A Secretaria de Turismo do Rio Grande do Sul (Setur), em parceria com a Associação de Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales), publicou um diagnóstico sobre os empreendimentos ligados ao turismo no Vale do Taquari após a histórica enchente que atingiu toda a região em setembro. A pesquisa foi realizada com 51 empresas entre os dias 22 a 27 de setembro, com o objetivo de levantar dados, monitorar e direcionar ações para auxiliar os empresários da região que sofreram perdas por conta da enxurrada.
O estudo segmentou as empresas por municípios, área de atuação, porte financeiro, número de funcionários, prejuízos financeiros e estruturais e expectativa de retomada. De acordo com a Setur, o foco foi analisar, de forma efetiva, o tamanho dos danos causados pela cheia do rio Taquari. Os dados da pesquisa apontam que 76,1% das empresas tiveram prejuízo de até R$ 50 mil, e 61,7% dos empreendedores perderam fluxo turístico durante o período, o que demonstra as dificuldades enfrentadas pelos municípios ao atrair os turistas e consumidores para a região após as chuvas. Além disso, no mês passado, mais de 81% das empresas registraram quedas superiores a 50% do faturamento.
Para atender às demandas dos empresários, a pesquisa aponta que quatro em cada 10 dos estabelecimentos necessitam de créditos ou financiamento de mais de R$ 200 mil, valores que seriam destinados a ajudar na cobertura dos prejuízos e na retomada dos negócios. Para amenizar a situação, esta semana o comitê gestor das doações feitas pelo pix SOS Rio Grande do Sul finalizou o levantamento de novos beneficiários em municípios atingidos. Mais 595 donos de pequenos negócios em quatro cidades (Muçum, Roca Sales, Encantado e Santa Tereza)serão contemplados. Cada um receberá R$ 2.5 mil.
Muçum, que já teve 159 pessoas beneficiadas no início de outubro, terá mais 100 desta vez, depois de nova verificação de dados dos cadastrados. Em Encantado serão 250; em Roca Sales, 185; e em Santa Tereza, 60. Com a finalização do mapeamento, inicia-se a fase de preparação para os pagamentos.
Segundo Luiz Fernando Rodrigues, secretário da Setur, há uma reunião marcada para o dia 25 de outubro, em que estarão reunidos os titulares de outras pastas estaduais, com o objetivo de discutir medidas voltadas aos empreendimentos do Vale do Taquari e quais ações serão promovidas para auxiliar os empresários atingidos. "O trade turístico vai buscar linhas de financiamento para a retomada. Serão valores que o próprio setor terá condições de pagar", afirma. De acordo com o titular da pasta, o governo quer garantir aos empresários que os turistas poderão desfrutar da região sem preocupações. "Estamos empenhados em reconstruir e aumentar o fluxo turístico na região nos próximos meses", finaliza o secretário.
Queremos mostrar que a região não é terra arrasada, diz presidente da Amturvales
Na esteira da recuperação da região após as chuvas, o presidente da Associação dos Municípios de Turismo da Região dos Vales (Amturvales), Charles Rossner, afirmou que a entidade, junto com as prefeituras, está trabalhando em um plano de retomada para o setor ainda em 2023. A ideia é anunciar, em novembro, um grande evento de fim de ano que envolva as cidades do Vale do Taquari para, principalmente, mostrar aos visitantes que os atrativos turísticos da região estão em operação - e que setores como hotéis e restaurantes podem voltar a receber os turistas.
Conforme Rossner, o maior impacto causado pela cheia de setembro do rio Taquari na parte turística foi em áreas de uso comum, como praças e parques das cidades. Em algumas delas - cita como exemplo Estrela e Lajeado - esses locais já foram liberados, ou estão em processo de reabertura ao público. No entanto, os demais atrativos que servem de apoio aos turistas já voltaram a operar.
"O Cristo Protetor, em Encantado, e o Trem dos Vales tiveram um período sem visitação, mas todos os acessos a eles, bem como a estrutura para os turistas está em funcionamento. Algumas cidades estão com situação mais grave, como Roca Sales e Muçum, mas não reflete toda a região", explica.
De acordo com levantamento feito pela Amturvales, o fechamento desses dois atrativos, em específico, causou um prejuízo estimado de R$ 5 milhões ao trade turístico. O presidente da entidade conta que, mesmo após a reabertura, os clientes estiveram receosos de comparecer nas reservas feitas, que foram canceladas ou adiadas. "E não somente para o Cristo e o Trem, mas reservas em hotéis e restaurantes também foram desfeitas", conta.
Para o líder da associação, são três pilares necessários para a retomada: a liberação de crédito de forma menos burocrática aos empreendedores, elaboração de um plano de apoio aos negócios, que deve ser feito com o Sebrae e o que ele chama da "retomada da normalidade" na região. "Queremos mostrar, nas próximas semanas, que o Vale do Taquari não é terra arrasada, ao menos no setor turístico. Há, ainda, muito o que fazer na questão de habitação, por exemplo, mas o nosso segmento precisa dos turistas novamente. É um 'dinheiro novo', que vai ajudar a todos', conclui.
Dono de restaurante em Roca Sales pretende se mudar da cidade
Restaurante destruído em Roca Sales vai reabrir em Encantado.
DIEGO POLETTI/DIVULGAÇÃO/CIDADES
No município de Roca Sales, um dos mais atingidos pelas chuvas, o empresário Diego Poletti, de 33 anos, era proprietário de um restaurante de comida asiática, que foi afetado pelo desastre natural. O Sushi Go tinha sete anos e começou de forma caseira - segundo o dono do estabelecimento, ele mesmo preparava os pratos e realizava as entregas. Porém, os danos causados devem levá-lo a mudar até mesmo de cidade.
Diego conta que, quando o nível rio Taquari começou a subir a primeira atitude foi tentar salvar os móveis, insumos perecíveis e objetos. "Só conseguimos ter noção dos danos quando a água baixou. Tínhamos geladeiras e fogões amassados, mesas e cadeiras inutilizadas. Tentamos salvar o que era possível e eu tinha um estoque recente de encomendas de refrigerante e cerveja. Infelizmente perdemos muita coisa, quase nada foi aproveitado", disse.
De acordo com o proprietário, o estabelecimento funcionava de terça a domingo e atendia, em média, 15 à 30 pessoas por dia, sem contar os pedidos feitos através de delivery, "Sexta, sábado e domingo atendíamos mais de 50 pessoas", conta. Poletti afirma que o Sushi Go rendia cerca de R$ 180 à R$ 200 mil por mês. Ele avalia os estragos causados pela enchente em R$ 400 mil.
Segundo o empresário, a parte estrutural do restaurante foi comprometida pela força da água e da lama, que chegou a mais de dois metros de altura. Após o episódio, ele disse que está trabalhando para reabrir o restaurante de Encantado, em novembro. Diego afirma que os clientes e turistas perderam a confiança nos restaurantes de Roca Sales porque, segundo ele, o cheiro e o acúmulo de lixo nas ruas "tornam inviável" a manutenção do estabelecimento na cidade. "Por mais que a limpeza fosse feita, o ambiente seguia parecendo insalubre e o freguês não sentia vontade de entrar no local", finaliza.

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