Mauro Belo Schneider

Para o professor da UFRGS Sandro Ruduit Garcia, o consumidor brasileiro é, em geral, menos exigente quando comparado o consumidor médio de países desenvolvidos

'Nem todo mundo reúne as características e condições para ser empresário'

Mauro Belo Schneider

Para o professor da UFRGS Sandro Ruduit Garcia, o consumidor brasileiro é, em geral, menos exigente quando comparado o consumidor médio de países desenvolvidos

O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Sandro Ruduit Garcia estuda a área da Sociologia do Trabalho e a economia criativa de Porto Alegre. Nesta conversa, ele fala sobre a relação dos artistas com suas atividades profissionais e da importância de apoio do governo para que o segmento se desenvolva.
O professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) Sandro Ruduit Garcia estuda a área da Sociologia do Trabalho e a economia criativa de Porto Alegre. Nesta conversa, ele fala sobre a relação dos artistas com suas atividades profissionais e da importância de apoio do governo para que o segmento se desenvolva.
GeraçãoE - Por que muitos artistas têm dificuldade de tornar sua arte em um negócio?
Sadnro Ruduit Garcia - Por um lado, o País atravessa uma degradação econômica impressionante. Há uma persistente estagnação da economia, que é anterior à pandemia. Por outro, tornar arte em negócio e dele obter renda requer um conjunto de habilidades e capacidades pessoais definidas, assim como condições e estímulos do meio econômico e social. Nem todo mundo reúne as características e condições para ser "empresário". A afirmação do empreendimento depende dos prêmios e suportes concedidos pelo meio e da formação de uma biografia, com estoques de certos conhecimentos e com um acúmulo de contatos e vínculos sociais, perfazendo uma experiência social. Veja-se a situação difícil de nossas universidades, um dos pontos de apoio de uma economia criativa. Portanto, um negócio não nasce do estalo de dedos.
GE - A economia criativa tem crescido nos últimos anos?
Sandro - Internacionalmente, muito. É uma área do espaço econômico que cresceu expressivamente em âmbito internacional e que detém enorme potencial. Nossas sociedades e economias atravessam transformações profundas que tendem a nos tornar mais atentos a estetização da vida e a exigir maior criatividade na identificação e na resolução de problemas de toda ordem. A pluralidade de estilos de vida e as possibilidades da digitalização abrem uma ampla variedade de usos econômicos da criatividade humana e da autenticidade artística e cultural. Ao mesmo tempo, esse espaço econômico tem sido internacionalmente levado a sério em face das transformações tecnológicas e produtivas da indústria com graves consequências sobre o emprego. É uma importante alternativa. No Brasil, a situação se tornou diferente. A economia criativa chegou a se expandir de forma animadora ao longo dos 2000 até 2014 ou 2015, em alguns setores. As nossas universidades tiveram contribuição importante, formando pessoal e partilhando infraestruturas. A crise e estagnação econômica deflagradas desde então inverteram as tendências e expectativas. Junto com isso, há um processo de simplificação de nossa economia que se volta para uma estratégia competitiva via redução de custos em lugar da agregação de conhecimentos. Hoje, a economia criativa em seu conjunto encolhe no País. Há exceções neste ou naquele setor, pois economia criativa envolve inúmeras e diferentes atividades. Contudo, todas elas dependem da qualidade de recursos sociais, como escolarização e infraestrutura digital, altamente problemático no País.
GE - O consumidor valoriza esses trabalhos?
Sandro - O consumidor brasileiro é, em geral, menos exigente quando comparado ao consumidor médio de países desenvolvidos. No Brasil, as classes médias são ainda pouco numerosas e estão encolhendo. Isso se traduz não apenas em menor poder aquisitivo mas também em menos atenção às sutilezas da arte. Em Porto Alegre, a situação é um pouco melhor do que o conjunto do Estado ou do País, mas veja a situação precária de diversos de nossos equipamentos culturais. Agora, vamos ter que prestar a atenção na economia criativa para sair do buraco econômico e social. Isso é certo.
Mauro Belo Schneider

Mauro Belo Schneider - editor do GeraçãoE

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