos este movimento se retraiu, e ainda não há registros de que tenha se revertido. "Sabemos por amostragens, que o foco dos brasileiros tem sido outro no exterior - a exemplo de preferência por experimentar a gastronomia local e passear pelos destinos."
Bull considera que o momento não é mesmo favorável para se comprar fora do País. "O preço do dólar permaneceu alto durante vários meses, e, considerando o aumento do desemprego no Brasil, e o cenário econômico ainda frágil, a queda dos gastos de brasileiros lá fora se justifica com naturalidade." O dirigente lembra que compras realizadas com cartão de crédito em destinos internacionais representam pagamento de IOF, bem como a conversão de acordo com a cotação do dia do vencimento. "Com tantas incertezas, melhor não arriscar."
Na opinião do diretor de Estudos Econômicos e Pesquisas do Ministério do Turismo (MTur), José Francisco de Salles Lopes, ainda assim quando comparados os gastos dos brasileiros no exterior, com os gastos dos estrangeiros no País, o saldo será sempre maior na economia internacional. "O ticket-médio de gastos dos consumidores do Brasil em qualquer lugar do mundo sempre é maior, porque ainda se gasta muito em compras", opina. "Turistas brasileiros e chineses costumam consumir mais que souvenir e artesanato, pois em geral gostam de presentear a família com produtos importados."