Camera aguarda para negociar com investidores

Empresa gaúcha espera pela homologação do plano de recuperação

Por Marina Schmidt

Alcantara cita mais de 70 parceiros interessados nas operações do grupo
Depois de obter a aprovação de mais de 84% do grupo de credores (que, juntos, representam 53,45% dos débitos), o Plano de Recuperação Judicial do Grupo Camera depende apenas da homologação judicial para ser executado. Só a partir da execução das propostas é que a companhia conseguirá dar andamento as estratégias que definiu para sua reestruturação.
A assessoria jurídica do grupo estima que a decisão judicial seja proferida em um período de tempo relativamente curto, entre 10 e 15 dias, ainda que não seja possível delimitar com precisão esse prazo. Esse será um passo importante no processo, que se desenrola há quase dois anos a Camera ingressou com o pedido de recuperação judicial em setembro de 2014 (deferido em outubro do mesmo ano) -, e marcará o início de negociações mais concretas com investidores.
O que o grupo tem no radar é estabelecer sociedade com parceiros interessados em investir nas operações da companhia. A Camera já entrou em contato com cerca de 70 investidores nacionais e internacionais, sinaliza Derci Alcantara, sócio da Peabirus Capital, empresa de fusões e aquisições voltadas para o agronegócio. Nesse grupo, há tanto os que manifestam interesse em integrar o quadro societário da companhia quanto os que pretendem apenas adquirir bens móveis e imóveis, que serão colocados à venda.
Cerca de 30% dos ativos da Camera serão negociados. No total, 13 estruturas em todo o Estado, que somadas devem gerar o ingresso de R$ 266 milhões aos cofres da empresa, montante que será utilizado integralmente no abatimento de parte da dívida. As primeiras unidades produtivas isoladas (UPIs) a serem vendidas ainda neste ano estão localizadas em Palmeira das Missões, Carajazinho, Vitória das Missões, São Valentim e Rio Pardo, e estão avaliadas em mais de R$ 22 milhões.
No ano que vem, outras cinco UPIs serão vendidas: Santo Ângelo, Cacequi, Estrela, Engenho São Borja e Armazém São Borja, avaliadas em R$ 109 milhões. Por, fim, em 2018, a intenção é vender outras três estruturas: Coronel Bicaco, Rosário do Sul e o Parque Industrial de Estrela, cotado em mais de R$ 110 mil. A companhia prevê que entre os preços calculados e a venda efetiva, possa alcançar, no mínimo, R$ 173 milhões com a comercialização de ativos.
Quanto aos investidores interessados em aportar recursos em troca de participação nos negócios da Camera, Alcantara exemplifica que há sinalizações positivas vindas até do Irã. O presidente do Conselho de Administração de um grupo que comanda 50 empresas iranianas visitou o País em duas ocasiões para conhecer a Camera e negociar com seus interlocutores. "Ele se manifestou muito interessado, mas aguardamos uma proposta concreta de intenção de negócios", sinaliza, acrescentando que o "Rio Grande do Sul está mais no mapa dos investidores do que estava no passado".

Pagamentos foram mantidos mesmo durante a crise

Com atualmente calculados em cerca de R$ 980 milhões (sendo que R$ 760 milhões são relativos a credores concursais), englobando a realidade das cinco empresas pertencentes ao grupo, a Camera aposta ainda nas próprias operações como saída. Ao longo do ano passado, o grupo alcançou receita operacional líquida de R$ 508 milhões. A perspectiva é de que neste ano, seja atingido R$ 750 milhões - somente no primeiro semestre deste ano, o desempenho foi de R$ 440 milhões.
Roberto Kist, diretor operacional da Camera, comenta que os cenários previstos pelo grupo no plano de recuperação judicial foram conservadores, levando em consideração o cenário econômico nacional. "O ano passado foi de revisão das operações, mas 2016 já está sendo de retomada, mesmo antes da homologação do plano", avalia. As projeções são de que o grupo volte a ter um faturamento bilionário a partir de 2017, quando deve conquistar R$ 1 bilhão.
No auge de suas atividades, antes da estiagem de 2012, a Camera tinha um faturamento de
R$ 2,5 bilhões e 1,8 mil funcionários. Hoje, são 550 colaboradores para conduzir 40% das operações do grupo, que pretende retomá-las aos poucos, aproveitando oportunidades de mercado, como é caso do biodiesel. O que sustenta a confiança da companhia na concretização da reestruturação é a parceria com fornecedores e, principalmente, com produtores. Mesmo diante das dificuldades que vem enfrentando nos últimos anos, a Camera manteve e mantém em dia o pagamento dos trabalhadores, produtores e tributos.
Agora, trabalhando com a perspectiva de que em breve o plano de recuperação será homologado, o grupo cogita até gerar empregos quando retomar algumas atividades, sobretudo na produção de biodiesel, segmento que pode gerar oportunidades no médio prazo. O desafio, neste momento, é obter a concordância judicial em relação aos tramites seguidos até aqui.