Porto Alegre,

Publicada em 19 de Setembro de 2025 às 11:53

Lago em Imbé é habitat de espécie de jacaré em extinção

Lagoa em Imbé é habitat natural do jacaré-do-papo-amarelo, espécie ameaçada de extinção

Lagoa em Imbé é habitat natural do jacaré-do-papo-amarelo, espécie ameaçada de extinção

Prefeitura de Imbé/Divulgação/Cidades
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Lívia Araújo
Lívia Araújo Repórter
O Lago da Fonte, localizado no centro de Imbé, no Litoral Norte do RS, tem sido habitat de exemplares de jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris), espécie ameaçada de extinção e nativa de áreas alagadas do leste do Brasil. Desde 2020, moradores e visitantes relatam avistamentos dos animais no local, o que motivou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Pesca, Proteção Animal e Agricultura (Semmapa) a reforçar medidas de sinalização e orientação para a população.
O Lago da Fonte, localizado no centro de Imbé, no Litoral Norte do RS, tem sido habitat de exemplares de jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris), espécie ameaçada de extinção e nativa de áreas alagadas do leste do Brasil. Desde 2020, moradores e visitantes relatam avistamentos dos animais no local, o que motivou a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Pesca, Proteção Animal e Agricultura (Semmapa) a reforçar medidas de sinalização e orientação para a população.
De acordo com a bióloga Pâmela Antoni, da Semmapa, as primeiras notificações à prefeitura iniciaram há quatro anos. “Começou com um exemplar adulto, mas, ao longo do tempo, identificamos também dois filhotes e um juvenil”, relatou. A presença de animais em diferentes fases de desenvolvimento sugere a circulação contínua da espécie entre o Lago da Fonte e outras áreas da região. Isso porque, segundo a bióloga, um canal de drenagem pluvial conecta o lago às lagoas do Tramandaí e do Armazém. “Os jacarés vão e vêm. Muitas vezes ficamos semanas sem vê-los, mas eles podem estar nessas lagoas”, explicou.
Para reduzir riscos de interação inadequada entre frequentadores e os jacarés, a prefeitura instalou placas ao redor do lago, alertando sobre a presença da espécie e proibindo atividades como pesca, banho e esportes náuticos, já vedadas por decreto municipal desde 2014. Parte da área também foi cercada, embora de forma parcial, para não comprometer o ciclo reprodutivo de outros animais que vivem no local, como cágados e tigres-d’água. “Optamos por manter acessos abertos para os quelônios, que dependem da circulação entre o lago e a área terrestre para a nidificação”, explicou a bióloga.
A recomendação da Semmapa é de que os frequentadores evitem contato com o animal | Jos? Luiz Filho/DIVULGA??O/CIDADES
A recomendação da Semmapa é de que os frequentadores evitem contato com o animal Jos? Luiz Filho/DIVULGA??O/CIDADES
Ainda assim, há tentativas de aproximação. Em 12 de setembro, um vídeo publicado nas redes sociais mostra um pescador utilizando uma vara de pescar para tentar atrair o animal, e mostrando o jacaré percorrendo as águas do lago. A maioria dos quase 500 comentários são de moradores criticando a atitude e pedindo que os bichos, já conhecidos para quem vive nos arredores, sejam deixados em paz.
A orientação principal da Semmapa é evitar qualquer forma de aproximação ou alimentação dos jacarés. Pamela observa que, embora a espécie não costume atacar seres humanos sem provocação, a percepção de ameaça pode gerar reações imprevisíveis. “Às vezes os jacarés têm mais medo das pessoas do que o contrário. Mas é preciso cuidado: mesmo imóveis, eles podem reagir se se sentirem ameaçados”, afirmou. Além disso, oferecer comida aos animais pode alterar seus hábitos alimentares e aproximá-los de áreas residenciais, aumentando riscos.
O jacaré-do-papo-amarelo é um réptil que pode atingir até três metros de comprimento, embora a maioria dos indivíduos meça entre 1,5 e 2 metros. A espécie tem dieta variada, que inclui insetos, moluscos, anfíbios, peixes e aves aquáticas. No Lago da Fonte, os exemplares observados se alimentam, principalmente, de peixes. Mais ativos durante a noite, tendem a ser vistos em dias quentes, quando permanecem imóveis à beira da água, em busca de calor. “Eles aparecem mais nesses momentos de sol, mas em geral são animais discretos”, destacou Pamela.
A permanência dos jacarés no Lago da Fonte é considerada um indicador da qualidade ambiental do ecossistema. “É uma espécie nativa, protegida por lei, que tem papel fundamental no equilíbrio ecológico. O fato de estarem ali demonstra boas condições ambientais”, avaliou Pamela. A limpeza periódica do lago e de seu entorno é realizada pela Secretaria de Limpeza Urbana, responsável pela retirada de resíduos descartados inadequadamente por frequentadores. “Infelizmente, ainda vemos lixo acumulado, mas não há indícios de poluição por esgoto”, completou.
Além dos jacarés, o lago abriga diversidade de espécies aquáticas, com destaque para os cágados de água doce, comumente avistados pelos moradores. 
A expectativa de vida do jacaré-do-papo-amarelo em ambiente natural pode chegar a 50 anos, podendo se estender até 70 em condições adequadas. O monitoramento feito pela secretaria busca acompanhar o desenvolvimento dos exemplares observados em Imbé, incluindo aqueles avistados ainda filhotes em 2022. “O primeiro filhote que vimos naquela época já deve estar maior. Temos registros de um adulto, um juvenil e um exemplar mais jovem”, relatou Pamela.
Avistamentos da espécie ocorrem pelo menos desde 2020; Semmapa realiza monitoramento periódico | Prefeitura de Imbé/Divulgação/Cidades
Avistamentos da espécie ocorrem pelo menos desde 2020; Semmapa realiza monitoramento periódico Prefeitura de Imbé/Divulgação/Cidades
Embora a Prefeitura tenha recebido solicitações de retirada dos animais, a orientação do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) é manter os jacarés no local, considerando tratar-se de habitat natural para a espécie. O município segue, portanto, com medidas de monitoramento, cercamento parcial e sinalização, além de ações educativas de conscientização junto à comunidade.
O caso do Lago da Fonte se soma a outros registros de jacarés em áreas urbanas do país, como o de Belo Horizonte (MG), onde um exemplar na Lagoa da Pampulha tornou-se conhecido do público. Em Imbé, a preocupação da gestão municipal é garantir que a convivência entre os animais e a população ocorra de forma segura, sem comprometer o equilíbrio ecológico. “É importante que a comunidade compreenda que os jacarés são parte da fauna nativa e que a presença deles no Lago da Fonte reflete a qualidade ambiental. A preservação depende da atitude de todos, respeitando as normas, evitando contato e mantendo o espaço limpo”, reforçou a bióloga.

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