Com mais de 500 horas de imagens captadas ao longo de 12 anos, o documentário O Mundo Cabe em um Fusca, do fotógrafo pelotense Nauro Júnior, está pronto para iniciar sua trajetória em festivais de cinema no Brasil e na América Latina. O filme, com 1h50min de duração, foi viabilizado com recursos do edital FAC Filma/RS e será oficialmente entregue à Secretaria da Cultura do Estado do Rio Grande do Sul.
A produção é resultado da Expedição Fusca América, projeto iniciado em 2013 e que percorreu 17 países a bordo de um Fusca 1968 apelidado de Segundinho. A bordo do veículo, Nauro cruzou paisagens como a Cordilheira dos Andes, o deserto do Atacama, Machu Picchu, a Antártica e a Rússia, sempre acompanhado por um co-piloto que também atuava na captação de imagens.
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“Cara, todo mundo achou que eu tava louco trocar meu iPhone por um Fusca”, lembra Nauro. A frase resume o ponto de partida de uma jornada que resultou não apenas em quilômetros rodados, mas também em histórias vividas e registradas em texto, imagem e vídeo. O documentário é uma extensão do livro A Vida Cabe em um Fusca, publicado no Brasil e em Portugal.
“É muito forte viajar de Fusca, é muito intenso, sabe? Porque é desconfortável, dói muito, é calor, é frio. A gente não sabe direito o que a gente tá buscando”, relata o fotógrafo. A obra se desenvolve como uma reflexão sobre o caminho e não o destino, propondo uma leitura sensível das transformações pessoais proporcionadas pelo trajeto.
Cena do documentário O mundo cabe em um Fusca, que narra os 12 anos de viagens do fotógrafo Nauro Júnior a bordo de um Volkswagen 1968
Daniel Marenco/Divulgação/Cidades
A narrativa é conduzida pelo próprio Nauro e complementada por imagens de diretores de fotografia que o acompanharam nas viagens: Caio Passos, Daniel Marenco, Patrick Rodrigues e Felipe Campal. O roteiro, montagem e finalização foram realizados em parceria com Juliano Ambrosini. A trilha sonora reúne nomes como Vitor Ramil, Luiz Marenco, Leandro Maia e Davi Batuka, além de Daniel Drexler e Luiz Marenco interpretando canções do repertório latino-americano.
“Depois de quase 10 anos, a gente tá descobrindo que não estava buscando nós mesmos. Tem muitas sutilezas, assim, isso vai sendo explicado no decorrer do filme, com os personagens que têm o mesmo peso durante todo o filme”, conta o diretor.
A exibição para convidados e apoiadores em Pelotas será realizada no dia 8 de agosto, no Cineflix do Shopping Pelotas. O filme é legendado em português, espanhol e inglês, e conta com recursos de acessibilidade. A Satolep Press, responsável pela realização, prepara a inscrição em mostras nacionais e internacionais, entre elas o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, cuja seleção ainda está em andamento.
“Porque eu nunca acreditei em aventura, né? Eu sempre acreditei num sonho seguido de um planejamento, na perseguição desse sonho, obstinadamente, pra que esse sonho se realize. Eu programava uma viagem, planejava, pensava como ela ia se viabilizar economicamente, enfim, e eu ia”, afirma Nauro sobre sua metodologia.
Cena do documentário O mundo cabe em um Fusca, que narra os 12 anos de viagens do fotógrafo Nauro Júnior a bordo de um Volkswagen 1968
Caio Passos/Divulgação/Cidades
O documentário destaca a força coletiva do projeto, que envolveu profissionais e apoiadores em diferentes momentos da expedição. “Eu sempre envolvi muita gente nos meus sonhos. Então quando dava um perrengue desse, eu pensava, eu não posso desistir, porque não é um sonho meu, é um sonho coletivo, a Expedição Fusca América é uma utopia coletiva.”
As imagens do projeto, captadas em diferentes continentes, retratam não apenas paisagens, mas também o cotidiano de pessoas e culturas com as quais Nauro e sua equipe tiveram contato. A proposta é traduzir em audiovisual o aprendizado acumulado na estrada. “Mas é que quando tu vai, tu deixa muito, sabe? E quando tu volta, tu traz tanto que tu nem é mais tu. Tu é aquilo que a estrada e o Fusca e o mundo fez de ti, entendeu?”, resume o fotógrafo ao refletir sobre o impacto das viagens em sua trajetória pessoal.