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Publicada em 23 de Agosto de 2017 às 17:46

Uruguai e baixa produtividade interna são os vilões da hora

Ano tem sido marcado pelo aumento da produção e queda dos preços ao criador e ao consumidor, segundo a AGL

Ano tem sido marcado pelo aumento da produção e queda dos preços ao criador e ao consumidor, segundo a AGL

VISUAL HUNT/DIVULGAÇÃO/JC
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Não passa por um bom momento o setor lácteo no Rio Grande do Sul. Problemas de ordem externa e interna estão deixando o Estado e o Brasil para trás em quesitos como lucratividade, produtividade e competitividade. Lá fora, o maior inimigo é o leite em pó uruguaio. Internamente, os vilões do setor incluem a baixa produtividade e a crise econômica, que costumam retirar dos carrinhos de compras dos consumidores brasileiros derivados como queijo e iogurte. E, para piorar, para o produtor, agosto e setembro deve registrar nova queda nos preços do leite.
Não passa por um bom momento o setor lácteo no Rio Grande do Sul. Problemas de ordem externa e interna estão deixando o Estado e o Brasil para trás em quesitos como lucratividade, produtividade e competitividade. Lá fora, o maior inimigo é o leite em pó uruguaio. Internamente, os vilões do setor incluem a baixa produtividade e a crise econômica, que costumam retirar dos carrinhos de compras dos consumidores brasileiros derivados como queijo e iogurte. E, para piorar, para o produtor, agosto e setembro deve registrar nova queda nos preços do leite.
Em 2017, segundo a Associação Gaúcha de Laticinistas e Laticínios (AGL), a produção de leite aumentou em quase todos os estados do Brasil e derrubou preços pagos na fazenda e ao consumidor, segundo Neila Richards, presidente da entidade. De janeiro a junho, por exemplo, Santa Catarina ampliou em 8,57% o volume produzido, o Paraná também, acima de 8%. No Rio Grande do Sul, o incremento foi menor, de 5,51%. O preço do leite pago ao produtor caiu de R$ 1,33 em 18 de agosto de 2016 para
R$ 1,12 no mesmo período deste ano (redução de 15%, sem considerar a inflação do período).
"Também chama a atenção os grandes investimentos no setor, com indústrias de grande porte e multinacionais, com a mexicana Lala, mirando no Brasil, o que mexe com todo mercado", ressalta Neila.
O Rio Grande do Sul, assim como o Brasil, segundo Neila, têm um intenso trabalho a fazer. "Nossa produção anual, por animal, é de 1.289 litros. Nos EUA, é de quase 10 mil, e Argentina, 4,8 mil", exemplifica ela, com base nos dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO). Além das fronteiras, o grande dano e foco de batalha é o aumento do ingresso de leite em pó do Uruguai no Brasil, que estaria vendendo para cá inclusive produto de outros países como se fosse seu.
De acordo com o Sindicato da Indústria de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat-RS), o Uruguai produziu 1,7 bilhão de litros de leite em 2016 e consumiu 700 milhões de litros. Se convertido em pó, diz o sindicato, esse volume renderia 120 mil toneladas do produto. O Brasil recebeu 100 mil toneladas de leite em pó e 18 mil toneladas em queijos do país vizinho, o que representa praticamente todo o volume restante. Os números indicam uma possível triangulação de produção de outros países para ingresso no Brasil com incentivo. O caso foi denunciado na Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados no dia 15 de agosto, em Brasília. Para o presidente da entidade, Alexandre Guerra, o mais urgente, agora, é conseguir que a União adquira emergencialmente 50 mil toneladas de leite em pó para enxugar o mercado e permitir uma reação nos preços.
"Mas, além disso, o valor que o governo quer pagar, R$ 11,80 pelo quilo do leite em pó precisa ser revisto, do contrário não poderá nem ser considerado um apoio para mudar o cenário. O pagamento deve se ao menos R$ 14,00 o quilo", argumenta Guerra.

Baixos estoques deram início à crise em 2012

Novas regras do Rispoa vão exigir mudanças em manejo e sanidade animal

Novas regras do Rispoa vão exigir mudanças em manejo e sanidade animal

WALAKTE -ISTOCK/DIVULGAÇÃO/JC
De acordo com a presidente da AGL, Neila Richards, a crise do leite em pó teve início em 2012, quando havia pouco leite em pó nos estoques mundiais, o que fez com que o preço permanecesse elevado nos dois anos posteriores. Como o produto é muito valorizado, em 2015, a Europa extinguiu as cotas locais que fixavam patamares de produção, e, então, os produtores aumentaram a produtividade, reduzindo as importações do Uruguai, que passou a direcionar a produção para o Brasil. E, para piorar, as indústrias e produtores ainda devem enfrentar dificuldades para atender uma mudança na legislação brasileira.
"As novas regras do Rispoa colocam que o leite em pó agora precisará contar com 34% de proteína, e o leite brasileiro tem entre 28% e 30% de proteína. Nós não conseguimos atender a própria legislação brasileira. Para conseguirmos isso, é preciso incentivar o manejo, mais qualidade de vida aos animais e melhorar a sanidade. É um conjunto de fatores que temos de mudar, urgentemente", alerta Neila.
Após pressões contra os incentivos dados pelo governo à importação de lácteos vindos do Mercosul, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, sinalizou positivamente, no dia 22 de agosto, a retirada do leite da pauta do livre comércio. Maggi tratará da questão na próxima semana, em encontro com o ministro da Pecuária, Agricultura e Pesca do Uruguai, Tabaré Aguerre.

O cenário de aquisições recentes no Brasil

  • Grupo Mexicano Lala adquiriu 19,43% da J&F. É o maior grupo industrial do México, com atuação nos Estados Unidos e América Central.
  • Fundo de Investimento Americano Arlon Latin América comprou 20% da CBL Alimentos, marca Betânia. A CBL Alimentos possui empresas em cinco estados brasileiros.
  • Emmi, multinacional de origem suíça, que ainda não tinha atuação no mercado nacional, adquiriu 40% do Laticínio Porto Alegre, um dos cinco maiores laticínios de Minas Gerais.
  • Grupo Italiano Granarolo comprou 60% da Allfood.
  • Leprino Food Company, norte-americana com forte atuação no mercado de queijos para food services, adquiriu 49% do Laticínio Picnic (PR).
  • General Mills, norte-americana, adquiriu o Laticínios Carolina (PR).
  • Lactalis (francesa) ficou com todo o negócio de lácteos da BRF, além da operação de produção de queijos da Balkis (SP).

Os maiores produtores nacionais (em litros)

  • 1º Minas Gerais - 9,14 bilhões/ano
  • 2º Paraná - 4,7 bilhões/ano
  • 3º Rio Grande do Sul - 4,59 bilhões/ano
 

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