Ricardo Gruner
Admirador de autores que gostam de observar os absurdos do mundo e fazer graça disso, Rodrigo Rosp lança amanhã o romance Inverossímil (128 págs., 35,00). O livro tem publicação pela Não Editora e ganha sessão de autógrafos na Palavraria (Vasco da Gama, 165), a partir das 19h30min.
A obra reapresenta o personagem Caio, um escritor com insegurança e humor depreciativo a la Woody Allen - e que já apareceu em Fingidores - comédia em nove cenas, livro com o qual Rosp foi semifinalista do Prêmio Portugal Telecom. Em um ambiente repleto de fantasias sexuais e flertes via redes sociais, o protagonista contracena com a esposa, alunas e colegas.
A partir desse cenário, o autor levanta questões sobre a necessidade da técnica em narrativas literárias e a respeito das versões de si mesmas que as pessoas representam em perfis online, por exemplo. Rosp conversou com o Jornal do Comércio sobre estes e outros temas.
JC - Panorama - O livro surgiu durante seu mestrado. Como foi o processo?
Rodrigo Rosp - No mestrado em Escrita Criativa da Pucrs, fazemos uma obra de criação ficcional e um pequeno ensaio sobre o tema. Fui escrevendo ao longo do segundo ano de curso. Defendi com banca - é até engraçado uma banca de mestrado para um livro de ficção, mas é uma cultura que está se tentando implementar no Brasil. Já fiz oficinas durante um tempão, e é diferente construir uma obra no meio acadêmico. Tanto que ela veio permeada de certos questionamentos sobre questões teóricas (como a própria técnica).
Panorama - O personagem já apareceu no seu livro anterior. Por que voltar a ele?
Rosp - Aconteceu ao natural, mas não gosto muito dessa coisa metafísica de dizer que o personagem tem voz própria. Escrevi e vi que estava muito próximo da voz daquele personagem. Então entre criar um quase igual ao que já tinha feito e retomá-lo, senti que fazia mais sentido retomar - com uma série de modificações. Fiz várias mudanças de forma, apresentei um ambiente em que ele é o autor de uma obra dentro de uma obra...
Panorama - Esse jogo entre forma e conteúdo é algo que veio do mestrado ou já lhe interessava enquanto autor?
Rosp - Sempre me interessou, principalmente pelo seguinte: comecei trabalhando como revisor. Até hoje reviso quase todas as obras da editora. A questão da técnica do texto me interessa muito e foi o que estudei no mestrado. Uma coisa que sempre me instigou é que, às vezes, há grandes autores que têm dificuldades em coisas técnicas. Sempre cito o caso de um baita autor que não sabe usar crase. E levanto esse questionamento de até onde o autor precisa saber construir uma frase (mas, ao mesmo tempo, é mais ou menos como o piloto não entender a mecânica do carro). É esse questionamento que trago, sobre a necessidade da técnica como intermédio da comunicação (entre texto e leitor).
Panorama - Fingir continua como ação importante nesse romance.
Rosp - Tem uma conexão enorme que vai até a noção do título. Achei legal porque a questão de verossimilhança é muito usada no meio literário. Mas o sentido de dicionário dela é fascinante e abre espaço para questionar uma série de coisas. Para o dicionário, inverossímil é "o que não é ou não parece ser verdade". Só que tem um abismo entre o que não é verdade e o que não parece ser. E há também uma coisa fascinante da mentira dentro da própria verdade. Busquei trabalhar muito com isso dos bate-papos do celular, o Facebook. Observo que na verdade todo mundo é meio personagem ali, não existe "verdadeiro eu". Existem personagens que todo mundo cria. Foquei nos jogos de sedução, no flerte, quando acontece isso mais ainda. Esses bate-papos são uma criação ficcional.
Panorama - E em que medidas a busca por verossimilhança afeta o teu trabalho?
Rosp - Nesse livro, de alguma forma, abro mão dela... Acontece um monte de coisa inverossímil. Mas se isso é inverossímil em um ambiente em que a inverossimilhança é aceita, então é verossímil. Não é a verdade do mundo real, é a verdade do texto. Quem diz o que pode e não pode acontecer? Nunca trabalhei tão livre, justamente por não me ver tão preocupado e poder fazer um texto cheio de erros.
Panorama - E o fato de você também ser editor (da própria Não Editora e também da Dublinense) interfere de alguma maneira na tua criação?
Rosp - Não. Até porque meu processo é o mesmo desde sempre - escrevo há muito mais tempo do que comecei a publicar. Me sinto um escritor que edita, não um editor que escreve.