Dólar alcança a menor cotação desde novembro

Moeda cai para R$ 3,7379 com cenário político e leilão do BC

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Noticiário desfavorável ao Planalto afetou a divisa norte-americana
O dólar andou na contramão da tendência internacional e fechou em queda de 1,47% ante o real ontem, a R$ 3,7379 no mercado à vista, menor cotação desde 24 de novembro de 2015. A queda ocorreu a despeito da aversão ao risco que predominou no mercado externo, fazendo o dólar subir frente à maioria das divisas de países emergentes. Dois fatores contribuíram para esse descolamento: o noticiário político desfavorável ao governo e leilões de linha cambial (venda de dólares com compromisso de recompra) anunciados para amanhã pelo Banco Central.
O dólar chegou a subir pontualmente nos primeiros minutos de negociação, mas inverteu a tendência ainda na primeira meia hora. Pesaram notícias como a condenação do empresário Marcelo Odebrecht a 19 anos e quatro meses de prisão e as especulações de que os donos da Odebrecht e da OAS negociam delação premiada, no âmbito da Operação Lava Jato. Além disso, a cúpula do PMDB no Senado dá sinais de divisão, com alguns integrantes reavaliando a posição de apoio, por entender que a situação do governo vem se agravando nos últimos dias. O noticiário contou ainda com informação de que a empreiteira OAS pagou por uma palestra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Chile antes da formalização do contrato.
As notícias reacenderam a percepção de que são crescentes as chances de saída de Dilma Rousseff do governo, o que agrada grande parcela dos investidores, que apostam na ruptura como forma de destravar os nós da economia do País. Com isso, o dólar sustentou a tendência de queda mesmo com o cenário internacional adverso. Entre as notícias negativas estiveram o resultado fraco da balança comercial chinesa e a nova queda dos preços do petróleo, alimentada pela falta de consenso entre os países produtores.
À tarde, o Banco Central anunciou que realizará amanhã dois leilões de linha (venda com compromisso de recompra), no montante de até US$ 2 bilhões. A instituição informou apenas que se trata de dinheiro novo no mercado, e não rolagem, como já havia anunciado para os meses de fevereiro e março.
No entanto, a ação do BC teve como objetivo administrar a liquidez do mercado, uma vez que há interesse por parte de alguns investidores de deixar o Brasil. Para isso, eles precisam de uma contraparte das instituições financeiras para liquidarem suas posições. O anúncio da realização dos leilões confirma rumores que circularam no mercado na última semana, de que o BC consultava bancos dealers para avaliar a necessidade da oferta de linha.

Com pregão instável, Ibovespa fecha em queda de 0,29%

Assim como na segunda-feira, a Bovespa teve um pregão bastante instável em um dia de forte noticiário político. Entre a mínima (-0,81%) e a máxima ( 1,36%), o Ibovespa oscilou mais de 1.000 pontos nesta terça-feira. Depois de altos e baixos, o principal indicador da bolsa fechou em leve queda de 0,29% aos 49.102 pontos, interrompendo uma sequência de seis altas.
"O dia começou com especulações sobre a possibilidade de Marcelo Odebrecht aceitar uma delação premiada", afirmou o analista da Clear Corretora, Raphael Figueredo. Além da condenação a 19 anos e quatro meses de prisão de Odebrecht, os sinais de ruptura do PMDB com o governo estão entre os principais fatos do dia. A leitura de boa parte de analistas é que os últimos acontecimentos aumentam as chances de uma mudança no comando do País.
A terça-feira foi mais um dia de forte giro financeiro, quase o dobro da média diária de fevereiro deste ano e de março de 2015. O volume chegou a
R$ 11,468 bilhões. Uma boa parte desse giro, na avaliação do chefe de análise da Planner Corretora, Mario Roberto Mariante, vem do capital estrangeiro.
O destaque de queda na bolsa foi a Vale. Após subir dois dígitos na segunda-feira diante da valorização extraordinária do minério de ferro ( 19,5%), ontem a mineradora foi uma das maiores quedas na carteira Ibovespa. A ON caiu 14,51%, e a PNA, -12,05%. O setor siderúrgico - leia-se CSN, Usiminas, Gerdau e Bradespar, acionista da mineradora - acompanhou e caiu em peso. Na avaliação de Figueredo, um fato que pesou contra o setor foi o resultado ruim da balança comercial chinesa.