Produtores têm de lidar com os desafios

Carlos Sperotto fala sobre os reflexos das dificuldades econômicas e da instabilidade política no agronegócio

Por JC

Carlos Sperotto ressalta tecnologia acima da média do setor
O presidente da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul), Carlos Sperotto, fala sobre os reflexos das dificuldades econômicas e da instabilidade política no agronegócio.
Jornal do Comércio - Como o cenário de incerteza política está afetando o agronegócio no Brasil? E no Rio Grande do Sul?
Carlos Sperotto - Há diversas formas de impacto e a primeira delas é na instabilidade no câmbio. Tanto na formação do custo de produção, pelo fato de sermos importadores de matéria-prima, quanto na venda de produtos a taxa de câmbio é determinante para os preços que pagamos e recebemos, pois operamos em um mercado global de matérias-primas e de produtos agropecuários. Depois que plantamos, levamos quase seis meses para colher e a variação na taxa de câmbio torna o negócio ainda mais incerto. Isso leva a uma retração dos investimentos ainda maior.
JC - Quais os desafios para exportar mais e terminar o ano com saldo positivo?
Sperotto - O primeiro é colher. Devido ao El Niño tivemos muitas perdas nas lavouras irrigadas, nas de arroz e nas de sequeiro. O segundo é escoar a produção das propriedades em estradas de chão batido que em pleno século XXI ainda são intransitáveis, especialmente quando chove. É um festival de caminhões atolados e tombados, gerando perdas de produto, qualidade e principalmente tempo e competitividade. Quando finalmente conseguimos tirar das estradas vicinais não encontramos estradas federais e estaduais em condições muito melhores. Além do mais, faltam-nos hidrovias e ferrovias para chegarmos ao porto com escala e custo mais baixo. Estamos aumentando nossa produção, gerando PIB, empregos e impostos. Entretanto, a infraestrutura não avança nem a passos lentos, quanto menos na velocidade do agronegócio.
JC - Quais os diferenciais da agricultura no Rio Grande do Sul?
Sperotto - Em relação aos demais estados temos pontos positivos e negativos. O fato de termos maior produtividade do que a média do Brasil, mesmo com um clima mais instável, mostra que temos tecnologia acima da média. Entretanto, somos o estado mais ao Sul, exigindo maior custo e tempo de frete para chegarmos aos principais mercados brasileiros. Outro ponto negativo é a infraestrutura bem pior do que a média, devido a dificuldade de conceder serviços para iniciativa privada maior que a média brasileira. Estamos com as finanças públicas em condições muito difíceis, mas ainda esperamos que o Estado oferte aquilo que precisamos, apesar de não ter condições de fazê-lo e com a iniciativa privada pronta para ajudar.
JC - Qual o segmento que absorve e utiliza com melhor eficiência a tecnologia disponível?
Sperotto - Sem dúvida é o agronegócio. Expodireto e Expointer são feiras, em essência, de inovação e tecnologia, seja de genética ou de máquinas. É uma pena que apesar de sermos altamente demandante de tecnologia, a maior produção de informação vem de fora, pois nossa pesquisa brasileira, sobretudo nas universidades, ainda não despertaram para a importância do agronegócio como demandante de inovação e tecnologia.