Nissan vai investir R$ 750 mi em SUV no Brasil

Modelo projetado para este ano é o Kicks, que será fabricado em Resende, no Rio, para se tornar um veículo global

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Ghosn aposta no dinamismo do segmento dos crossovers compactos
Apesar das perspectivas pouco animadoras para o mercado automotivo nacional neste ano e das dúvidas de seu principal executivo sobre uma recuperação em 2017, a Nissan anunciou, na semana passada, um plano de investimento de R$ 750 milhões até 2018 para avançar no segmento de utilitários esportivos (SUVs, na sigla em inglês) - um dos poucos que cresceram em meio à recessão.
O projeto é lançar, ainda neste ano, o Nissan Kicks, que será produzido na fábrica de Resende (RJ), no lado fluminense do Vale do Paraíba. O novo plano de investimento representa uma redução em relação aos R$ 2,6 bilhões de 2011 a 2015, que incluíam a construção da fábrica, inaugurada em 2014. Com o novo veículo, a montadora japonesa prevê adicionar 600 empregos à atual equipe de 1,5 mil funcionários.
O anúncio pode parecer um contrassenso diante do cenário atual do mercado automobilístico brasileiro. No ano passado, até novembro, a produção nacional amargava queda de 22,3% em relação a igual período de 2014, segundo dados da Anfavea, entidade que representa os fabricantes. Na mesma comparação, as vendas tombaram 25,2%. Nas projeções da consultoria Tendências, haverá nova queda, de 17%, nas vendas em 2016 e ligeira alta (de 1,3%) em 2017.
Segundo o presidente mundial da Renault Nissan, o brasileiro Carlos Ghosn, a Anfavea estima nova queda na produção em 2016, de 5%, mas o próprio executivo duvida que seja só isso. "Eu, pessoalmente, acho um pouco otimista. Se o mercado contrair 5%, seria uma boa notícia", afirmou Ghosn. A entidade que representa as montadoras informou, depois, que espera, para este ano, nova queda de 7,5% nas vendas.
"Seria uma enorme surpresa se o mercado voltasse a crescer em 2016 ou mesmo em 2017", completou o executivo. Segundo o presidente da Nissan, o investimento da montadora não é um contrassenso, porque a crise passou longe do segmento de utilitários esportivos e do que o mercado chama de "crossovers compactos".
São carros de passeio espaçosos, com porta-malas grandes, que podem ser usados tanto na cidade quanto em estradas de terra, pois costumam apresentar versões com tração nas quatro rodas. "É um segmento dinâmico no Brasil e na América Latina. Mesmo com as condições desafiadoras de hoje, o segmento cresceu 20% no mercado brasileiro em 2015 em comparação com 2014. Brasileiros gostam de carros versáteis, com alta qualidade", afirmou Carlos Ghosn.
Antes dominado pelo Ford EcoSport, o segmento ganhou concorrência do Honda HR-V, do Peugeot 2008 e do Jeep Renegade, primeiro veículo produzido na nova fábrica da Fiat Chrysler em Pernambuco, que se tornou sucesso de vendas.
Para este ano, além do Nissan Kicks, o mercado brasileiro está aguardando os lançamentos da picape média Fiat Toro e do Renault Captur. Em julho do ano passado, a chinesa Chery anunciou investimento de R$ 400 milhões para a produção do SUV Tiggo 5.
O Kicks da Nissan já havia sido apresentado como um carro-conceito em salões de automóveis em São Paulo e Buenos Aires. Na semana passada, Ghosn explicou que a companhia japonesa estudou o mercado brasileiro e que o projeto é tornar o modelo um carro global, começando pelo Brasil e por outros mercados da América Latina.
Segundo o economista Rodrigo Baggi, da consultoria Tendências, as categorias de veículos de mais alto padrão, como os SUVs e os automóveis de luxo, ficaram "blindadas" durante a recessão. Para Baggi, o consumidor de renda mais elevada é menos suscetível aos efeitos da piora do mercado de trabalho e deterioração das condições de crédito. Enquanto as vendas de carros populares recuaram 25% até novembro do ano passado, na categoria de SUVs houve uma alta de 4%, conforme a Fenabrave, entidade que reúne revendedores de veículos. "Faz sentido as empresas direcionarem investimentos para as categorias que tenham um crescimento mais forte", afirmou Baggi.

Carro inteligente domina feira eletrônica

A montadora Ford e a gigante da internet Amazon anunciaram, na semana passada, uma parceria para permitir que as pessoas possam controlar, a partir de um carro, os recursos da casa e vice-versa. Utilizando a Amazon Echo, caixa de som que recebe comandos de voz lançada pela Amazon em 2014, será possível dar partida e checar a bateria de carros elétricos estacionados na garagem de casa. Do automóvel, será possível ligar luzes e televisores, assim como abrir a porta da garagem. A parceria foi anunciada na semana passada, na véspera da abertura da CES (Consumer Eletronics Show, na sigla em inglês), feira que acontece em Las Vegas e que é uma das mais importantes do mundo no mercado de tecnologia.
O evento, que abriu para o público na quarta-feira, dia 6, em Las Vegas, deve ter como destaque a indústria automobilística e de transportes, com seus carros elétricos, tecnologias de direção autônoma e integração com a casa. Companhias como Kia, Toyota, General Motors e Volkswagen também estão presentes no evento.
A BMW informou, por exemplo, que está trabalhando em aplicativos para permitir que os motoristas ajustem os termostatos de seus lares na temperatura ideal para o momento de eles chegarem. No carro-conceito iVision, a companhia mostrou um sistema em que seria possível acionar comandos do painel usando apenas gestos, sem precisar tocá-lo.
"Eu prevejo que 2016 vai ser um ano revolucionário para a indústria automobilística e de transporte", disse o diretor executivo da Ford, Mark Fields, na abertura de sua apresentação. Apostar na internet das coisas, com objetos conectados à rede, é uma das estratégias da montadora para expandir os negócios nas próximas décadas.
A ideia, de acordo com Fields, é que a empresa se transforme, por meio da tecnologia, em uma companhia automobilística e de mobilidade, incentivando o uso compartilhado de automóveis e a integração de diversas modalidades de transporte urbano. Além disso, a Ford quer aumentar a participação no setor de transportes, que inclui táxis, ônibus e outras modalidades urbanas. Segundo Fields, o setor automobilístico global vale atualmente US$ 2,4 trilhões, dos quais a Ford participa com 6%. A indústria de mobilidade vale, segundo o executivo, US$ 5,4 trilhões.
Há também na CES novidades na área de direção autônoma, que tem atraído empresas de diversas indústrias, como a gigante Google e a Nvidia, mais conhecida como fabricante de placas de vídeo para profissionais e gamers hardcore - a companhia anunciou a criação de um supercomputador para carros com poder de processamento de 150 MacBooks.
O sistema, que será testado pela Volvo, poderá ver as imagens, ler os sinais de trânsito, identificar pedestres e processar essas informações. A ideia é que o veículo autônomo seja mais capaz de decidir como lidar com as situações que enfrentar no trânsito.