Após um ano das cheias que atingiram o Rio Grande do Sul, um projeto de pesquisa reuniu em um único livro registros fotográficos com mais de 600 imagens de populares e profissionais das maiores cheias da bacia hidrográfica Taquari-Antas entre os anos de 2023 e 2024. Além das imagens, o livro possui análises técnicas e reflexões que buscam compreender as principais causas do fenômeno. O livro digital, gratuito, tem 242 páginas dividas em oito capítulos e foi publicado neste mês com o título "Marcas na paisagem: memórias para construir a resiliência no Vale do Taquari".
A obra foi idealizada pela doutora em botânica e professora da Universidade do Vale do Taquari (Univates) Elisete Maria de Freitas, foi realizada em conjunto com o engenheiro ambiental Cleberton Bianchini, a fotógrafa Monique Bruxel, o jornalista Lucas George e o biólogo Mathias Hofstätter. A professora conta que a ideia de produzir o e-book surgiu em setembro de 2024, porém ele só foi elaborado a partir de março deste ano.
"O objetivo principal é termos o registro do que aconteceu para que a gente não esqueça. É trazer um alerta para os episódios, mostrar os impactos e, por fim, o que nós podemos adotar como ações para minimizar os impactos em próximos eventos climáticos", afirma.
Além das imagens, a obra apresenta textos explicativos de como estavam as margens do Rio Taquari antes do ocorrido em diversas cidades da região, e quais impactos foram causados ao meio ambiente posteriormente. Elisete diz que os impactos, considerados de grandes proporções, não poderiam ser evitados, mas minimizados caso as margens de rios e arroios estivessem protegidas com a mata ciliar e desocupadas pela população.
"Tem uma imagem no livro com a explicação de um de um pesquisador da Emater (capítulo 7, página 192), em que ele diz que aquela mudança de cor no solo representa o período em que nós mudamos o nosso modo de cultivo, em que a gente invade o espaço das margens dos rios. E a partir daquele momento não tem mais o acúmulo da matéria orgânica, porque esse material começa a ser levado embora pela água e não mais infiltra", explica.
A professora acredita que medidas como recuperação das margens, através do plantio de espécies nativas, remoção e realocação de pessoas que ocupam de maneira insegura áreas próximas ao rio possam minimizar os impactos de futuras cheias. Ela ressalta, porém, que a posição geográfica colabora para o processo de cheias, visto que a região está localizada em uma bacia hidrográfica que coleta água em um extenso território. "Toda essa água culmina para um mesmo rio numa planície que fica abaixo de uma encosta onde os rios descem com muita força. E quando eles chegam aqui nessa porção baixa do vale encontram uma planície, e as margens dos rios vão culminando para dentro do Rio Taquari com muito poder destrutivo", completa.
A recuperação da vegetação depende de alguns fatores, como o solo e as condições de cada área, e Elisete diz que é preciso buscar estratégias para resolver determinadas situações. A obra está disponível no site da Univates.