Dilma defende cooperação ágil no Mercosul

Durante reunião do bloco em Assunção, presidente destacou que países precisam resolver as assimetrias regionais

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No encontro, Dilma Rousseff defendeu revisão de protocolo de compras governamentais
A presidente Dilma Rousseff disse ontem que o fortalecimento do Mercosul passa necessariamente pela adoção de formas mais ágeis de cooperação comercial e pela formação de cadeias produtivas internacionais. "Nossa decisão de fortalecer economicamente, comercialmente o bloco, por meio da eliminação de barreiras comerciais, expressa nosso compromisso de longo prazo com o Mercosul. O Brasil se empenhará em levarmos essa tarefa a bom termo. Tenho certeza que todos nós aqui percebemos a importância da eliminação de barreiras comerciais para levarmos o Mercosul a bom termo", disse ao discursar na 49ª Cúpula de Chefes de Estado do Mercosul e Estados Associados em Assunção, no Paraguai.
Para Dilma, o bloco precisa resolver a questão "das assimetrias regionais", o que acredita só ser possível com maior cooperação comercial e, sobretudo, com a construção dessas cadeias produtivas. "A economia contemporânea é dinâmica. Nós precisamos adaptar-nos às mudanças, sob pena de comprometer a competitividade das nossas empresas e a atratividade de nossas economias aos investidores", afirmou.
Dilma defendeu a aprovação até 2016 da revisão do protocolo de compras governamentais do Mercosul. A facilitação de investimentos vai, segundo a presidente, trazer de volta empregos nos países do bloco e permitirá superar as dificuldades econômicas atuais.
Ainda durante discurso na Cúpula, a presidente disse que, apesar das medidas contracíclicas tomadas pelo Brasil para proteger a economia da crise econômica, a lentidão da recuperação mundial e, sobretudo, a violenta queda dos preços das commodities, aliados a fatores internos que afetaram o crescimento brasileiro de forma conjuntural. "Nossa economia tem fundamentos sólidos. Temos elevadas reservas e temos uma situação financeira sob controle. Estou certa de que a reorganização do quadro fiscal no Brasil logo trará resultados positivos juntamente com o fim da crise política que tem afetado meu segundo mandato desde o seu início", disse, garantindo que o Brasil está determinado a reduzir a inflação, conseguir a estabilidade macroeconômica, aumentar a confiança na economia e garantir a retomada sólida e duradoura do crescimento.
A presidente Dilma Rousseff deu as boas-vindas ao novo presidente argentino, Mauricio Macri, que participa, pela primeira vez, de uma reunião do bloco. "Desejo êxito a ele. A Argentina constitui um dos eixos desta nossa organização regional", ressaltou.

Para entidades industriais, crescimento depende do avanço em acordos de livre-comércio

A Confederação Nacional da Indústria (CNI) se juntou a outras entidades semelhantes da Argentina, do Paraguai e do Uruguai para pedir que o Mercosul avance nas negociações de acordo de livre-comércio com a União Europeia. Para os empresários, a paralisia do bloco de países tem prejudicado a inserção do Mercosul na economia mundial e limitado os ganhos de exportações e investimentos externos das empresas locais.
"Há mais de uma década, a indústria brasileira alerta sobre a necessidade de o Mercosul ter uma agenda econômica estratégica e de longo prazo. Chegou a hora. O crescimento do Brasil depende disso", diz o diretor de Desenvolvimento da CNI, Carlos Abijaodi.
De acordo com a CNI, na última década, o Mercosul perdeu um ponto percentual como destino das exportações brasileiras, passou de 10%, em 2005, para 9% em 2014. Nas importações, o bloco representava 10% e caiu para 7,5% no período.
A paralisia do Mercosul é reflexo também do esfriamento da relação comercial entre Brasil e Argentina. Em uma década, o Brasil caiu 36,5% para 22,7% de participação de importações argentinas. Além disso, o Chile, que não faz parte do Mercosul, passou a ser o primeiro destino dos fluxos de investimentos brasileiros. No ano passado, o Chile recebeu 41,6% do capital brasileiro, enquanto a Argentina ficou com 25,2% - percentual bem inferior ao verificado no biênio 2010/2011. Naquele período, os argentinos haviam recebido 46,5%, e os chilenos, 27,4%.
Para as entidades, o Mercosul tem duas tarefas imediatas: reduzir as barreiras aos fluxos de comércio e investimentos entre os países-membros e avançar na negociação de acordos comerciais relevantes, principalmente com a União Europeia.
No domingo, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, afirmou que a prioridade do Brasil continua sendo as negociações do Mercosul com a União Europeia, que foram retomadas em 2010. A oferta de bens, compras, serviços e investimentos foi aprovada, mas continua emperrada. A presidente Dilma Rousseff chegou a prever que a negociação se encerraria no fim deste ano.
A CNI e as outras entidades pedem que a troca de oferta entre os dois blocos seja realizada no curto prazo. "As entidades estão convictas de que esse acordo pode melhorar a posição competitiva dos países no comércio global, sobretudo com o movimento global de aprofundamento da produção por cadeias de valor", diz Abijaodi.
Segundo os dados da CNI, os acordos assinados pelo Mercosul dão potencial de acesso a somente 8% do comércio mundial, enquanto que os do México dão 65%; da União Europeia, 45%; e dos Estados Unidos, 25%.