Além daqueles que abandonam tudo para apostar em uma nova empresa, há quem siga trabalhando em outras áreas e ainda arrume tempo para empreender

Ufa, sobrou um tempinho para o meu negócio!


Além daqueles que abandonam tudo para apostar em uma nova empresa, há quem siga trabalhando em outras áreas e ainda arrume tempo para empreender

Há quem nasça com o espírito empreendedor circulando nas veias, mas não possa - ou não queira - largar o emprego tradicional para realizar o sonho de ser o próprio chefe. O grande desafio nesses casos é ter de se abster de uma característica essencial para que o negócio dê certo: dedicação total. Ser empreendedor nas horas vagas pode dar certo? Poucas horas de descanso e muita organização ajudam.
Há quem nasça com o espírito empreendedor circulando nas veias, mas não possa - ou não queira - largar o emprego tradicional para realizar o sonho de ser o próprio chefe. O grande desafio nesses casos é ter de se abster de uma característica essencial para que o negócio dê certo: dedicação total. Ser empreendedor nas horas vagas pode dar certo? Poucas horas de descanso e muita organização ajudam.
Para Luciano Francisco Silveira da Silva, da Gerência Regional Metropolitana do Sebrae-RS, nesses casos, é preciso ter um plano claro que inclua as especificações sobre o tempo de atenção à iniciativa. "Muitos deles têm pretensão de largar o emprego estável", destaca Silva, sobre o perfil do público que procura a entidade. Com a situação econômica desfavorável, segundo ele, cresceu o número de empreendedores das horas vagas.  
O bancário Renan Farias, 28 anos, e o dentista Laerte Fagundes, 27, são o exemplo de que é possível conciliar muitas tarefas com a vida de empreendedor. Além de seus empregos formais, eles são administradores de uma franquia do restaurante Kangaroo, na avenida Otto Niemeyer, na zona Sul de Porto Alegre, recentemente inaugurada.
Farias tem uma rotina nada convencional. Além de bancário, é motorista de transporte universitário durante a semana e, de segunda à sexta, precisa estar às 10h no banco onde trabalha exercendo funções administrativas. No finalzinho da tarde, corre para pegar sua van escolar e transportar alunos até faculdades de Porto Alegre. Depois disso tudo, ainda precisa de energia para servir wraps e sucos. 
No banco são cinco anos de atividades, no transporte escolar já fechou um. Mesmo com dois empregos estáveis, ele resolveu apostar na franquia, que alia conceitos de cultura australiana, música e gastronomia. Farias conta que nunca havia imaginado trabalhar com culinária, contudo, sempre esteve ligado neste mercado. “Uma coisa que nunca acontece, apesar da crise, é as pessoas deixarem de comer. Eu acreditava que investir nisso poderia dar muito certo.”
Fagundes, seu sócio no restaurante, também faz parte do mesmo time. Formado em Odontologia e com uma clínica desde 2013, o empreendedor diz que viu na Kangaroo uma oportunidade. “Eu frequentava o Kangaroo como cliente, na loja da avenida Icaraí. Sempre achei interessante a ideia. Um dia, o proprietário, comentou comigo sobre a intenção de abrir franquias. As coisas foram acontecendo naturalmente”, conta o dentista. Para Farias e Fagundes, o empreendimento é a realização de um sonho antigo: ter uma empresa em conjunto. Os dois afirmam que a maior dificuldade para quem quer empreender e ainda trabalhar fora é organizar o tempo.
“Para empreender é preciso criar. As pessoas não compram mais produtos, elas compram conceitos. Se tu não tiveres tempo para criar, nunca terás algo diferenciado”, explica Fagundes.

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É preciso incluir no plano o tempo de dedicação reduzido ao negócio. O Sebrae ajuda nessa organização, através do modelo Canvas. Para agendar atendimento, que é gratuito, o telefone é 0800-5700800. Caso o empreendedor necessite de assessoria, custa R$ 50 a seção de uma hora. "A pessoa consegue sair com visão do negócio, principalmente sobre a viabilidade da ideia", diz Luciano Francisco Silveira da Silva. 

Chocolate de dia e fotografia a noite

Desde criança, o carioca Pedro Monteiro Sevante, ou simplesmente Pedro Monsev, 34 anos, convive no mundo do chocolate. Quando o negócio de sua família inaugurou, ele tinha apenas 10 anos de idade. Em 2005, quando a Chocólatras Anônimos saiu de uma estrutura mais doméstica e ganhou seu primeiro en6dereço em Porto Alegre, Monsev mergulhou de cabeça no empreendimento. “De início eu atendia e fazia entregas. Depois entrei para produção, para ir adaptando as receitas e os procedimentos”, explica. Atualmente, o empreendimento possui três lojas em Porto Alegre, incluindo a recentemente inaugurada no BarraShoppingSul, e uma fábrica, localizada no Bairro São Geraldo. Apesar de ter um enorme trabalho dentro da Chocólatras, na vida de Monsev existe outra paixão que consome seu tempo: a fotografia.
“Eu estudei jornalismo, fiz seis semestres, descobri a fotografia no caminho e acabei largando o curso", conta Monsev. A partir de 2010, realmente passou a ter duas carreiras em distinto: trabalhava na Chocólatras durante o dia e fotografava festas noturnas de madrugada. 
O trabalho com fotografia, contudo, não é nada informal ou atividade para as horas vagas. De segunda a sexta suas tarefas giram em torno da produção da chocólatras, no desenvolvimento de novos produtos, no contato da empresa com agências para desenvolvimento das imagens, entre outras funções. Já no horário noturno, o fotógrafo se desdobra em danceterias, eventos sociais, aniversários e formaturas (!). Leva a sério. Ele ainda encontra um tempo para fazer as fotos de divulgação da própria Chocólatras.
Mesmo com a rotina movimentada e com poucas horas de sono, o fotógrafo não abre mão de ter as duas profissões. Para Monsev, o segredo para atuar bem em áreas distintas é saber usar as experiências de cada jornada como novas formas de pensar em soluções para as diferentes áreas. “Isso é o que difere quem faz duas coisas. Todo mundo quer pensar fora da caixa, você ao menos tem duas caixas”, diverte-se.
Ele ainda afirma que administrar o tempo é um grande desafio. “Dormir pouco é sintoma disso, mas escolher como usar seu tempo às vezes é o mais difícil. Por exemplo, eu vou pesquisar e produzir um novo recheio para bombons, vou fazer um curso de especialização de flash para eventos ou vou ler quadrinhos? Fazendo o que se gosta, sendo empreendedor e atuando como freelancer às vezes é muito difícil escolher. Volta e meia eu paro tudo e me permito simplesmente ler quadrinhos", afirma.

Gerente de marketing e proprietário de loja de doces

Tiago Schmitz, 32 anos, é o idealizador da Charlie Brownie. A loja de doces localizada no bairro MontSerrat, em Porto Alegre, oferece aos clientes cookies, bolos, trufas, rapaduras e, claro, brownies. Com a decoração do estabelecimento inspirada nos quadrinhos do personagem Charlie Brown, Schimitz transformou o que era apenas uma brincadeira em empreendimento. Se dedicar ao mundo dos doces, contudo, não é tarefa única na vida do jovem. Antes disso, ele já atuava como gerente de marketing no Colégio Farroupilha, também em Porto Alegre. Para ele, empreender e ao mesmo tempo ter um emprego formal é um desafio diário.
Schmitz conta que inicialmente produzir doces era só um hobby. Ano passado, porém, começou a pensar na ideia como um projeto. A primeira experiência de venda foi na festa junina do próprio Colégio Farroupilha. “Ali foi o teste, foi a primeira vez que trocamos brownie por dinheiro. Foi bacana porque ali eu consegui ter um feedback ”, lembra. Hoje, ele produz 900 formas de brownies por mês, o que resulta em 18 mil fatias.
No colégio, Schimitz é responsável por uma equipe de 25 pessoas abrangendo comunicação, atendimento (recepções, matrícula e telefonia) e serviços (cursos extracurriculares). Segundo ele, dá para conciliar as duas coisas por causa da flexibilidade. “No Farroupilha meu trabalho como gerente é mensurado por resultados (tenho metas e prazos e preciso atingi-los) e não preciso cumprir horários, mas responder à direção sempre que necessário.”
Monotonia passa longe da vida do gerente. Pela manhã Schmitz fica no Farroupilha e acompanha a equipe encaminhando as demandas e participando de reuniões. A tarde ele fica na Charlie onde faz de tudo. Desde a administração até compras. “Trabalho sete dias por semana, as vezes mais de 14h por dia, mas vale muito a pena, pois estou realizando um sonho, empreendendo em meio à crise e crescendo”, afirma.

Joaninha Colorida

A relações públicas e professora universitária, Vanessa Purper, 39 anos, divide seu dia entre aulas, freelas e o trabalho com a marca de roupas Joaninha Colorida. Junto com uma sócia, Vanessa administra e expõe os produtos em feiras e eventos  de Porto Alegre. Ela diz que empreende também pela necessidade de diversificar a fonte de renda, mas que gosta de estar envolvida com várias coisas ao mesmo tempo. “É possível dar conta de tudo com foco e organização, cuidando para não se sobrecarregar e acabar fazendo as coisas sem atenção e qualidade”, comenta.

Bar, cachaça e comunicação

Guilherme Carlin, 33 anos, também é um inquieto das multitarefas. Jornalista de formação, ele é proprietário do Bar 512, localizado no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, e fundador da marca de cachaça Da Chica. Mas o trabalho de Carlin não para por aí. Há cerca de um ano e meio, ele inaugurou a produtora cultural Outros500. Segundo o jornalista, a produtora parte do desejo de voltar a trabalhar com comunicação. “Tenho colaboradores que me ajudam bastante e isto facilita as coisas, tem dado certo”, define.

Brincos africanos fazem parte da rotina

Greice Jones, 34 anos, e Angela Novello, 31, criaram a marca de bijuterias PendurAdinkra. Greice conta que em meio a uma conversa sobre falta de dinheiro surgiu a ideia de confeccionar brincos com signos africanos. "Decidimos que o ideal seria ganhar um milhão", diverte-se Greice. Além da marca as duas se revezam em outras atividades. Angela é professora da rede pública de ensino em duas escolas e faz parte de grupos artísticos, Greice trabalha como assistente social num centro de referência para mulheres, além de ser ativista do movimento negro e mãe. Elas procuram atender as demandas com cuidado para não “dar um passo maior que a perna”, como definem. “É difícil empreender e trabalhar. Só temos a madrugada para planejar a confecção dos brincos, mesmo assim vale a pena", afirma Angela.