Porto Alegre encerra segundo ano com superávit nas contas

Gestão de custeio e novas fontes amenizaram impacto da crise no ano passado

Por Patrícia Comunello

Fortunati classificou gestão como 'algo absolutamente invejável'
Não teve choradeira na divulgação das principais contas de Porto Alegre em 2015. O prefeito da Capital, José Fortunati, admitiu, nessa quinta-feira, que o município nadou contra a maré de dificuldades de prefeituras, Estado e até da União, que vive o auge do ajuste fiscal. O caixa municipal fechou o ano passado no azul, com saldo de R$ 232,562 milhões, considerando despesas versus receitas orçamentárias, e em R$ 64,8 milhões no resultado primário (antes de juros), 27,4% acima do ano anterior. Em 2014, a conta orçamentária havia ficado um pouco maior, em R$ 269,3 milhões (13,7% a mais), e o primário menor, em R$ 50,9 milhões. A receita realizada somou R$ 5,6 bilhões, ao lado de uma despesa empenhada de R$ 5,4 bilhões.
Foi o segundo ano consecutivo de desempenho positivo. Em 2012 e 2013, a prefeitura havia ostentado dois resultados orçamentários negativos seguidos. O secretário Municipal da Fazenda, Jorge Tonetto, lembrou que a continuidade de resultados positivos é fundamental para manter a nota de menor risco para pleitear empréstimos. O secretário atribuiu a uma leitura correta da conjuntura econômica e preparação interna o desempenho. Também ajudou a entrada em vigorda nota fiscal eletrônica e programa de refinanciamento de dívidas de empresas devedoras. "A gente sabia que ia ser difícil, mas não imaginamos que seria tanto", admitiu o gestor das finanças. A prefeitura não pode repetir três anos de queda. Tonetto disse que buscará o terceiro ano no azul, em 2016, afastando eventuais descontroles. Portanto, o rigor sobre gastos vai continuar.
Em 2015, o investimento somou R$ 276,9 milhões (empenhado) e R$ 223,8 milhões (liquidado, quando é pago). A cifra, que é a menor desde 2010, foi justificada pelos gestores pelo término de obras que estava no elenco da Copa do Mundo de 2014. Para 2016, há duas operações em negociação - US$ 92 milhões com a Corporação Andina de Fomento (CAF) e US$ 80,2 milhões com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), para a área de Educação (construção e reforma de escolas e novas ferramentas de ensino). Tonetto disse que espera ter contratado até abril um valor de R$ 172 milhões. Com isso, o secretário assegura o gasto de recursos que não ficarão impedidos pelo calendário da lei eleitoral do pleito municipal. Há restrições a partir de seis meses para o primeiro turno, que será em 2 de outubro.

Prefeito da Capital elogia atuação com pulso firme do secretariado

O prefeito José Fortunati distribuiu elogios aos secretários que compõem o comitê de gestão, que levaram com pulso firme a execução. "Algo absolutamente invejável", afirmou, citando que mais de 70% dos municípios do Brasil fecharam o ano no vermelho. "Saldamos todas as contas em fim de 2015", garantiu o gestor, citando que está antecipando faturas em janeiro. A arrecadação ficou um pouco prejudicada pela baixa atividade. As receitas próprias cresceram 4,3%, de transferências da União (4,9%) e do Estado (2,5%). O IPTU teve alta de 4,3%, mas o ITBI caiu 2,5%. O ISS subiu 6,6%. Para 2016, o caixa municipal não contará com arrecadação das atividades de economia criativa situada na região do Quarto Distrito, que passam a ser isentas.
Na execução, a receita ficou 1,9% acima da de 2014, enquanto as despesas empenhadas, em 2,7%. O desempenho é maior se forem desconsideradas na conta das chamadas receitas extraordinárias. Foram R$ 232,3 milhões, sendo R$ 100 milhões com a venda da folha de salários do funcionalismo para a Caixa (licitação entre bancos públicos e com contrato de cinco anos) e R$ 132,3 milhões arrecadados no leilão de índices construtivos. Em 2015, não teve mais a receita da folha e a venda de índices somou pouco mais de R$ 30 milhões. Na área de pessoal, houve alta de 7,5% nas despesas, que mantém o gasto em 45% da receita corrente líquida. Com maior inflação em 2015, a recomposição pode pesar mais. Tonetto aposta que vai ocorrer um arrefecimento da taxa até abril.
O secretário municipal de Gestão, Urbano Schmitt, informou que tem reunião com o governo federal para concluir as autorizações do empréstimo da CAF, além de condições de pagamento. A meta é contratar até abril. Os US$ 92 milhões serão aplicados entre informatização, revitalização da orla do Guaíba, Usina do Gasômetro e áreas do Centro Histórico, além de mobilidade. Sobre o metrô da Capital, Schmitt disse que o processo está ainda na fase de análise das Propostas de Manifestação Interesse (PMI), que deve ser concluída até o fim do primeiro semestre. Depois será feita a proposta de engenharia financeira para abrir licitação. Segundo o secretário de Gestão, os recursos federais (R$1,7 bilhão) estão assegurados e a incerteza é sobre o R$ 1 bilhão do Estado.