Economia encolhe 0,3% de janeiro a março

Agropecuária, indústria e serviços caíram na comparação com o trimestre anterior e em relação ao mesmo período de 2015

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Campo foi o único setor que apresentou menor recuo na análise trimestral e sobre o ano passado
A economia brasileira encolheu 0,3% no primeiro trimestre na comparação com os três últimos meses do ano passado. Este é o quinto resultado trimestral negativo seguido, mas melhor do que o recuo de 0,8% esperado pelo mercado financeiro. Em relação a igual período do ano anterior, a queda foi bem mais intensa, de 5,4% - oitavo tombo consecutivo nesta comparação. Já o resultado acumulado em 12 meses registrou variação negativa de 4,7%. Este é o pior resultado acumulado em quatro trimestres desde o início da série histórica do IBGE, em 1996. Em valores correntes, o PIB ficou em R$ 1,47 trilhão nos primeiros três meses.
O resultado frente ao trimestre anterior veio melhor do que as expectativas dos analistas. As projeções do mercado financeiro eram de retração de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB). Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, explicou que a manutenção das condições da conjuntura econômica justifica, em parte, a queda de 0,3% do PIB.
"Na verdade, a conjuntura está muito parecida comparando o primeiro com o quarto trimestre. Algumas taxas vieram melhores, mas, em termos do desempenho da economia, está bem parecido e não tem grandes mudanças. Na agropecuária, a taxa piorou; na indústria, ficou parecida, só melhorou um pouquinho; os serviços melhoraram um pouco por comércio e transportes. Na avaliação do IBGE, ainda não é possível dizer que o resultado indica uma melhora do desempenho da economia, apesar da queda menos intensa na comparação com o quarto trimestre, já que, na comparação com o mesmo período do ano anterior, o tombo ainda é intenso, de 5,4%. "Melhora, por enquanto, não houve, porque, na margem (frente ao trimestre anterior), continuou negativa", explicou Rebeca.
Pela ótica da oferta, agropecuária, indústria e serviços tiveram recuo tanto na comparação com o trimestre imediatamente anterior quanto em relação ao mesmo período de 2015. A atividade agropecuária registrou, respectivamente, queda de 0,3% e 3,7%; a indústria recuou 1,2% e 7,3%; e os serviços, 0,2% e 3,7%. Apesar da queda de 7,3% da indústria, frente ao primeiro trimestre do ano passado, os serviços responderam pela maior contribuição para a queda do PIB, nessa base de comparação. Isso ocorre porque o setor de serviços tem peso de 72% na economia, contra apenas 22,7% da contribuição da indústria.
A queda de 3,7% da agropecuária, registrada frente ao primeiro trimestre, foi influenciada principalmente pela baixa da produtividade da safra da soja, cuja produção é 60% concentrada no primeiro trimestre. A expectativa de produção até cresceu, em 1,3%, mas menos que o registrado no ano passado, quando houve aumento de 12%. Além disso, houve perda de produtividade, já que a área plantada subiu 3,1%, mais que a expectativa de produção. "O principal motivo foram fatores climáticos", explicou Claudia Dionísio, gerente de Contas Nacionais Trimestrais do IBGE.
Pelo lado da demanda, que corresponde à soma de tudo o que é gasto, houve recuo da Força Bruta de Capital Fixo (FBCF), que indica o nível de investimentos, e do consumo das famílias nas duas comparações. A FBCF encolheu 2,7% em relação ao último trimestre do ano passado e 17,5% em um ano. Já o consumo das famílias caiu 1,7% na passagem de trimestre e 6,3% em um ano. O consumo do governo cresceu 1,1% em relação ao trimestre anterior, mas, em relação a um ano, caiu 1,4%.
 

Exportação contribuiu positivamente, diz IBGE

O menor ritmo da atividade econômica e a desvalorização do real permitiram que o setor externo contribuísse para amenizar a queda do PIB no primeiro trimestre deste ano. As dados divulgados pelo IBGE nesta quarta-feira.
As exportações de bens e serviços tiveram crescimento de 6,5% nos três primeiros meses deste ano na comparação com o período imediatamente anterior. Já as importações de bens e serviços recuaram 5,6% em relação ao quatro trimestre do ano passado.
Segundo a gerente da Coordenação de Contas Nacionais do IBGE, Claudia Dionísio, a desvalorização cambial e a menor atividade doméstica permitiram que o setor externo voltasse a contribuir positivamente para o resultado PIB neste primeiro trimestre.
"Contribuição positiva do setor externo vem ocorrendo desde o primeiro trimestre de 2015. Neste primeiro trimestre agora a contribuição positiva aumentou. Isso tem a ver com a desvalorização cambial e a atividade interna mais fraca, o que faz com que parte da produção seja escoada para o mercado externo", disse.

Dado evidencia pequena mudança nos rumos das finanças do País

"Crescimento do gasto público não reativou a economia e ainda deixou a herança maldita do déficit de R$ 170 bilhões", afirma presidente da Fiesp, sobre o resultado do PIB. Segundo o dirigente, o desempenho negativo da economia brasileira no primeiro trimestre evidencia que os estragos do governo anterior não pararam de aumentar. O investimento caiu 2,7%, em sua décima queda consecutiva. O consumo das famílias, em baixa há 5 semestres seguidos, recuou 1,7%. Ou seja, até março passado, empresas e famílias continuavam contendo seus gastos e investimentos devido à falta de confiança.
Em meio a todos os recuos, o consumo do governo aumentou: 1,1%, a maior alta dos últimos 10 trimestres. "Esses dados comprovam que o crescimento do gasto público não reativou a economia e ainda deixou a herança maldita do déficit de R$ 170 bilhões", afirmou.
O presidente do conselho de administração da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Rafael Cervone Netto, afirmou que a contração do PIB mostra pequena mudança do que está ocorrendo no País e que o setor acompanha. Segundo ele, a crise que o Brasil vive é econômica, mas sobretudo de confiança no governo de Dilma Rousseff. "O cenário macroeconômico ainda está hostil, decorrente da falta de confiança de todos da sociedade na política, de que o governo anterior pudesse criar uma solução que pudesse reverter esse momento", disse.
Com os resultados apresentados ontem, o Brasil teve o pior desempenho da economia no período entre 31 países pesquisados pela consultoria Austin Rating. De acordo com o levantamento, o País ficou na última colocação, atrás de países como Rússia, Grécia e Ucrânia. O indicador sinaliza que o Brasil encerrará o segundo ano em recessão, com queda de 3,81%.
Na avaliação do professor de economia do Insper João Luiz Mascolo, os números do PIB do primeiro trimestre dão a entender que o pior para a economia brasileira já passou. "Obviamente que os números ainda são muito ruins, o estrago foi maior do que qualquer um imaginava, mas não se deve esperar uma queda maior do que essa de 5,4% na comparação anual (no primeiro trimestre). A questão é que ainda há muita incerteza política pela frente", comentou.