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Sonho realizado
Jovens do bairro Restinga participam de oficinas culturais na Renascer da Esperança
As mãos de Rozeli da Silva são provas de que ela já trabalhou pesado para sustentar os filhos. Mas foi com seu esforço e uma incrível força de vontade que ela mudou a realidade de centenas de jovens do bairro Restinga, em Porto Alegre. Funcionária do DMLU, Rozeli ainda era analfabeta quando teve a ideia que transformou sua vida, em 1996.
A ex-gari sonhou que ajudava as crianças da comunidade, junto com a assistente social do DMLU Learsi Kelbert. Quando encontrou a colega no trabalho, descobriu que ela também havia tido essa visão. Como Learsi tinha pouco tempo livre, Rozeli tocou sozinha o sonho no começo. "Mas ela foi meu lápis e meu caderno, escreveu todo o projeto para mim", relembra a presidente da entidade.
O trabalho começou as poucos, quando Rozeli conseguiu um terreno na comunidade, e os primeiros voluntários chegaram para ajudar. A história de vida de Rozeli - que já morou na rua e passou pela antiga Febem - a levou para programas em emissoras de televisão com repercussão nacional, o que acabou alavancando as atividades da ONG.
Hoje, a Renascer da Esperança tem uma sede de 700 m² e atende 280 jovens, que passam o tempo livre participando de atividades culturais na ONG. São oficinas de canto, dança, inclusão digital, teatro e outras modalidades, além de atividades de recreação e alimentação para os jovens. A Renascer ainda emprega 42 funcionários, entre pedagogos, assistentes sociais, cozinheiros e educadores, entre outros. A infraestrutura conta com salas de informática, de assistência jurídica à comunidade e de assistência psicológica, além de uma biblioteca e espaços para as oficinas.
Lurdiara Duarte é educadora na ONG há 1 ano e trabalha com alunos dos 12 aos 18 anos. "Cada turma tem um projeto pedagógico e, para mim, é muito gratificante trabalhar com eles, porque eles nunca faltam", ela conta, se referindo aos 79 alunos que compõem o seu grupo. Uma das participantes é Tainá Aquino, de 14 anos, que participa da ONG desde os 8 anos de idade. "Eu faço canto, esporte, artes, recreação, mas o que eu mais amo é a dança", diz a menina, que permanece no Renascer durante o período de trabalho dos pais.
O financiamento vem da Fasc, que ajuda com os custos de 120 das crianças da ONG, e do Orçamento Participativo, que contribuiu na construção da segunda sede, voltada apenas ao público infantil. "Ainda precisamos de recursos, nosso telefone está cortado e necessitamos alimentos", relata.
ONG busca mais recursos para os próximos desafios
Quando pensa em tudo que já conseguiu para o Renascer da Esperança, a fundadora Rozeli da Silva se alegra, lembrando os relatos de crianças que adoram a ONG. "O Renascer é meu pulmão, sem ele eu não vivo", diz a presidente. Rozeli e a ONG já ganharam juntos cerca de 15 prêmios, incluindo o Prêmio Líderes e Vecedores, da Federasul, em 2003.
Mas Rozeli nunca se acomodou na busca pelo conhecimento. Ela mesma aprendeu a ler e a escrever e estuda em uma escola da rede Marista. Seu próximo objetivo de vida é se formar em Direito. O mesmo espírito ela cultiva no Renascer: neste ano, vai implementar duas novas oficinas. "Uma é sobre o meio ambiente, porque é importante os adolescentes conservarem nossa área. A outra é a história afro-brasileira, a história dos nossos ancestrais, que é ensinada, mas sempre distorcida", diz.
Outro objetivo é a capacitação profissional dos mais velhos, já que a ONG aceita jovens de até 24 anos. Para que mais esse sonho se concretize, no entanto, a ONG busca financiamento para construir mais salas de aula na sede.
Rozeli afirma que já há uma área disponível, mas ainda falta captar R$ 1,3 milhão para que as obras comecem. "Não queremos que eles fiquem aqui e depois vão para as ruas, queremos que eles se qualifiquem. Nós temos que fazer essa corrente", acredita a diretora da ONG.