Rússia admite ter alvos além do EI

Bombardeiros russos iniciaram, na quarta-feira, uma ofensiva aérea em território sírio

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Sergei Lavrov afirmou que 'não tinha dados' sobre mortes de civis
A Rússia realizou novos bombardeios na Síria contra a facção radical Estado Islâmico (EI) na madrugada desta quinta-feira, informou o Ministério da Defesa russo. Dentre os alvos, estavam um estoque de munições próximo a Idlib, um centro de comando próximo a Hama e um local de montagem de carros-bomba em Homs. Alvos do EI na província de Raqqa, no Norte da Síria, também foram atingidos.
O panorama da guerra civil na Síria foi alterado pela Rússia ao realizar 20 ataques aéreos, na quarta-feira, em favor do regime de Bashar al-Assad, sob a justificativa de conter o avanço do EI. Após ter o objetivo de sua operação militar em território sírio questionado pelo Ocidente, as autoridades da Rússia admitiram que têm como alvo "uma lista" de grupos radicais. "Essas organizações são conhecidas, e os alvos são escolhidos em coordenação com as Forças Armadas da Síria", salientou o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, sem citar grupos específicos.
Questionado se o presidente Vladimir Putin estava satisfeito com o resultado da campanha militar, Peskov afirmou que ainda era "muito cedo" para discutir a questão. O ex-candidato republicano à presidência dos Estados Unidos John Mccain explicou, na quinta-feira, que pode "confirmar absolutamente que os bombardeios russos foram ataques contra recrutas do Exército Livre da Síria, armados e treinados pela CIA".
O ministro russo dos Negócios Estrangeiros, Sergei Lavrov, classificou de "infundadas" as acusações de que os ataques aéreos na Síria não tenham visado ao EI e que tenham atingido civis. "Os rumores de que os alvos desses ataques aéreos não são as posições do EI são infundados", afirmou Lavrov, após uma reunião com o ministro norte-americano, John Kerry, em Nova Iorque, acrescentando que "não tinha dados" sobre mortes de civis.
O secretário de Defesa norte-americano, Ashton Carter, disse, na quarta-feira, que os bombardeios podem ter atingido redutos da oposição a Assad em que não há presença do EI. Centenas de soldados armados do Irã chegaram à Síria nos últimos 10 dias e em breve se somarão às forças do regime de Assad e da milícia libanesa Hezbollah para iniciar uma grande ofensiva por terra apoiada pelos bombardeios russos.
A participação da Rússia na guerra síria aprofunda a crise entre Moscou e o Ocidente, que já vinha se agravando com o apoio do Kremlin a separatistas no Leste da Ucrânia e com a anexação da península da Crimeia, em março de 2014. Desde o início do conflito sírio, em março de 2011, nos eventos relacionados ao levante popular conhecido como Primavera Árabe, o Ocidente vinha apostando em uma solução que passasse pela deposição de Assad. A Rússia, aliada de longa data do regime sírio, reiterou diversas vezes sua defesa de que Assad permaneça no poder e vetou em instâncias internacionais resoluções sobre a crise. 
Após a ascensão do EI, que declarou um califado em áreas da Síria e do Iraque em agosto de 2014, os Estados Unidos iniciaram no mês seguinte uma campanha internacional de ataques aéreos contra posições da facção sem coordenar esforços com o regime sírio. No domingo passado, a França, que integra a coalizão, realizou seu primeiro bombardeio na região. A guerra civil na Síria já deixou mais de 250 mil mortos e forçou o deslocamento de 11 milhões de pessoas em quatro anos e meio.

Putin nega morte de civis e garante estar pronto para enfrentar acusações

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, negou, nesta quinta-feira, que civis tenham sido mortos em ataques aéreos na Síria e afirmou estar pronto para enfrentar acusações. "Os primeiros relatos de vítimas civis começaram a chegar antes mesmo de nossos jatos decolarem", criticou.
Os jatos russos realizaram o segundo dia de ataques na Síria e alguns ativistas alegaram que os alvos incluíram rebeldes apoiados pelos Estados Unidos e civis. Em Paris, o embaixador russo, Alexander Orlov, insistiu que aviões de guerra russos na Síria estavam atingindo os terroristas e que os alvos eram instalações do Estado Islâmico e do Jabhat al-Nusra.