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Presidente do BC descarta redução de juros
Tombini acredita que inflação ficará mais controlada, com condições econômicas ajudando no controle de preços
O presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, listou razões para que a inflação fique mais controlada em 2016, mas descartou redução da taxa de juros. "Após uma inflação elevada no mês de janeiro, causada principalmente pelo aumento significativo dos alimentos 'in natura' e de transporte, o mês de fevereiro representou o início do declínio da inflação acumulada em 12 meses", disse no evento Macro Vision, organizado pelo Itaú BBA em São Paulo.
Tombini ressaltou que a evolução da inflação em 2015 foi mais marcante em função de ajustes de preços relativos, especialmente dos administrados, e da variação do câmbio. "No que diz respeito ao ajuste monetário, a inflação em 2015 foi intensa e negativamente afetada pelo fortalecimento do dólar norte-americano e pelo realinhamento dos preços administrados em relação aos preços livres da nossa economia", ponderou.
Para o presidente do BC, essa mudança nos preços relativos se mostrou "mais prolongada e mais profunda" que a inicialmente prevista, perdurando durante todo o ano de 2015, mas não se limitando a ele. Ele destacou o processo de recomposição de receitas tributárias observado nos níveis federal e estadual no início deste ano, "o que nos levou aos patamares de inflação observados recentemente e repercutiu sobre o horizonte de convergência da inflação para a meta".
Segundo sua perspectiva, o IPCA estará no centro da meta de 4,5% ao ano em 2017. Um dos fatores citados por Tombini foi a expectativa de maior convergência entre preços livres e administrados neste ano, após o ajuste dos preços controlados. Em 2015, o governo liberou reajuste da gasolina e implantou as bandeiras tarifárias para compensar o uso das termelétricas, mais caras. Para este ano, Tombini espera comportamento "moderado" para os preços.
O presidente do Banco Central avaliou ainda que as condições econômicas atuais também ajudam no processo de desinflação. Com a crise econômica, o desemprego maior e a renda em queda diminuem a demanda.
O câmbio também deve contribuir para a "trajetória declinante" da inflação em 2016, porque a depreciação é menor e também porque há menor espaço para repassar o custo dos importados para os preços. O presidente do BC elencou uma série de benefícios trazidos pela valorização cambial, atribuída por ele ao regime flutuante da moeda, à economia. Entre os pontos positivos, ele citou ganhos de produtividade, aumento das exportações e substituição de itens importados pelos produzidos aqui.
Apesar dos fatores listados para arrefecimento da inflação, Tombini refutou uma redução na taxa básica de juros da economia ao dizer que o cenário não "nos permite trabalhar com a hipótese de flexibilização das condições monetárias". Ele citou que a taxa elevada recente e os mecanismos de indexação da economia dificultam o afrouxamento monetário.
Embora tenha admitido que o Brasil passa por um momento "desafiador", o presidente do BC mostrou otimismo com a situação atual, a qual classificou de "transitória". Por várias vezes durante seu discurso, de 20 minutos, ele salientou a importância de a economia nacional sofrer ajustes, sobretudo o fiscal. "O ajuste fiscal é crucial. É imprescindível. É o caminho para a retomada da confiança", destacou.
O presidente do BC, que viu o auditório se esvaziar enquanto falava, terminou seu discurso lembrando que "há muito o que fazer para recuperar a confiança da sociedade na economia".
Ministro da Fazenda diz que governo precisa focar reformas estruturais
O ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, ressaltou, nesta quinta-feira, em discurso durante o evento promovido pelo Itaú BBA, que o governo precisa focar reformas estruturais. Ele apontou que o governo foi criticado por propor determinadas reformas neste momento, já que elas não têm impactos fiscais imediatos e serão difíceis de aprovar em meio ao ambiente político conturbado.
Mesmo assim, Barbosa explicou que as reformas passam uma sinalização positiva para os agentes econômicos. "A sinalização de que o Estado tem controle sobre as despesas já se reflete em juro e câmbio", afirmou. Segundo ele, o governo avalia combinar metas de resultado primário com limites para os gastos públicos já no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) para o período de 2017 a 2019. Mesmo assim, reconheceu que o debate sobre a reforma da previdência, por exemplo, tem sido prejudicado pelo atual momento político.
Barbosa comentou ainda que o governo se inspirou em exemplos de outros países na proposta de criar um limite para os gastos públicos. Ele mencionou o caso dos Estados Unidos, onde uma das medidas punitivas quando se extrapola os limites é o chamado "sequestro" de recursos do governo. "Combinar estabilização fiscal e creditícia com medidas estruturais deu certo em outros países", comentou. "Controlando gastos, evitamos a saída de criar receitas fictícias nos projetos orçamentários", acrescentou.
Ele também reconheceu que, no passado, o governo "desperdiçou tempo" promovendo somente soluções de curto prazo. "Precisamos de medidas de estabilização e estruturais, para que a estabilização não seja desperdiçada."
Entre os poucos pontos positivos da economia atualmente, Barbosa comentou que a inflação está desacelerando que as contas externas estão melhorando mais rápido do que todos previam, mas reconheceu que isso não será suficiente para tirar a economia da recessão.
O ministro disse que, no campo político, os discursos estão cada vez mais polarizados, com tons "beirando o religioso e messiânico". "Devemos evitar as guerras econômicas entre a Igreja da Microeconomia do Corte de Gastos e a Igreja da Ressurreição Keynesiana de estímulo de demanda", apontou.
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco afirmou, durante o mesmo evento promovido pelo Itaú BBA, que a autoridade monetária sozinha não vai conseguir resolver o problema da inflação, e, nesse contexto, é melhor o BC "não fazer muita marola". "A política monetária perdeu a eficácia e não dá para o BC ser herói se o resto do time está jogando contra", comentou.
Falando sobre a recente melhora nas projeções de inflação para este ano na pesquisa Focus, Franco foi bastante cético. "Se a inflação começou a ceder nas últimas semanas, não é porque as pessoas estão percebendo uma situação melhor, é porque nós temos a pior recessão da história. Esse tipo de queda da inflação não é confiável, porque, se no futuro a economia se recupera, a inflação volta", afirmou.
Em painel realizado logo após a fala de Nelson Barbosa, o ex-presidente do Banco Central criticou fortemente o governo, que, na sua opinião, é o maior responsável pela atual crise. "Parece uma tentativa de ganhar o Prêmio Nobel de Economia fazendo tudo errado, com desarrumação fiscal, uma política de compadres nas estatais", afirmou.
Barbosa cancela participação em reunião do FMI
A crise política no Brasil levou o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, a cancelar sua participação na reunião de primavera do Fundo Monetário Internacional (FMI), que ocorre na próxima semana em Washington. O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, estará no encontro.
Barbosa tem um papel fundamental na defesa da presidente Dilma Rousseff no processo de impeachment que tramita na Câmara dos Deputados. A prática de crimes de responsabilidade fiscal é a principal acusação do pedido de afastamento da presidente.
Na semana passada, Barbosa falou à comissão que analisa a solicitação de impeachment para refutar as acusações. "No ano passado, o governo fez o maior contingenciamento da história. Não há que se falar de flexibilidade fiscal, de irregularidade fiscal ou de crime de responsabilidade fiscal no momento em que o governo fez o maior contingenciamento da história", disse na ocasião.