Mesmo com expansão fraca em 2015, economia global surpreende

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Oscilação do mercado levou o Banco Popular da China a fazer uma intervenção com a desvalorização do yuan em relação ao dólar
O ano de 2015 não foi tão negativo para a economia global, embora o crescimento tenha sido fraco. Na maior parte das regiões, o desempenho econômico foi razoável e, em alguns casos, até surpreendente. A desaceleração do crescimento da China, no entanto, voltou a preocupar. O país, cujo Produto Interno Bruto (PIB) aumentou 7,4% em 2014, teve a estimativa de crescimento revisada pelo Banco Mundial e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para índice abaixo de 7% em 2015.
A desaceleração da economia chinesa trouxe, ao longo do ano, volatilidade aos mercados globais. Houve também, internamente, oscilações de humor do mercado financeiro, levando o Banco Popular da China (o banco central chinês), em agosto, a fazer uma intervenção com a desvalorização do yuan em relação ao dólar, em uma tentativa de estimular as exportações e a economia local.
A situação da China fez ainda aumentar a queda no preço das matérias-primas (commodities). A medida teve forte impacto em países como o Brasil, fornecedor de produtos básicos para o mercado chinês, como minério de ferro e soja. Mesmo assim, em nível global, Luiz Alberto Machado, do Conselho Federal de Economia, afirma que 2015 não foi tão ruim assim.
"Não foi um ano negativo. Na maior parte das regiões, o desempenho econômico ficou entre razoável e surpreendente. Quem não acompanhou foi a China, com desaceleração do crescimento. De qualquer forma, é bom lembrar que, mesmo assim, é um crescimento fabuloso", diz o economista.
Outra preocupação ao longo do ano de 2015 foi com a economia dos Estados Unidos. O país passou a sinalizar que o pior da crise iniciada em 2008 tinha passado e gerou especulações sobre o descongelamento das taxas de juros, mantidas nos últimos sete anos em patamares até 0,25%.
A mudança só ocorreu, agora, no fim de 2015, mas, enquanto a decisão não saiu, o mercado atravessou momentos de instabilidade à espera do ajuste. Isso ocorreu principalmente nos países emergentes. Com a alta dos juros norte-americanos, os investidores passam a migrar seus recursos de países emergentes, como o Brasil, para os Estados Unidos.
"Os Estados Unidos apresentaram uma recuperação que vem sendo mantida, embora contida. A perspectiva para o ano que vem é boa. Na América do Sul, tivemos países que foram igualmente bem, como o Peru, a Bolívia e a Colômbia. Foram mal na região a Argentina, a Venezuela e o Brasil", destaca o economista.
Questionado se isso poderia explicar a crise na economia brasileira, Machado afirma que apenas esse fator, não. "Não dá para culpar lá fora. Essa culpa não vai pegar. Alguma coisa teve. A China reduziu a importação de commodities. Sobre a taxa de juros norte-americana, eles mantiveram (a taxa) o ano inteiro. Não teve maiores efeitos", disse.

Diretora do FMI prevê crescimento mundial decepcionante em 2016

O crescimento da economia global vai decepcionar no próximo ano e as perspectivas de médio prazo se enfraqueceram por causa da baixa produtividade, do envelhecimento das populações e dos impactos de crise financeiras, afirmou a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, em um artigo publicado no jornal alemão Handelsblatt.
Segundo Lagarde, a normalização da política monetária nos EUA e a mudança no modelo de crescimento da China para um ritmo mais lento são necessários e saudáveis, mas precisam ser gerenciados o mais eficiente e suavemente possível. Taxas de juros mais altas nos EUA e um dólar mais forte podem levar empresas a dar calote em dívidas e, assim, prejudicar bancos e países, afirmou Lagarde, observando, porém, que esses riscos são gerenciáveis.
A diretora do FMI comentou ainda que a maioria das economias altamente desenvolvidas, com exceção de EUA e possivelmente Reino Unido, ainda precisarão de uma política monetária frouxa. Com relação à zona do euro, ela disse que o bloco pode melhorar suas perspectivas se tratar da inadimplência, para que os bancos possam ampliar os empréstimos, e tornar a política monetária mais eficiente.