Debate sobre segurança reúne mais de 150 países

Especialistas e autoridades mundiais discutirão em Brasília experiências que contribuam para a prevenção de acidentes

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Segundo OMS, mortes por acidente chegam a 1,25 milhão por ano em todo o mundo
Uma das principais causas de morte no mundo, os acidentes de trânsito vitimam, de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), 1,25 milhão de pessoas por ano. As vítimas são, geralmente, crianças e jovens de cinco a 29 anos do sexo masculino. Além de já serem considerados um problema grave de saúde, os acidentes geram um gasto de US$ 1,8 trilhão anuais. Pensando nisso, o Ministério da Saúde (MS) realiza, hoje e amanhã, em Brasília, a 2ª Conferência Global de Alto Nível sobre Segurança no Trânsito. São esperados cerca de 1,5 mil participantes de mais de 150 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU).
O secretário de Vigilância em Saúde do MS, Antônio Nardi, explica que a intenção da conferência é divulgar e debater experiências satisfatórias que contribuam com a prevenção de acidentes de trânsito em vários países. "Vamos fazer uma análise da última década, tanto da evolução dos acidentes como do trânsito em âmbito mundial", pondera Nardi. Quatro painéis e 24 sessões paralelas compõem a programação, durante a qual serão debatidos, até quinta-feira, desde mobilidade e infraestrutura até indicadores e metas, passando por tecnologias, gestão, financiamento e fortalecimento do atendimento a traumas. Ações específicas de proteção a pedestres, ciclistas e motociclistas também integram a pauta de discussões.
Um dos objetivos do evento é avaliar o andamento das iniciativas para a redução de mortes e de lesões ocorridas no trânsito em meio à Década de Ação para a Segurança no Trânsito, de 2011 a 2020. O Plano de Ação Global, que define etapas para melhorias na segurança rodoviária, almeja o aumento em 50% no número de países com legislações abrangentes acerca do tema. Atualmente, somente 7% da população mundial está protegida por leis de trânsito adequadas.
De acordo com o Ministério da Saúde, 42,2 mil pessoas morreram devido a acidentes de trânsito no Brasil em 2013. Destas, 12.040 (28%) eram ocupantes de motocicletas. Apesar disso, houve, em 2013, pela primeira vez em 10 anos, uma redução no número absoluto de mortes no trânsito no País (5,7%), na comparação com 2012.
Para Nardi, essa diminuição pode estar relacionada à instituição da Lei Seca (nº 11.705), em 2008. "Além de trazer segurança, trouxe resultados extremamente positivos, como diminuição de acidentes e acidentados", relata. O secretário citou a cidade de Fortaleza, no Ceará, que expandiu a fiscalização. "Eles fazem as blitze em horas incertas, para evitar que as pessoas já saibam e desviem das rotas", conta. O reflexo foi sentido nos hospitais, que antes estavam sempre lotados e, agora, conseguem disponibilizar leitos para a realização de cirurgias eletivas.

Conformismo e fatalismo são principais entraves no avanço da redução da mortalidade

Crise global. Foi assim que o diretor do Departamento de Prevenção, Lesões e Incapacitações da Organização Mundial de Saúde (OMS), Etienne Krug, descreveu a realidade da alta mortalidade em acidentes de trânsito em nível mundial, em evento destinado à imprensa realizado ontem. Para Krug, a principal causa de morte no mundo é falsamente caracterizada como um acidente. "A morte de 1,25 milhão de pessoas anualmente pode ser prevenida se utilizarmos as ferramentas certas, como elaboração e aplicação de leis mais rigorosas", argumentou. A meta do Plano Global para a Década almeja reduzir pela metade o número de óbitos até 2020. De acordo com o mais recente Relatório Global de Segurança no Trânsito, de 2015, a frequência de acidentes está caindo, mas não na velocidade necessária para o cumprimento do objetivo.
Dados do relatório, que foram disponibilizados pelos países, apontam que acidentes de trânsito matam mais que Aids (1,6 milhão de mortes/ano), tuberculose (1,4 milhão/ano) e malária (800 mil/ano). Atualmente, é a 9ª causa mais frequente de óbitos - a primeira entre jovens de 15 a 29 anos. De acordo com Tami Toroyan, também do Departamento de Prevenção, Lesões e Incapacitações, se o ritmo continuar como está, as mortes no trânsito alcançarão o 7º lugar no ranking em 2030.
Krug também destacou que boa parte das medidas tomadas para reduzir a violência no trânsito está concentrada em oferecer garantias para a circulação de veículos. Entretanto, o relatório global mostra que 29% das mortes envolvem pedestres (2%), ciclistas (4%) e motociclistas (23%). "Precisamos mudar isso. Já vimos que o estímulo ao tráfego de veículos, além de comprometer a mobilidade, uma vez que causa engarrafamentos, também gera poluição.Temos de nos concentrar em outros meios de transporte", avalia.
O diretor considera que o conformismo e o fatalismo são os principais entraves aos avanços na redução da mortalidade. "Não podemos nos conformar com esses dados. Temos de trabalhar para mudá-los com legislação, mudança comportamental e educação", concluiu.