Na noite de 31 de dezembro, a cidade parece suspensa. As ruas esvaziam, as mensagens de “boas festas” se repetem e a esperança se renova na contagem regressiva. Dentro de casa, a ceia é preparada, os abraços se antecipam e as famílias se reúnem. Mas há um detalhe que a virada do ano não revela: o município não entra em modo avião.
Enquanto muita gente celebra, alguém está de plantão na viatura, na ambulância, no hospital, na unidade de pronto atendimento, no Conselho Tutelar. Até a festa promovida pela cidade envolve agentes públicos que trabalharam duro para que tudo corra bem.
No dia seguinte, tem gente recolhendo o lixo, limpando as ruas e devolvendo o ritmo ao espaço público. Tem servidor cuidando da rede de água, equipe na limpeza urbana, na vigilância, na guarda, na manutenção da iluminação, na assistência social. E, se tudo funciona, quase ninguém comenta. Serviço público bem feito é, por natureza, discreto. Quando falha, o grito sempre é alto. Essa é a lógica do cotidiano: quando a cidade falha, a indignação é instantânea.
Quando a cidade funciona, a normalidade vira silêncio. Só que esse “silêncio” tem custo, escala, treinamento, planejamento e, sobretudo, gente. Gente com família, com cansaço, enfrentando medos e acumulando turnos. Gente que, muitas vezes, sustenta o essencial com equipe reduzida, orçamento apertado e demanda crescente, justamente no período em que a ideia de “pausa” parece mais sedutora. Reconhecer isso não é romantizar. É amadurecer.
O cidadão tem todo o direito de exigir qualidade e rapidez, mas a forma como exigimos também define o tipo de comunidade que queremos ser. Não dá para pedir acolhimento entregando agressão. Não dá para cobrar eficiência tratando o servidor como inimigo. E não dá para querer um município “sempre disponível” sem aceitar que processos, canais e prioridades precisam existir, para que a urgência não engula tudo o que é mais importante e para que o improviso não vire regra.
A propósito, a “mágica” que muita gente espera do Poder Público, não é feitiço, é método. E método tem nome pouco glamouroso: fila, protocolo, rotina, conferência, prestação de contas. Funciona devagar demais quando falta estrutura, vira milagre quando alguém resolve “no grito”. E aí, por ironia, o milagre vira padrão exigido.
Uma boa dica de compromisso público para 2026, talvez, seja bem mais simples do que se imagina: previsibilidade. Filas mais transparentes, prazos mais honestos, protocolos acessíveis e retorno eficiente para a população. Menos dependência do “chama alguém que resolva” e mais instituição funcionando com regra, método, eficiência e respeito.
Quando os fogos estourarem, vale lembrar: a cidade não se sustenta por magia. Ela se sustenta por pessoas. E o ano novo começa, de verdade, no primeiro plantão do dia 1º de janeiro, quando a vida segue, silenciosa, por trás dos bastidores. Que a virada traga paz às famílias, com muita saúde, respeito e confiança. Boas Festas e Feliz Ano Novo!