Inflação deve nortear as estratégias para investimentos em 2016

Baixa precificação de ativos na bolsa também reabre as alternativas no mercado acionário

Por Rafael Vigna

Uma das grandes vilãs do atual cenário macroeconômico, a inflação, deve ser, outra vez, o norte dos investidores no ano que vem. Para 2016, o relatório Focus, do Banco Central (BC), aponta para uma evolução mais contida do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), na casa de 7%. Ainda distante da teto da meta, estipulada em 6,5%, a alta dos preços básicos da economia, que já supera 10% no acumulado de 2015, será o fiel da balança de rentabilidade nas diversas aplicações financeiras.
Em um cenário moldado pela retração do PIB (Produto Interno Bruto) e pelo IPCA elevado - denominado pelos economistas de "estado de inflação" -, torna-se mais difícil encontrar investimentos que entreguem bons retornos. Como a tentativa de conter os avanços inflacionários também é determinante para a definição do ambiente de juros, na avaliação de muitos analistas consultados, os títulos de renda fixa seguirão dominando a pauta nos próximos 12 meses.
Neste contexto, o Tesouro Direto desponta nas preferências. São muitas as opções interessantes. A diretora técnica da Apimec-Sul e gestora da Zenith Asset, Débora Morsch, projeta rendimentos brutos, no período de 2015 a 2016, de 15,90% para as LTNs (Letras do Tesouro Nacional) e 14,25% para as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro).
No entanto, as NTNBs (Notas do Tesouro Nacional - série B) - agora também chamadas de Tesouro IPCA Mais - são a nova bola da vez. Em 10 anos, a projeção de rendimento real (já descontando inflação e impostos) é de 39,7%. Em igual intervalo, as LTNs e LFTs renderiam 25,8% e 11%, respectivamente.
Isso ocorre, porque a NTNB paga o mesmo percentual do IPCA, acrescido de um prêmio de 7,30%. Em geral, o rendimento bruto projetado em 17,30% ao ano é difícil de ser batido. Débora lembra que é necessário carregar o investimento até 2019. O resgate do valor principal antes do vencimento previsto, segundo ela, geraria prejuízo na remarcação do ativo aos preços de mercado.
"Se o descrédito com o País continuar, a NTNB deve ter um juro ainda maior para atrair os estrangeiros. Ou seja, os títulos com vencimento em 2019 e 2020, que ainda possuem taxa de IR de 15% e um prêmio de 7,30% mais o IPCA, garantem algo bem atraente e nem tão longo assim", revela Débora.
O sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho, explica que a NTNB, de fato, se tornou muito visada há cerca de 2 anos. Até então, não se esperava por um IPCA de dois dígitos. Antes de 2013, a ideia era de uma alta estabilizada em 5%, e qualquer resultado acima de 6% já seria bastante alarmante.
"As NTNBs têm sido muito procuradas por quem busca investimento em renda fixa e quer proteção. Ao se comprar renda fixa, se está correndo riscos com uma disparada da inflação. Com um título de renda fixa e uma onda inflacionária, toda a expectativa de rendimento cai por terra. Há o risco, inclusive, de não haver capitalização alguma sobre o investimento feito", sustenta Bianchi.
Além disso, existe um componente extra para os títulos públicos em 2016. O novo rebaixamento de rating - a nota de crédito do País - anunciado na quarta-feira pela agência de classificação de risco Fitch pode demandar aumento da Taxa Selic. O fato contribui para o aumento da remuneração dos títulos públicos.

Aplicação na poupança tem perda de 20% em 10 anos

Em 2016, os títulos de renda fixa continuam atrativos. A dica é fugir da poupança. Em uma década, a caderneta devolverá rendimento real negativo de 19,7%. Isso significa que o dinheiro aplicado hoje teria quase 20% menos poder de compra em 2025. Apenas no acumulado deste ano, a desvalorização chega a 2,2%.
O fato justifica a onda de saques ocorrida em 2015. As retiradas superam os depósitos em nada menos do que
R$ 58,3 bilhões até dezembro.
Produtos como LCIs e LCAs já não têm a mesma força. Bancos emissores dificilmente oferecem remunerações acima de 90% do CDI.
Sobre as LCIs pesaram a cobrança de lastros e o maior controle nos prazos. Os fatores influenciaram as taxas, inferiores às de 2015, quando era comum encontrar opções com até 103% do CDI. Há ainda o risco de os ativos serem taxados. A medida já foi aventada pelo governo no ano passado e deve ser consolidada em 2016.

Empresas sólidas estão baratas na bolsa

Em meio às incertezas econômicas e políticas, há um fato que já não pode ser ignorado: existem muitas empresas sólidas e extremamente baratas no mercado acionário nacional. Isso significa que a precificação das ações em bolsa clamam por um pouco de atenção daqueles investidores mais experientes e, por consequência, afeitos a riscos maiores.
Para o analista-chefe da Geral Investimentos, Carlos Müller, é preciso fugir de alguns setores tradicionais. O cenário mudou e, segundo Muller, antes de mais nada, a dica é buscar orientação de especialistas.
O sócio-diretor da Fundamenta Investimentos, Valter Bianchi Filho, afirma que, neste momento, o mais indicado é olhar para empresas com endividamento controlado e resiliência na geração de caixa. Essas são duas características bastante "defensivas" para o momento. Fundamentos assim são observados em algumas empresas do segmento de alimentação e bebidas e também em marcas fortes ligadas ao consumo.
"Quem entra em bolsa precisa de um horizonte de tempo considerável. Em 3 ou 5 anos, dificilmente a aplicação será ruim", resume.
Para Bianchi, os bancos sofreram muito em 2015. A ressalva é dada pela expectativa de elevação da inadimplência. Sabe-se que o desemprego deve contribuir também com a redução do consumo. Diante da incerteza, o mercado tem refletido as inseguranças sobre o sistema financeiro. "Eu, particularmente, acho um pouco exagerada a precificação negativa dos bancos. Acredito, sim, que o setor está com valores interessantes na comparação com os múltiplos históricos de negociação", comenta.