Corte de supérfluos também chega às feiras

Em busca de economia, gaúchos alteram hábitos de compras de alimentos e só levam para casa o essencial

Por Nicole Feijó

Mudança mais significativa está na escolha dos produtos, constata Diana
Desde o final do ano passado, os supermercados gaúchos já sentiam os reflexos da crise financeira e a mudança de comportamento do consumidor. Agora, não é mais só neste setor que as compras diminuíram de volume e alguns produtos foram colocados de lado. O princípio da primeira necessidade vale também para os frequentadores das feiras livres: o movimento não mudou, mas os gastos, sim.
A mudança mais significativa está nas escolhas dos consumidores. Os comerciantes continuam vendendo os produtos de primeira necessidade, mas o que é dispensável sai da lista de compras. A feirante Diana Kilpp observa essa tendência. Segundo ela, as pessoas continuam comprando legumes e frutas. "Isso não mudou. O que deixam de lado é o supérfluo."
Segundo avaliação dos dirigentes das associações das feiras de Porto Alegre, a venda em comparação aos supermercados está aumentando. Eles garantem que alguns produtos chegam a ser 30% mais baratos e que os preços dos feirantes estão mais competitivos. Essa conclusão é baseada na venda dos produtos que caracterizam as feiras, ou seja, as frutas e as verduras.
Antonio Bertaco, diretor de divisão de fomento à agropecuária da Secretaria Municipal de Indústria e Comércio (Smic), afirma que a avaliação considera esses os produtos "carros-chefes". Segundo ele, os supérfluos não entram nesse parecer. "Esses itens não representam a finalidade da feira, que é a comercialização de produtos agropecuários in natura."
A dica do Movimento das Donas de Casa e Consumidores é pesquisar e substituir produtos. "Não consumir os produtos de valor mais elevado pode forçar a modificação de preço", acrescenta o presidente da instituição, Cláudio Pires Ferreira, ao destacar que a alta é generalizada e leva o consumidor a abrir mão de algumas compras.
Apesar de possuírem mais opções para driblar a crise e conquistar o consumidor, os supermercados gaúchos registram queda de 1,91% em 2015, segundo dados da Associação Gaúcha de Supermercados (Agas). Os pequenos e grandes supermercados sofrem mais, os médios apresentam melhor desempenho devido à proximidade das pessoas. Antonio Longo, presidente da Agas, relata que o consumidor está indo mais vezes às lojas e não excluiu totalmente os produtos supérfluos do seu orçamento. "As pessoas estão intercalando esses itens em suas listas de compra; continuam comprando o chocolate, mas em uma periodicidade maior", exemplifica.
Longo afirma que as empresas não estão repassando a necessidade total de aumento em razão da perda de poder aquisitivo do consumidor e indica que não é mais inflação, e sim recessão econômica. Para o dirigente, o consumidor está mais criterioso e exigente, fazendo valer o seu dinheiro.

Severina Schneider, frequentadora da feira, conta que considera o preço muito melhor. Mesmo com a crise, ela afirma: “Comprar a gente tem que comprar né”. Apesar da mudança no comportamento dos clientes, nem todos reduziram os gastos. Eugenio Oliveira conta que não mudou muito as compras: “lá em casa na comida a gente não mexe”. Ele vai à feira toda semana. Questionado sobre o porquê da preferência, ele explica que o local é mais barato, prático e no caminho que utiliza no dia a dia.

Felipe Barbosa vende frutas no Mercadão do Produtor da avenida Érico Veríssimo, no bairro Medianeira, em Porto Alegre, e nota que os clientes não deixam de frequentar o local, mas carregam menos sacolas.

Carlos Augusto Schaidhauer e a esposa, Ana Lúcia, sentiram a diferença nas vendas e compara com aquelas que fazia há 30 anos: “Vendíamos 70 dúzias de rabanete no sábado e 80 no domingo. Hoje, quando dá bom, vendemos 20 nos dois dias”, lamenta Schaidhauer.

Junior Silva, responsável por uma banca de doces, conta que se baseia no faturamento das outros comerciantes para saber como está o movimento. "Se a venda deles, que é o primeiro produto, está fraca, a minha vai cair. Eles (os clientes) compram tudo primeiro, depois, com o que sobrar de dinheiro, vêm nos doces”, constata.