Porto Maravilha começa a mudar o Rio de Janeiro

Obras já concluídas vão mostrando cenários que estavam escondidos da população e valorizando prédios e ruas do Centro

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Conjunto de nove praças interligará caminhos pela região devolvendo aos cariocas um patrimônio histórico
Saiu o cinza da Perimetral. Surgirão o verde das árvores e o colorido dos jardins. No caminho do elevado posto abaixo, a orla Prefeito Luiz Paulo Conde integrará nove praças no Centro, das imediações do Museu Histórico Nacional até o Armazém 8 do porto. Algumas são velhas conhecidas, como a reformulada Praça Mauá e a histórica Praça Quinze. Outras cinco são novidades que estimularão a redescoberta da frente marítima às margens da Baía de Guanabara. Um caminho que, quando a poeira das obras assentar, vai revelar ângulos antes escondidos da cidade. E que incluirá o acesso a um trecho, no contorno do Morro de São Bento, que ficou 252 anos restrito à Marinha, na área do I Distrito Naval.
Ao longo de 3,5 quilômetros, serão mais de 600 árvores plantadas. Para cada praça, afirma José Renato Pontes, presidente da concessionária Porto Novo, haverá um tratamento urbanístico e paisagístico específico, formando um corredor que se ligará também, por calçadas, à praça Salgado Filho, em frente ao Aeroporto Santos Dumont, e ao Parque do Flamengo.
"Esse é o grande movimento: tiramos a Perimetral, os carros e o mergulhão, substituímos pelos espaços de convivência para o pedestre. A ideia é incentivar as pessoas a ocupá-los, como já ocorre de forma surpreendente na praça Mauá, lotada nos dias úteis e também nos fins de semana", afirma José Renato, ressaltando que as novas praças ainda devem ganhar nomes oficiais.
Partindo do porto, a primeira área de lazer será o boulevard sobre o traçado da avenida Rodrigues Alves, numa grande praça longitudinal entre os armazéns 1 e 8. O VLT (veículo leve sobre trilhos) também passará por ali. E o público poderá ter acesso à beira da baía quando ao menos quatro dos galpões (1, 2, 3 e 6) perderem o status de área de alfândega, o que já está acertado com a União. O Armazém 1, por exemplo, receberá o YouTube Space, com estúdios, cenários, cursos e workshops da empresa. Quanto ao 2 e ao 3, a ideia da concessionária Pier Mauá é transformá-los em polos de cultura, lazer e gastronomia, num projeto em fase de finalização.
O corredor segue pela praça Mauá e continua por um calçadão que cruzará a área da Marinha até a praça da Candelária, uma esplanada com jardins que surgirá entre a igreja e o mar. Adiante, virá uma sequência de três áreas com propostas diferentes. A chamada de "praça dos museus" ficará próxima à Casa França-Brasil, ao Centro Cultural Banco do Brasil, ao Centro Cultural Correios e ao Museu da Marinha. O espaço deve ser transformado numa espécie de extensão desse circuito de arte.
Nas imediações das ruas do Ouvidor e do Mercado, ficará a "praça do povo", destinada a eventos culturais, perto de onde acontece atualmente o concorrido Samba da Ouvidor. Colada a ela, próximo ao prédio da antiga Bolsa de Valores, haverá uma "praça corporativa": as pessoas que trabalham no Centro serão incentivadas a frequentá-la, na hora do almoço ou na happy hour. Já a Praça Quinze, com lajes sobre as antigas entradas do mergulhão, voltará a ter seu tamanho e concepção originais. Monumentos históricos como o Paço Imperial e o chafariz do Mestre Valentim vão manter o devido destaque na paisagem. Haverá também uma estação do VLT, para integração com as barcas.
O caminho se completará com outras duas áreas próximas ao Museu Histórico Nacional. Nesse trecho, a via expressa que ligará o Aterro ao porto passará pela superfície, antes de entrar pelo maior túnel em área urbana do País, com três quilômetros de extensão. De um lado das pistas, junto à baía, a Praça Marechal Âncora, onde fica o restaurante Albamar, está sendo totalmente revitalizada e rearborizada. Do outro, o antigo terminal de ônibus da Misericórdia se transformará, de novo, na Praça da Misericórdia. Dois espaços que serão interligados por uma passagem por baixo da via expressa.
"A ideia é tornar essas áreas agradáveis e iluminadas, confortáveis e com sombra para as pessoas caminharem. Haverá bancas de jornais, bancos no padrão dos da praça Mauá e outros equipamentos", diz José Renato, lembrando que os projetos de paisagismo e urbanismo foram feitos pelos escritórios B ABR Backheuser e Riera Arquitetura e Raiar Engenharia.
O conceito, para o arquiteto e urbanista Luiz Eduardo Índio da Costa, torna a cidade mais humana, priorizando o pedestre em relação ao urbanismo viário, voltado para os carros. "Meu sonho seria estender esse conceito do Parque do Flamengo até o Galeão. Pode parecer utópico, como pareceu, a princípio, a retirada da Perimetral, mas não é impossível", diz ele.
Já Pedro da Luz, presidente do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB), destaca outro aspecto: a possibilidade de a nova orla mudar a relação da cidade com a Baía de Guanabara, que ganhará mais visibilidade. Ele aponta, contudo, um senão: o fato de as pistas de carros virem à superfície antes do Museu Histórico Nacional. "Esse prédio é uma joia no trajeto. A travessia da beira da baía até o museu, na minha opinião, está mal costurada. As pistas no meio continuarão subdividindo esse trecho."
As praças têm as obras mais adiantadas, assim como o boulevard do porto. A inauguração será nos primeiros meses de 2016. Nos trechos próximos à Candelária, são realizadas obras de escavação do túnel da via expressa. A construção das praças começará à medida que essas intervenções forem finalizadas. A previsão é que todas fiquem prontas entre maio e junho, antes das Olimpíadas.

Empresa Brasileira de Engenharia busca parceiro para Angra 3

A Empresa Brasileira de Engenharia (EBE) busca novos parceiros para tocar o contrato de montagem eletromecânica da Usina Nuclear Angra 3. A lista inclui empresas chinesas, americanas, russas e empreiteiras brasileiras. A obra está a cargo do consórcio Angramon, formado pela própria EBE e outros seis grupos: UTC, Odebrecht, Camargo Corrêa, Techint, Queiroz Galvão e Andrade Gutierrez. O Angramon já comunicou a desistência do contrato à Eletronuclear.
O presidente da EBE, Paulo Massa, não confirma que um pedido oficial de rescisão tenha sido enviado à estatal na semana passada. Ele admite, entretanto, que pretende manter o contrato mesmo que suas sócias desistam do negócio e que já iniciou conversas com investidores. A meta da EBE é ter uma proposta alternativa na manga em um prazo de 20 a 30 dias. O temor é que a estatal decida relicitar o contrato. "Se zerar tudo e relicitar, vai jogar a obra para 2023", disse.
A licitação do contrato de montagem eletromecânica foi iniciada em 2009, mas só saiu do papel em 2013. As obras começaram em setembro de 2014. Serão investidos R$ 2,9 bilhões, segundo o site da Eletronuclear. A obra eletromecânica de Angra 3 representa cerca de 30% da carteira do grupo MPE, em que se insere a EBE. Com o setor de óleo e gás e infraestrutura parado, o contrato ganha importância para a EBE.
Em setembro, a Eletronuclear suspendeu por 60 dias o contrato com o Angramon, depois que Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Queiroz Galvão e Techint pediram afastamento. Em outubro, a UTC saiu. A Eletronuclear busca uma solução para financiar a obra e vai recorrer da proposta da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para o reajuste das tarifas de Angra 1 e 2 a partir de 2016, que ficou abaixo dos 28,3% pedidos pela empresa.