Porto Alegre,

Publicada em 20 de Outubro de 2025 às 16:43

Erosão mantém cemitério em Cachoeira do Sul parcialmente interditado

Cemitério das Irmandades teve parte de sua área comprometida após um deslizamento que atingiu a encosta do Rio Jacuí

Cemitério das Irmandades teve parte de sua área comprometida após um deslizamento que atingiu a encosta do Rio Jacuí

/Giovani Wrasse
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Larissa Britto
Larissa Britto Repórter
Localizado em Cachoeira do Sul, o Cemitério das Irmandades, que teve parte de sua área comprometida após um deslizamento de terra que atingiu a encosta do Rio Jacuí, segue parcialmente interditado após quase dois anos. A erosão, que ocorreu em dezembro de 2023, se intensificou após as enchentes de 2024, comprometendo também estruturas de áreas próximas ao local. A confirmação das causas da erosão ainda dependem de estudos mais aprofundados. Para isso, a Defesa Civil Municipal solicitou à Defesa Civil do Estado e da União uma investigação técnica. 
Localizado em Cachoeira do Sul, o Cemitério das Irmandades, que teve parte de sua área comprometida após um deslizamento de terra que atingiu a encosta do Rio Jacuí, segue parcialmente interditado após quase dois anos. A erosão, que ocorreu em dezembro de 2023, se intensificou após as enchentes de 2024, comprometendo também estruturas de áreas próximas ao local. A confirmação das causas da erosão ainda dependem de estudos mais aprofundados. Para isso, a Defesa Civil Municipal solicitou à Defesa Civil do Estado e da União uma investigação técnica. 
A fim de investigar preliminarmente as causas do deslizamento, a gestão municipal, junto à Mitra Diocesana, que é responsável pelo cemitério, levantou um estudo que constatou que as águas do rio provocaram um solapamento de base, ou seja, uma erosão na base do barranco, causando seu enfraquecimento. Além disso, foram identificadas erosões tubulares, conhecidas como “piping”, que fazem com que os taludes percam resistência.
“Nós temos um laudo, que é parcial, ou seja, ele não apresenta com profundidade o estudo do solo. Esse talude, que está descoberto hoje, está posicionado exatamente na curva do Rio Jacuí. Esse fator geográfico e hidrológico gera o impacto no barranco. O que nós temos de descrição do engenheiro que fez o estudo parcial é que a força e o atrito da água causam o solapamento de base e a erosão tubular, que é outra característica identificada em alguns pontos”, explica Gabriel Lobato, assessor do gabinete do prefeito, ao qual a Defesa Civil Municipal está vinculada.
Junto ao chefe de gabinete Cleiton dos Santos - responsável pela Defesa Civil do município - Gabriel explica que o município não possui recursos técnicos e financeiros suficientes para realizar o diagnóstico aprofundado do problema, que se agrava a cada chuva intensa, e tampouco resolvê-lo. Em abril, o município cachoeirense encaminhou um dossiê à Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil (Sedec), que informou que os recursos disponíveis são insuficientes para a resolução do problema. O dossiê possui documentações históricas da Defesa Civil, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, do Hospital de Caridade e Beneficência (HCB) e da Mitra Diocesana.
Posteriormente, o município solicitou à Defesa Civil do Estado o pedido de recursos para realizar o diagnóstico e obras de contenção. Além disso, o processo foi encaminhado à Secretaria da Reconstrução Gaúcha e à Secretaria para Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul. 
O chefe de gabinete conta que, em março, a gestão municipal e representantes da Mitra Diocesana se reuniram com agentes da Defesa Civil do Estado para realizarem uma vistoria no local. “Nós temos reuniões sistemáticas com a Defesa Civil da União e a Defesa Civil do Estado. A União já apontou que, dentro do diagnóstico, vai aportar recursos para a reconstrução, mas nós ainda estamos aguardando resposta da Defesa Civil do governo do Rio Grande do Sul. O nosso pedido é que o Estado banque o diagnóstico através de recursos do fundo de reconstrução, porque nós estamos em estado de emergência em função das enchentes recorrentes”, explica.
Em maio do ano passado, ao menos uma residência próxima ao local sofreu com os impactos da erosão e teve que ser interditada. Já em julho deste ano, com as fortes chuvas que atingiram o Estado, parte do estacionamento do centenário hospital e um pavilhão em desuso de uma indústria de alimentos tiveram que ser interditados, de acordo com a Defesa Civil. 
Cleiton diz que uma das preocupações é que a erosão afete significativamente a estrutura do HCB, que possui cerca de R$ 2 milhões investidos. “Nós não podemos abrir mão disso. A preocupação maior é por ser um hospital do SUS, daí o pedido de intervenção do governo federal, bancando as obras a partir do diagnóstico”, pontua o chefe de gabinete.

 

Moradores cobram ação nas redes sociais após erosão afetar cemitério em Cachoeira

Local fúnebre abrigava ao menos 4,2 mil sepulturas em 7 mil metros quadrados

Local fúnebre abrigava ao menos 4,2 mil sepulturas em 7 mil metros quadrados

/Giovani Wrasse/Divulgação/Cidades
Com 198 anos de história, o cemitério, que abrigava ao menos 4,2 mil sepulturas em 7 mil metros quadrados, teve 160 metros de extensão de sua área comprometidos com o deslizamento de terra. Com isso, ao menos 380 túmulos tiveram que ser exumados e realocados em cemitérios da cidade. O cemitério municipal Jardim da Paz foi um dos locais que permitiu a transferência dos corpos e receberá, até o fim do ano, a instalação de 300 novos túmulos. 
Em um post publicado nas redes sociais em 11 de outubro pela página “Minha Cachoeira”, que contém a foto do local da erosão, dezenas de comentários feitos por moradores reivindicam obras de reconstrução, e alguns expõem que tiveram que retirar os restos mortais de parentes e amigos do local. 
Uma moradora relatou nos comentários que, oito meses após enterrar sua mãe, teve que retirá-la às pressas do local e realizar seu enterro novamente. “É um gasto à toa, sem falar no desgaste emocional de sofrer tendo que enterrar duas vezes”, descreve. Outro morador diz que “a preocupação da família é diária. Temos entes queridos já falecidos e não há um dia de sossego sabendo que o cemitério encontra-se nessas condições”, lamenta.
Responsável pela administração do local, o padre Helvio Luis Cândido conta que após notar que havia rachaduras em algumas sepulturas, realizou uma assembleia com os proprietários dos túmulos em novembro de 2023. “Nós vimos uma pequena fissura, mas atravessava praticamente toda a extensão do nosso cemitério. Então, nós expusemos o problema e pedimos encarecidamente que eles (os parentes) nos autorizassem a retirar os restos mortais dos seus falecidos para acomodá-los em ossuários”, explica.
O padre conta que, à época, reuniu-se com pesquisadores da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), que estimou um valor de R$ 25 milhões para obras de recuperação do local. “Depois dessa reunião com a universidade, nós recebemos os técnicos da Defesa Civil do Estado, onde foi aberto um protocolo. Depois, nós partimos para outra fase de estudos que foi com o comitê da Bacia do Jacuí, porque nós precisávamos entender a dinâmica do rio. Claro que os estudos ainda não terminam aqui, nós vamos precisar de outras fases de estudo da hidrodinâmica do rio, que não foram feitas ainda”, pontua.
O religioso acrescenta que ainda está em contato com técnicos da UFSM a fim de definir se a universidade conseguirá desenvolver um projeto para o diagnóstico da área. “Agora, nós vamos precisar de outros estudos e a universidade provavelmente nos ajudará, mas nós esperamos ainda uma manifestação da Defesa Civil do Estado com relação a esse levantamento”, salienta.

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