Porto Alegre,

Publicada em 14 de Agosto de 2025 às 13:37

Sociedade Espanhola de Bagé mantém legado do século XIX

Sede social atual foi inaugurada em 1934 para abrigar eventos e reuniões da comunidade espanhola na cidade da Campanha

Sede social atual foi inaugurada em 1934 para abrigar eventos e reuniões da comunidade espanhola na cidade da Campanha

/Joice Cougo/Especial/Cidades
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Joice Cougo
De Bagé, especial para o Cidades
De Bagé, especial para o Cidades
Fundada em 20 de dezembro de 1868, por iniciativa de José Loza, a Sociedade Espanhola de Bagé reúne 156 anos de história e mantém vivas tradições e costumes trazidos pelos imigrantes espanhóis que chegaram à cidade a partir de 1810. A entidade, que nasceu com o objetivo de acolher e fortalecer a comunidade espanhola no município, é hoje um espaço de preservação cultural, com sede social, biblioteca, acervo de documentos e patrimônio histórico.

De acordo com a presidente da entidade, Vera Pinto Vigil, os primeiros imigrantes espanhóis instalados em Bagé se reuniam informalmente, compartilhando histórias e vivências. “Os espanhóis que chegaram em Bagé se reuniam em suas casas para contar suas histórias, suas vivências. A partir daí, tiveram a ideia de construir um prédio para reuniões e artes”, relata. 

 
 
 
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A primeira estrutura erguida foi o Solar Espanhol, inaugurado em 1905 e que hoje abriga o Instituto Municipal de Belas Artes (Imba). Com o tempo, o espaço foi destinado exclusivamente às artes, deixando a comunidade espanhola novamente sem um local próprio para reuniões. A necessidade de um panteão para sepultar membros da colônia motivou a construção, em 1928, do Panteón Social no cemitério da Santa Casa de Bagé.

A sede social atual foi inaugurada em 12 de outubro de 1934, data que passou a marcar anualmente a tradicional festa da Sociedade Espanhola. Localizada na Rua Monsenhor Constábile Hipólito, o prédio é um dos marcos arquitetônicos e culturais da cidade. “A importância da Sociedade Espanhola é somar conhecimentos e levar cultura. Nós também propiciamos aqui aulas de espanhol e de flamenco”, destaca Vera.

As aulas de espanhol são oferecidas gratuitamente por meio de parceria com a Universidade Federal do Pampa (Unipampa). “As pessoas podem aprender a língua gratuitamente”, reforça a presidente. Além do ensino da língua, a programação inclui apresentações artísticas e preservação de acervos históricos.

O registro da presença espanhola em Bagé remonta ao início do século XIX. No livro do Vice-Consulado de Sua Majestade Católica em Bagé, há um registro datado de 1810 do cidadão Domingo Curbelo, natural das Ilhas Canárias. Esse documento inclui nomes de 412 espanhóis oriundos de diversas regiões da Espanha, com profissões que iam de agricultores a músicos, artesãos, arquitetos, escritores e comerciantes.

A fundação da Sociedade, idealizada por José Loza — alfaiate de 30 anos, natural de Cádiz — contou com 65 fundadores e 15 protetores. Para além da realização de festejos, o objetivo do imigrante era criar um espaço de convivência que oferecesse apoio moral e social aos membros em momentos de necessidade. A biblioteca e a galeria de ex-presidentes documentam a trajetória da instituição em sua sede social, que se mantém aberta à visitação de segunda a sexta-feira.

Para a presidente Vera, a missão é garantir que as novas gerações conheçam e preservem a herança recebida. “Nossa prioridade é conservar esse importante patrimônio para os descendentes e ensinar a eles os costumes e a cultura da Espanha”, afirma. O trabalho envolve tanto a manutenção física dos prédios quanto a promoção de atividades culturais e educativas.

Mesmo após o fim do fluxo migratório espanhol para Bagé, que se encerrou na década de 1950, a Sociedade continua sendo um ponto de referência para a comunidade e para pesquisadores interessados na história da imigração no Rio Grande do Sul. As ações desenvolvidas buscam integrar descendentes e moradores da cidade em torno da valorização de um legado que ajudou a moldar a vida cultural e social do município.

A preservação da memória da imigração espanhola também é vista como forma de reforçar a identidade cultural local. A história da Sociedade está vinculada ao processo de formação de Bagé, marcado pela diversidade de ofícios e saberes trazidos pelos imigrantes. Ao manter vivas tradições, como a celebração do Dia da Hispanidade e o ensino da língua, a instituição cumpre um papel de guardiã da herança cultural espanhola no Pampa.

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