O papel do tradicionalismo na difus�o e populariza��o do h�bito
Não há como falar sobre a importância cultural do chimarrão para o Rio Grande do Sul sem citar o papel que o movimento tradicionalista teve na sua popularização. Com o objetivo de recuperar os valores, a história e valorizar e difundir a cultura local, desde suas origens, o movimento, encabeçado por figuras como Paixão Côrtes, Barbosa Lessa e Glaucus Saraiva elevou o mate de patamar, colocando-o como um símbolo da ligação do gaúcho com seu passado.
A bebida, que era muito popular no Estado nos séculos XVIII e XIX, acabou perdendo espaço com a chegada do século XX e a tendência de migração da população das zonas rurais para as urbanas. Ligado à imagem do homem humilde do campo, o consumo do mate entrou em declínio, passando a ser relacionado ao atraso.
Foi com o nascedouro Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG) que o mate renasceu, ganhando um significado que, até então, não tinha. Em 1947, foi fundado o Departamento de Tradições Gaúchas (DTG), no Colégio Júlio de Castilhos, em Porto Alegre. O DTG do Julinho foi o embrião do que hoje conhecemos como Centro de Tradições Gaúchas (CTG), que surgiu no ano seguinte, em 1948, com a fundação do 35 CTG.
Nos CTGs, a cultura e as tradições eram vivenciadas, e não apenas motivo de lembrança. E o mate amargo estava sempre presente nas atividades, ganhando cada vez mais adeptos.
Conforme o doutor em História e professor do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Jocelito Zalla, Barbosa Lessa, com seu livro A História do Chimarrão (1953), teve papel fundamental na criação do elo do gaúcho com os povos originários. “Se o autor já havia afirmado a ligação racial do sul-rio-grandense com o indígena, o chimarrão era o elo cultural com o povo guarani”, destaca o pesquisador.
Lessa foi o tema da dissertação de mestrado em História de Zalla. Em seu trabalho, o professor salienta o papel destacado que o folclorista dava ao chimarrão dentro do processo de fundamentação do movimento tradicionalista, lembrando uma passagem bastante representativa do livro clássico de Lessa: “Só o chimarrão permanece como tradição fundamental do gaúcho, elevando-se ao patamar de um símbolo imorredouro e inconfundível”, escreveu o folclorista na obra.
Como, à época, o cavalo, a bombacha, a bota, o chapéu, o lenço no pescoço e o churrasco na valeta do chão eram "coisas do Interior", coube ao chimarrão trazer o campo para a cidade, fazendo a ligação da figura típica do homem da terra, das duras lides diárias, com o cidadão urbano que não se via espelhado no gaúcho heroico do imaginário popular.