Pesquisa sobre desemprego na RMPA pode parar dia 1 de julho

Incerteza sobre o repasse de verbas pelo MTE já levou à demissão de 20 pessoas que fazem a coleta de dados

Por Patrícia Comunello

Nogueira teria assegurado o repasse dos recursos, mas o Estado estaria exigindo documento escrito
Os governos estadual e federal têm até esta quinta-feira (30) para evitar a interrupção da confecção da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) na Região Metropolitana de Porto Alegre (RMPA), coordenada por um pool de instituições e feita há 24 anos. A apuração abrange 34 municípios e é hoje a única em andamento específica para a RMPA para medir a situação do mercado de trabalho e gerar subsídios a políticas setoriais na área pública, principalmente.
A incerteza sobre o repasse de verbas pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) provoca a atual apreensão sobre o futuro da PED e já levou à demissão da equipe que coleta as informações todos meses. A pesquisa envolve R$ 1 milhão ao ano, com principal fonte recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Nesta quarta-feira (29), foram divulgados os dados de maio, que apontaram leve recuo do desemprego. Os entrevistadores chegaram a coletar os dados sobre junho, assegurando ao menos mais uma rodada da PED. 
A coordenadora nacional da PED pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Lúcia Garcia, afirmou que o aviso-prévio dos técnicos que fazem a coleta de dados na rua vence nesta quinta-feira (30). “Há expectativa de que, se tudo continuar como está, a pesquisa paralise nesta sexta-feira (1 de julho), depois de 24 anos sendo feita”, alertou Lúcia. Esta sexta-feira coincide com o começo da coleta para a pesquisa de julho.
A economista Virginia Donoso (à esquerda, na foto acima), também do Dieese, lembra que o IBGE encerrou a Pesquisa Mensal de Emprego (PME), que abrangia seis regiões metropolitanas, entre elas a da Capital gaúcha. O acompanhamento é feito agora por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad-Contínua).
“É uma amostra espalhada pelo Estado, que não tem como gerar dados específicos de mercado ou análises mais sofisticadas”, adverte Virginia. A PME foi interrompida após 36 anos sendo realizada. No site do instituto, o IBGE explica que a substituição visa a “atender a demanda de seus usuários por informações conjunturais sobre a força de trabalho com abrangência nacional”.
A economista do Dieese cita que a PED permite conhecer, por exemplo, dados sobre mercado de trabalho de jovens, idosos, mulheres, negros e emprego doméstico.

À espera de um documento do MTE

A aposta é que as diversas gestões políticas junto à Fundação Gaúcha de Trabalho e Ação Social (FGTAS) e ministério possam dar resultado. As conversas e encontros têm sido intensas desde a semana passado, quando o risco de interrupção circulou em redes sociais e grupos de discussão.
Um trunfo é o fato do atual titular da pasta ser o deputado federal gaúcho Ronaldo Nogueira de Oliveira (PTB), que dirigiu a FGTAS durante o governo de Yeda Crusius (PSDB), de 2008 a 2010. No fim da tarde dessa terça-feira (28), o diretor-presidente interino da fundação, Gilberto Baldasso, reuniu-se com Nogueira em Brasília.
O Estado estaria aguardando uma posição formal de Nogueira, que já se manifestou em conversas com os órgãos que não haverá problemas de repasse para manter a PED. “Mas precisamos de uma formalização, pois o governo estadual exige a garantia sobre o financiamento”, diz Lúcia. “Acreditamos na sensibilidade do ministro e na palavra dele.”
Apenas no Rio Grande do Sul há este impasse. Lúcia lembra que a Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) sofreu abalo em 2014, véspera da eleição estadual. Convênio com o Dieese não foi renovado pelo então governador Antonio Anastasia (PSDB, hoje senador), a pesquisa foi interrompida e somente agora deve ser retomada, explicou Lúcia. “Mas ficará um vazio de dados que não foram levantados por quase dois anos, isso não é possível recuperar”, lamentou.