Na crise, pontos pagam até contas do consumidor

Com a renda cada vez mais pressionada pela inflação e pelo desemprego, o consumidor que precisa de um reforço nas finanças pode encontrar fôlego extra nos programas de fidelidade. É possível pagar contas de água e luz, trocar por créditos em postos de gasolina e até mesmo resgatar os pontos para apostar na Mega-Sena da Virada, que pode pagar mais de R$ 280 milhões para quem acertar as seis dezenas do concurso.

A crise tem aumentado a procura por estes tipos de serviços, avalia Julio Quaglia, diretor do Grupo LTM, que gerencia programas de fidelidade de empresas como Cielo, Shell e Nestlé. No "Pague suas Contas", que tem parceria com concessionárias públicas de água, luz, gás e telefone, o volume resgatado cresceu 170% de janeiro a setembro na comparação com o mesmo período do ano passado - foram 168 mil resgates, sendo que um usuário pode ter utilizado seu saldo mais de uma vez. O valor médio de resgates realizados foi de
R$ 148,00.

Para participar, o consumidor deve acumular pontos em algum dos programas parceiros da LTM que oferecem o serviço, como Nestlé, Hypermarcas e Cielo. O resgate é feito em cada um deles também. Só é necessário verificar se, após a conversão dos pontos, dá para inteirar o pagamento da conta. A concorrente Dotz oferece serviço parecido, mas, no caso da empresa, a fatura deve ter valor máximo de
R$ 300,00.

Também é possível economizar no posto de gasolina, com programas que permitem a troca de pontos por crédito para combustível. Na LTM, a modalidade também cresceu bastante no acumulado até setembro: foram 87 mil resgates, alta de 187% ante o mesmo período de 2014. Neste caso, o consumidor resgata os pontos e vai até o local para abastecer.

Até a recarga de celular pré-pago pode ser feita com pontos dos programas de fidelidade. Os valores de conversão costumam ser bem mais baixos do que encher o tanque ou pagar uma conta de luz. A média convertida é de R$ 21,00, segundo a LTM.

No supermercado, em que os carrinhos têm ficado mais vazios devido ao aumento da inflação, também é possível reduzir os gastos usando pontos. No caso da LTM, é preciso imprimir vouchers após feita a conversão de pontos por valor. A Dotz, uma das maiores empresas do setor, já implementou em 690 cidades do País um modelo mais direto do negócio: o cliente pode pagar a compra com pontos no caixa do supermercado, com um cartão semelhante ao de débito ou informando o CPF e a senha do programa, explica Roberto Chade, presidente da companhia. "Temos visto na empresa um crescimento nos resgates em serviços e atividades ligadas ao dia a dia do consumidor, como resgatar para pagar o combustível, trocar pontos por compras na farmácia", afirma.

Para ele, o comportamento é resultado do momento econômico do Brasil. "As trocas têm aumentado em um percentual próximo de 50%, e os consumidores estão optando pelo pagamento de contas, por resgatar eletrônicos e até viagens para economizar", complementa. Até mesmo o dinheiro que seria gasto na Mega-Sena da Virada pode ser substituído por pontos. No Banco de Pontos Fidelidade, faz sucesso um modelo de leilão em que os usuários dão lances - individuais ou em grupo - com pontos para arrematar caixinhas da sorte que podem deixá-los milionários.

Na Multiplus, o motorista que tem carro da Peugeot pode usar os pontos acumulados para pagar a revisão do veículo. No programa, a crise deu origem a uma situação curiosa, diz Ronald Domingues, diretor financeiro da Multiplus. "Vimos uma redução proporcional de trocas por passagens aéreas e um crescimento de resgate de produtos", afirma.

Os pontos acumulados em programas de fidelidade podem aliviar também o bolso de quem pretende dar presentes neste Natal. A dificuldade de trocar o produto resgatado em pontos, no entanto, exige estudar melhor o perfil do presenteado. A troca ou a devolução de produtos segue a lei do arrependimento de compra pela internet e só pode ser feita em até sete dias após a data de entrega.

Com até 10 mil pontos, é possível resgatar desde uma mochila de R$ 100,00 até um tênis de corrida encontrado por cerca de
R$ 160,00 no mercado. "Não acho constrangimento algum usar esses pontos para fazer as compras de Natal. Melhor do que deixar esse bônus expirar", avalia a planejadora financeira Annalisa Dal Zotto, da Par Mais, empresa de gestão de patrimônio.

Uma opção para quem vai presentear é trocar pontos por vales-presente de lojas como Netshoes, Marisa ou assinatura trimestral do Xbox Live, o serviço de jogos on-line do console Xbox. A opção é oferecida pelos programas Dotz e Multiplus. Outra dica é usar os pontos para resgatar artigos que podem ser usados em um amigo oculto, diminuindo os gastos. A orientação é resgatar um artigo que sirva para mais de um perfil na festa, como um eletrônico, filme ou livro. Para ninguém ficar com algo que não gostou, pode-se criar a possibilidade de "roubar" os presentes do outro, diz.

Se a prioridade for renovar os eletrodomésticos ou eletrônicos, também é possível usar os pontos. O dinheiro que o consumidor gastaria comprando esses artigos pode ir para uma reserva financeira.
Na Multiplus, o item mais resgatado entre julho e setembro foi o Chromecast, do Google, aparelho que transforma televisores comuns em TVs inteligentes. Em seguida, vieram cafeteiras que funcionam com cápsulas e um processador de alimentos. Já na Dotz, os vale-compras aparecem em primeiro lugar, seguidos de eletroportáteis.

Concentrar o acúmulo dos pontos em um ou dois programas de fidelidade ajuda a resgatar mais produtos ou itens mais caros. Depois de eleger um programa, o consumidor deve verificar quais são as empresas que ajudam a acumular mais pontos. Por exemplo, fazer compras na farmácia que tem parceria com o programa de fidelidade. O cartão de crédito também é um forte aliado. "Há quem decida pagar anuidade mais cara no cartão para aumentar o acúmulo de pontos. Tem que fazer as contas para saber se faz sentido", diz Annalisa Dal Zotto, da Par Mais.