Governo tenta estender operação da Tractebel

Empresa decidiu encerrar usina de Charqueadas a partir de agosto

Por Jefferson Klein

Termelétrica emprega hoje cerca de 2.400 trabalhadores indiretos
Um pouco mais de tempo para buscar opções que atenuem as demissões que serão consequência do fim da operação da termelétrica a carvão de Charqueadas é a sugestão que será apresentada pelo governo do Estado à Tractebel Energia. Na sexta-feira, a companhia, através de nota distribuída à imprensa, comunicou que resolveu desativar em 31 de agosto o empreendimento, que gera energia há 54 anos. O motivo alegado foi a obsolescência técnica dos equipamentos e baixa eficiência.
O secretário de Minas e Energia, Lucas Redecker, admite que ficou surpreso com a decisão. Inclusive porque, na terça-feira da semana passada, houve uma reunião em Brasília que contou com representantes da empresa, Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Ministério de Minas e Energia, deputados e senadores para discutir o assunto. Na ocasião, foi feita a proposta, que seria apresentada ao Conselho de Administração da Tractebel, para que se mantivesse a usina em atividade pelo menos até o fim de 2017.
Redecker adianta que um novo encontro será realizado na capital federal, na segunda quinzena de maio, e a tentativa do governo gaúcho será no sentido de convencer a Tractebel a seguir com as operações, no mínimo, até o final deste ano. "Sabemos que uma empresa privada tem liberdade de ação, mas também acreditamos que tem uma responsabilidade social", defende o secretário.
O presidente do Sindicato dos Mineiros do Rio Grande do Sul, Oniro Camilo, rotulou como uma "surpresa desagradável" a informação do fechamento da usina. O dirigente ressalta que, além da falta que fará para a segurança do setor elétrico, a interrupção criará um sério problema de desemprego na região, que já vem sofrendo com as demissões de pessoal realizadas por outras empresas como, por exemplo, a Gerdau. Conforme a Tractebel, de forma direta, a térmica gera 72 empregos. No entanto, Camilo enfatiza que indiretamente, ao longo da cadeia (extração do carvão, transporte etc.), o número de trabalhadores envolvidos com a atividade da estrutura chega a cerca de 2,4 mil.
Questionado sobre para onde essa mão de obra poderia ser deslocada, o presidente do sindicato é pessimista. "Não tem, na região não tem", alerta. Para Camilo, a Tractebel não demonstrou grande interesse em manter a usina de Charqueadas funcionando. "Desde que surgiu a possibilidade de a empresa produzir energia lá na fronteira (a Tractebel está construindo uma termelétrica a carvão em Candiota), ela abriu mão da região, ela estava simplesmente empurrando com a barriga", sustenta o dirigente.

Companhia afirma ser inviável economicamente modernização do empreendimento

No comunicado repassado pela Tractebel Energia, o diretor-presidente do grupo, Manoel Zaroni, informa que a empresa até pensou em realizar adaptações e levantou custos para modernizar a planta de Charqueadas, o que se mostrou inviável economicamente, principalmente pelo preço do combustível. O executivo acrescenta que as limitações da usina não são ambientais, pois o complexo cumpre adequadamente com o que está previsto na licença ambiental. "Nossas restrições são de final de vida útil dos equipamentos, pois alguns deles já estão alcançando a marca de 300 mil horas de operação", detalha.
O consumo normal de carvão da termelétrica é de 28.886 toneladas ao mês e a companhia tem estoque suficiente para operar até agosto. Atualmente, a unidade tem uma capacidade instalada de 36 MW (cerca de 1% da demanda média de energia do Rio Grande do Sul). Em fevereiro deste ano, houve a redução da capacidade da estrutura (inicialmente era de 72 MW) para enquadrar o complexo nos critérios de eficiência da Resolução Normativa nº 500 da Aneel e assim não perder o subsídio da Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). Segundo dados da Tractebel, a eficiência média líquida da usina é hoje de 18,6%, sendo que as regras de eficiência da CDE exigem 30%. Com a diminuição da potência da térmica para 36 MW, a exigência mudou para 25%, mesmo assim, de acordo com a companhia, é um número muito alto.
A Tractebel enfatiza que foram realizados muitos esforços para manter a usina operando. "Em 2013, já sabedores da resolução que alteraria os reembolsos da CDE, iniciamos ações de engenharia para dimensionar e levantar os investimentos necessários para uma nova planta de 80 MW, a carvão, no mesmo lugar, aproveitando parte dos equipamentos", diz Zaroni.
Porém, os diferentes estudos demonstraram que uma outra planta não teria retorno financeiro em 25 anos, que é o tempo utilizado para amortização desses investimentos no setor elétrico. Apesar de afirmar ter analisado a possibilidade da implantação de uma nova térmica, a nota divulgada pela companhia também frisa que "o fechamento da usina está alinhado com a estratégia do grupo controlador da Tractebel Energia de descarbonizar sua matriz de geração de energia".