Empreendedores criam empresas, produtos e serviços com inspiração de modelos bem-sucedidos no exterior

Global com cara local


Empreendedores criam empresas, produtos e serviços com inspiração de modelos bem-sucedidos no exterior

A culinária tailandesa é capaz de despertar os sentidos. Os pratos coloridos, de aroma peculiar, misturam de maneira inusitada saborosas ervas, frutas, legumes e especiarias. É uma combinação ousada, capaz de unir, em um único prato, o doce, o apimentado, o amargo e o salgado. Ficou com água na boca? Pois saiba que, graças a iniciativas de brasileiros que viajam o mundo, opções gastronômicas como essa podem ser encontradas em negócios locais.
A culinária tailandesa é capaz de despertar os sentidos. Os pratos coloridos, de aroma peculiar, misturam de maneira inusitada saborosas ervas, frutas, legumes e especiarias. É uma combinação ousada, capaz de unir, em um único prato, o doce, o apimentado, o amargo e o salgado. Ficou com água na boca? Pois saiba que, graças a iniciativas de brasileiros que viajam o mundo, opções gastronômicas como essa podem ser encontradas em negócios locais.
Na maioria dos restaurantes, produtos assim são caros. Os sócios do Woking Thai in Box, Gabriel Gandolfi, de 30 anos, e Marcelo Mancuso, de 25, tentam mudar esse conceito. Uma porção de arroz jasmin acompanhado de repolho verde e roxo, cebola, cenoura, cebolinha verde, carne de porco e molho de ostras, que pode custar mais de R$ 50 em um tradicional restaurante tailandês, no Woking sai por R$ 20,50 - com bebida.
A ideia de democratizar a comida thai com preços acessíveis surgiu após uma temporada de Mancuso na Europa. Ele ficou encantado com uma rede asiática de estilo takeaway - ou seja, com refeições para comer em casa ou no escritório. Plim: percebeu que o Brasil estava carente do serviço.
Depois de estruturar o plano de negócios com Gandolfi, foram investidos R$ 400 mil. A inauguração, na avenida Carlos Gomes, em Porto Alegre, ocorreu em março de 2014, ano em que quase 1,9 milhão de negócios foram abertos no Brasil. Dezoito meses depois do pontapé inicial, o faturamento médio é de R$ 120 mil por mês.
A dupla faz parte da geração de empreendedores que se inspiraram em modelos bem-sucedidos no exterior para abrir o negócio próprio. A aposta é importante para a economia, claro, e também agrega valor ao Brasil diante da globalização. "São iniciativas assim que aproximam nosso País do mundo", observa o professor do FGV Management, Cristóvão de Souza.
Alguns modelos já estão consolidados. É o caso de startups, food trucks e cafeterias que investem no sistema "to go" (que permite sair do restaurante degustando a bebida em copos térmicos). "Uma ideia copiada, melhorada e adaptada pode ser sucesso em qualquer lugar do mundo", diz o diretor da Agência de Gestão de Empreendimentos da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs), Leandro Pompermaier.
Mas, alto lá: nem tudo o que dá certo num país funciona em outro. Em 2013, quando lançou a própria webstore de pães artesanais, a Pains du Monde Boulangerie, o engenheiro Paulo Kaltchuk esperava que um conceito em ascensão no exterior prosperasse também na capital gaúcha. Durou pouco. "Quando o negócio ia virar a curva e dar lucro, o faturamento caiu", relata Kaltchuk. Neste ano, com queda nas vendas, potencializada pela crise e pela cultura de Porto Alegre, que resiste a comprar pães pela internet, a operação fechou.
As razões para um possível vexame ao abrir um negócio inspirado em um modelo internacional são muitas e difíceis de serem examinadas sem o estudo adequado. Os principais motivos podem estar relacionados ao desenvolvimento do segmento, a condições climáticas, a dificuldade de acesso à capital financeiro ou, e está aí a Pains du Monde para comprovar, uma crise somada a questões culturais. "É preciso saber se os clientes têm características de consumo semelhantes às do exterior", alerta Souza.
Um bom indicativo, segundo ele, é observar o comportamento dos brasileiros em viagens internacionais. "Se eles utilizam determinado tipo de serviço ou produto no exterior com muita frequência, essa é uma boa indicação." No caso do Woking, Gandolfi e Mancuso sabiam o que estavam fazendo desde o início - os dois tinham quatro anos de experiência à frente do Mercado do Chopp.
Além de copiar e adaptar o modelo thai visto na Europa, eles deram um toque especial ao negócio. Quem chega para fazer o pedido no balcão, pode acompanhar o preparo dos cozinheiros pelo vidro. Depois de pronta, a comida é servida dentro da caixinha para o cliente levar - ou comer ali mesmo. "Assim, a gente desmistifica a gastronomia thai, que geralmente é servida nos restaurantes com talheres de prata e toda a pompa", dispara Gandolfi. Os rapazes querem abrir outra loja no ano que vem.

De onde vem a inspiração?

O GeraçãoE destaca abaixo mais quatro iniciativas com toque global, mas com características regionais, que podem ser encontradas no Rio Grande do Sul.
 

Das drugstores americanas

O cearense Francisco Deusmar de Queirós aprendeu a trabalhar desde cedo. Aos oito anos, vendia frutas na mercearia do pai para manter os gastos com a escola. Mais tarde, estudou economia, trabalhou na Bolsa de Valores e abriu a própria corretora de ações. O negócio de ouro veio depois de visitar os Estados Unidos.
Inspirado nas drugstores americanas - que vendem desde alimentos a produtos de limpeza -, Queirós fundou, em 1981, a Farmácias Pague Menos. Hoje, são quase 800 lojas espalhadas pelo País (13 no Estado) e faturamento anual de R$ 4,3 bilhões.
Do montante, 30% (R$ 1,3 bilhão) corresponde à venda de não medicamentos. "Com a concorrência crescente, a única saída para o setor é ampliar o mix de vendas", defende o empresário. "Isso permite praticar nos medicamentos preços mais compatíveis."
 

Das atividades voluntárias do Primeiro Mundo

Inspirados em atividades voluntárias comuns na Europa, o Free Walk POA é composto por guias voluntários que cultuam verdadeira paixão por Porto Alegre. O grupo oferece, todos os sábados (exceto quando chove), um passeio a pé pelos principais pontos turísticos da região central da Capital. Há, inclusive, tours em inglês e espanhol.
"É uma maneira que encontramos de valorizar a cultura local e conhecer pessoas diferentes", resume o administrador Bernardo Pereira, um dos voluntários. A caminhada é gratuita, mas o participante pode deixar sua contribuição.

Dos cafés da Austrália

O DNA empreendedor deu sinal quando Karine Camejo ainda era criança. Aos nove anos, ela pediu para a mãe alugar uma banquinha na feira de Páscoa da escola para vender chocolates. Mais tarde, já adulta e com a experiência do intercâmbio na Austrália, abriu uma cafeteria inspirada em modelos internacionais.
"Eu sempre quis empreender, e lá na Austrália a cultura do café e do sistema 'to go' estão muito desenvolvidas", diz. O Valkiria Café, inaugurado em abril do ano passado, na avenida Carlos Gomes, em Porto Alegre, atende de 200 a 300 pessoas por dia.
 

Dos calçados europeus

Instalada em Ijuí, no Noroeste do Estado, a Zunes era conhecida por produzir modelos tradicionais de alpargata. Isso mudou em 2012, quando o filho dos fundadores, Adriano Zucco, retornou do exterior.
Ele, que havia morado por 10 anos em países como Espanha e Finlândia, ajudou a alavancar a marca aplicando tendências que tinha visto lá fora. "Quando saí do Brasil, enxerguei um universo mais amplo para os negócios", diz. Hoje, a empresa oferece 400 modelos, desde a tradicional alpargata até opções com cadarço e elástico. Segundo Adriano, o reposicionamento levou a Zunes a crescer quase 1.000% desde sua volta.