Porto Alegre terá mais um ano de contingenciamento de gastos

Governo municipal apresentará medidas para equilibrar frustração de receitas em março

Por Guilherme Daroit

Numer inicialmente descarta parcelamento de salários dos servidores
Ainda comemorando a obtenção de resultado orçamentário positivo pelo segundo ano consecutivo em 2015, a prefeitura de Porto Alegre já antevê dificuldades para evitar que a maré mude em 2016. Uma comissão formada pelas pastas da Fazenda, Gestão e Planejamento Estratégico estuda cortes de despesas e mecanismos de aumento nas receitas para reequilibrar as contas, que devem ser divulgadas apenas em março. Segundo o secretário em exercício da Fazenda, Eroni Numer, a elevação de impostos está descartada. "São iniciativas de aumento da eficiência, e não de alíquotas", garantiu, recusando-se a entrar em detalhes.
As afirmações foram feitas durante a apresentação do balanço das contas públicas para a Comissão de Economia, Finanças, Orçamento e do Mercosul (Cefor) da Câmara, na qual Numer confirmou, com pequenas variações, os resultados apresentados pelo prefeito José Fortunati em janeiro. O principal deles, um superávit de R$ 231,286 milhões nas contas municipais em 2015.
Questionado pelo vereador Guilherme Socias Villela (PP) sobre a possibilidade de parcelamento dos salários do funcionalismo, levantada por Fortunati nos últimos dias, Numer praticamente descartou a necessidade. "Não posso afirmar que o risco é zero, mas acredito que ainda temos mecanismos para evitar que isso aconteça", comentou o secretário, referindo-se às ações de contingenciamento estudadas pelo comitê. A postergação de investimentos previstos também foi elencada como uma das saídas, ainda que com a garantia de que os limites constitucionais para áreas fundamentais, como saúde e educação, continuarão sendo cumpridos.
O principal motivo para o novo contingenciamento, segundo Numer, é a frustração nas receitas anteriormente previstas, em virtude, principalmente, da piora nos indicadores macroeconômicos desde o envio da proposta de orçamento pelo Executivo, em outubro passado. "O orçamento foi enviado com previsão de PIB pela Focus de -0,4%, e hoje já está em -3,4%, e pode ser ainda pior. Se não houver reversão na lógica, corremos risco de um resultado negativo", afirmou o secretário em exercício por conta das férias do titular, Jorge Tonetto.
Apenas nos repasses do ICMS de janeiro, o rombo chegou a R$ 10 milhões. Segundo Numer, sozinha, a atualização do índice dos repasses, que diminuiu em 6,6% a cota da Capital, representa uma frustração de R$ 48 milhões para 2016, o que anula os possíveis ganhos com o aumento da alíquota pelo governo estadual.
Numer ainda ressaltou a capacidade de endividamento da Capital. Mesmo com um crescimento de 61,69% na dívida consolidada líquida, que fechou 2015 em R$ 825,478 milhões, os débitos representam apenas 16,76% da receita corrente líquida (RCL), que fechou em R$ 4,924 bilhões (queda de 2,76%). O limite máximo de endividamento para municípios é de 120% da RCL. "Temos capacidade bem grande em potencial, que, claro, não pode avançar sem avaliar os efeitos no caixa", comentou.
O secretário projetou para abril o início dos repasses de financiamento de US$ 92 milhões com a Corporação Andina de Fomento (CAF), destinados a obras de infraestrutura viária e também à revitalização da Orla do Guaíba. Outro empréstimo, de US$ 80 milhões junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), também deve ter os recursos liberados durante o ano. Eles serão alocados em melhorias físicas e em equipamentos das escolas municipais. Ambos não afetarão o caixa em 2016, já que contam com períodos de carência para o início dos pagamentos.

Superávit em 2015 foi puxado por novo regime previdenciário

Mesmo tendo fechado as contas no azul pelo segundo ano consecutivo, o secretário em exercício da Fazenda de Porto Alegre, Eroni Numer, relativiza a empolgação. O motivo é que o superávit de
R$ 231,286 milhões não representa, efetivamente, dinheiro nos cofres. Um dos lastros do resultado positivo, por exemplo, foi o desempenho do novo regime previdenciário dos municipários, com lucro de R$ 244,1 milhões. O desempenho se justifica pelo fato de que, embora receba contribuições, praticamente inexistem aposentados no sistema. "É um recurso indisponível para outros gastos que não as aposentadorias futuras."
O secretário, porém, comemorou o fechamento do ano com equilíbrio contábil. "Tivemos que tomar medidas rígidas, e não prestamos alguns serviços como gostaríamos, mas foi necessário pela frustração nas receitas", argumentou, citando que 75% das cidades gaúchas não conseguiram repetir o feito. Medidas como o aerolevantamento para recadastramento de imóveis, que atualizou a base do IPTU, e a consolidação da Nota Fiscal Eletrônica foram apontadas como responsáveis pelo aumento das receitas sem aumento de alíquotas.
Graças a isso, ainda que, corrigidas pela inflação, as arrecadações dos três principais impostos próprios tenham caído, a Capital se saiu melhor do que outras capitais. "São Paulo teve queda de 5,8% nos serviços, enquanto Salvador passou de 8%", comparou Numer. Em Porto Alegre, a receita com o ISS caiu 2,2% em 2015. A queda do ITBI, de 10,7%, foi justificada pela estagnação do mercado imobiliário, e a do IPTU, de 4,4%, pelo aumento do prazo de pagamento, que empurrou as quitações para o início deste ano.