Cunha mostra passaportes carimbados na África

Peemedebista justificou que vendeu carne enlatada no Congo

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Eduardo Cunha recebeu lideranças para almoço em sua residência
Para tentar mostrar que realmente vendeu carne enlatada, na década de 1980, do Brasil para o Congo e o Zaire (que hoje se chama República Democrática do Congo), o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), apresentou cópias de seus passaportes carimbados na África a líderes partidários que recebeu em almoço na sua casa nesta terça-feira. Segundo os líderes, os documentos mostram 37 carimbos de entrada nos dois países africanos.
Os documentos foram apresentados aos líderes após o almoço, durante o cafezinho. Cunha justificou como fonte para ter obtido o dinheiro que manteve no exterior a venda de produtos, entre eles carne enlatada, aos dois países africanos e operações no mercado financeiro.
Líderes que viram os documentos foram receptivos as explicações. Para eles, o fato de ter ido 37 vezes à África era a trabalho e não a passeio é positivo. Cunha fez questão de dizer que trabalhava não apenas com carne enlatada, mas também alimentos de necessidade para os africanos como arroz, feijão e açúcar. Os produtos, segundo o presidente da Câmara, eram embarcados em contêineres.Aliado próximo de Cunha, o líder do PTB, Jovair Arantes (GO), disse ter ficado convencido. "Achei bem consistente (as explicações), são preliminares. Ele mostrou passaporte da época que fazia exportação para África. Ninguém vai à África 37 vezes passear, são bussiness (negócios), coincide com o período que ele fala."
O deputado Paulo Pereira da Silva (SD-SP) elogiou a atitude de Cunha de mostrar os passaportes. Mas segundo Paulinho da Força, o presidente da Câmara terá que decidir logo de que lado vai ficar. "Se quer ficar com o governo ou com a oposição. Se quer ficar com a oposição terá que decidir em relação ao impeachment.", disse.
Cunha afirmou que, na década de 1980, tinha como atividade comércio internacional. Explicações dadas pelo presidente da Câmara sobre a propriedade de contas e ativos no exterior não convenceram integrantes do Conselho de Ética e líderes partidários.

Pressionados, líderes tucanos sinalizam dificuldades em manter apoio ao presidente da Casa

Com dificuldades de conter a pressão da bancada, líderes do PSDB na Câmara avisaram aos demais líderes da oposição sobre a dificuldade de manter o apoio ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), inclusive no Conselho de Ética. Para os tucanos, além da demora em definir a decisão em relação ao pedido de impeachment, Cunha também sinaliza composição com o governo. Em movimento paralelo, membros do partido também dão sinais de que poderão amenizar a oposição a medidas do ajuste fiscal.
Nesta terça-feira, em nome do PSDB, o deputado federal Bruno Araújo (PE) participou de reunião de líderes da base aliada com o líder do governo na Câmara, José Guimarães, para discutir a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU). Segundo Araújo, o partido decidiu conversar e quer negociar a redução do percentual de 30% proposto pelo governo para mexer livremente no orçamento.
"É uma percepção clara do PSDB que a DRU é um instrumento de governança. Fazemos oposição à Dilma, mas não fazemos oposição à estabilidade macroeconômica. A DRU foi um instrumento criado no governo do PSDB e por isso o PSDB propôs. Vamos tentar encontrar o entendimento, não queremos o percentual de 30% de desvinculação, queremos estabelecer uma negociação sobre isso", avisou Bruno Araújo.
O aviso aos aliados da oposição sobre o ambiente na bancada do PSDB em relação a manutenção do apoio ao Cunha foi dado em encontro realizado na residência do líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP). Carlos Sampaio diz que provas apresentadas são "confusas e deficientes".
"Ele tem que sair das alegações e entrar no campo das provas. No Conselho de Ética o PSDB vai votar com rigor técnico absoluto e de acordo com as provas", avisou o líder do PSDB, Carlos Sampaio.