Redução do uso de térmicas reflete no mercado de gás

Segundo a Abegás, consumo por usinas de energia elétrica recuou

Por Jefferson Klein

Rede de gás natural passa por melhorias na Zona Sul de Porto Alegre
A diminuição da geração termelétrica, devido ao refreamento da economia e à maior oferta de hidroeletricidade, tem proporcionado um alívio na conta de luz dos brasileiros. Entretanto, esse cenário causa impacto em outro setor da economia: o mercado de gás natural. Em fevereiro deste ano, segundo dados da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), foram consumidos 67,13 milhões de metros cúbicos/dia do insumo ante 68 milhões de metros cúbicos/dia em janeiro. A queda ainda é maior se comparada a fevereiro de 2015 (78,23 milhões de metros cúbicos/dia).
O gerente de Planejamento Estratégico da Abegás, Marcelo Mendonça, destaca que já é percebida a redução do despacho termelétrico (o consumo de gás natural nesse segmento caiu 9,4% em fevereiro frente a janeiro e 30,1% na comparação com fevereiro do ano passado). O dirigente reforça que esse era um panorama previsto devido à recuperação dos reservatórios hidrelétricos e à diminuição do consumo de eletricidade, causada pela retração da economia. Em contrapartida, os dados de fevereiro apontam um crescimento do consumo de gás natural no País em quatro segmentos: automotivo, residencial, comercial e cogeração (produção combinada de calor e eletricidade). "Então, é positiva a recuperação dos demais mercados", complementa Mendonça.
Na área automotiva, o uso de Gás Natural Veicular (GNV) aumentou em todas as regiões do País em fevereiro, subindo 5% em relação a janeiro. A cogeração teve alta de 8,9% na comparação com janeiro deste ano e de 7,9% frente a fevereiro de 2015. Os segmentos residencial e comercial registraram os percentuais mais expressivos. No residencial, o consumo teve uma elevação de 28,6% em fevereiro ante janeiro e de 30,2% em relação ao mesmo período do ano anterior. Já o comercial verificou alta de 16,3% frente a janeiro e 10% na comparação com o mesmo mês em 2015. Mendonça enfatiza que os mercados residencial e comercial deverão continuar apresentando bons resultados em função de investimentos que as distribuidoras vêm realizando na captação de novos clientes.
No que se refere ao GNV, a previsão é também de expansão, porque há uma recuperação do número de conversões de veículos para o aproveitamento desse combustível. Segundo o gerente da Abegás, no primeiro trimestre deste ano, em relação à média do ano passado, houve um incremento na ordem de 25% das conversões.

Inatividade da usina AES Uruguaiana vai diminuir a comercialização da Sulgás no Estado

Como nas demais regiões do País, o fato de não ser necessário um enorme despacho térmico para satisfazer a demanda por energia faz com que a estimativa sobre as vendas de gás natural no Estado para este ano seja de queda em relação a 2015. No caso da distribuidora gaúcha Sulgás, o impacto será sentido porque a usina AES Uruguaiana não deverá entrar em operação em 2016.
Se for levada em conta apenas a expectativa quanto aos outros clientes (indústrias, residências, comércio etc.), a tendência é de um pequeno incremento, na ordem de 2% a 3%, projeta o presidente da estatal, Claudemir Bragagnolo. A classe que deve sair dessa linha é a residencial, que, provavelmente, terá um crescimento superior a 20%.
No ano passado, o volume médio comercializado de gás natural pela Sulgás subiu 22,3%, em relação a 2014. Apesar das dificuldades da economia, a distribuição de gás natural atingiu o recorde de 2.439.240 metros cúbicos/dia (resultado muito favorecido pelo fornecimento para a AES Uruguaiana), em 2015. Em março de 2016, o número já não era tão expressivo: cerca de 1,93 milhão de metros cúbicos diários. No entanto, é um desempenho 5,4% superior ao de fevereiro. Bragagnolo ressalta que a empresa está otimista quanto ao futuro e adianta que a companhia está revendo o plano de negócios previsto para este ano, para abranger uma região maior, expandindo a malha de gasodutos e atendendo a mais municípios. O replanejamento deve ser concluído até junho.
Inicialmente, a meta era agregar mais 90 quilômetros somente em 2016 na rede de gasodutos e aportar R$ 42 milhões. O presidente da Sulgás afirma que o aporte será superior, mas o montante específico dependerá do reposicionamento estratégico da concessionária. "Vamos investir muito na grande Porto Alegre, na Serra e em municípios que não alcançamos ainda", salienta o dirigente. A expansão da distribuidora beneficiará, principalmente, os mercados residencial, comercial e de GNV, pois, devido a um limite de oferta de gás natural no Estado, não é possível abastecer a mais consumidores termelétricos ou a uma vasta quantidade de indústrias. Na Capital, a empresa realiza obras para atender ao mercado residencial nos bairros Petrópolis, Santa Cecília e Menino Deus, além de melhorias na rede na Zona Sul.
De acordo com o gerente de Planejamento Estratégico da Abegás, Marcelo Mendonça, foram realizados estudos que apontam a necessidade de aumento de oferta de gás natural no Estado para atender à demanda local. Atualmente, a única fonte de alimentação do Rio Grande do Sul é o gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol), restringido a uma capacidade de 2,5 milhões a 2,8 milhões de metros cúbicos diários de gás. Entre as opções para ampliar a disponibilidade do produto no Sul do País estão a expansão do próprio Gasbol, a construção de um gasoduto a partir de Uruguaiana e a implantação de um terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) na cidade de Rio Grande. Esse último projeto ainda não teve as obras iniciadas, mas teve o desenvolvimento do complexo anunciado pelo grupo gaúcho Bolognesi.
Mesmo com essa limitação, Mendonça esclarece que o mercado residencial, particularmente, por representar pouco consumo, pode continuar sendo expandido sem a necessidade de investimentos robustos na infraestrutura de fornecimento de gás natural. Porém, uma maior oferta é fundamental para outros clientes, como é o caso dos industriais.