O adiamento de dívidas é o mesmo que "mudar a parede de lugar": ajuda, mas não resolve o problema

Mudar a parede de lugar: até quando?


O adiamento de dívidas é o mesmo que "mudar a parede de lugar": ajuda, mas não resolve o problema

Nos últimos meses, formou-se um ambiente muito propício para renegociação com credores. Bancos têm oferecido a seus clientes uma gama infindável de opções, postergando vencimentos de obrigações por conta dos impactos da pandemia sobre a liquidez das companhias. Entre os tributos, a União suspendeu a exigibilidade de diversos impostos e contribuições, além de editar regras internas que impedem a exclusão de empresas de parcelamentos por falta de pagamento.
O adiamento de dívidas é o mesmo que, no jargão, "mudar a parede de lugar": ajuda, mas não resolve o problema. Esse tipo de estratégia serve, especificamente, para o cenário inicial da crise.
O primeiro impacto da pandemia foi na liquidez das empresas, com a diminuição do volume de negócios e a economia em pausa. Porém, o que vem pela frente é muito mais complexo e definitivo, e requer estratégia.
Há, em curso, uma onda muito mais desafiadora e que levará à ressignificação de diversos negócios: a transformação do mercado. E ela vem impulsionada pela mudança de comportamento do consumidor, pelo choque nas cadeias de suprimentos e pelo comprometimento na capacidade de endividamento das companhias.
Sob o prisma do consumidor, não há apenas retração - porque as pessoas têm medo de voltar a circular -, mas receio do comprometimento com obrigações de longo prazo. Afinal, tudo está muito incerto e fazer planos é difícil quando não se sabe o dia de amanhã.
Há ainda um contexto de diminuição efetiva de renda, onde muitos trabalhadores foram desligados ou tiveram sua carga horária reduzida, o que achatou os ingressos.
Mais: as cadeias de suprimento começam a dar sinais de falha, impactadas pelo refreamento econômico. Diversas fábricas fecharam ao redor do mundo, por múltiplas razões, principalmente no semestre passado. Agora, matérias-primas começam a faltar em diversos setores, como cimento, aço, espuma, para citar apenas os itens que ouvi nas últimas semanas.
Com a mudança da parede de lugar, as empresas reduziram a sua capacidade de endividamento, porque o passado deverá comprometer a geração de caixa. Espaço comprimido para compromissos dificulta a captação de novos recursos. Com reservas depletadas, a margem de crescimento é afetada.
Há outros elementos importantes no cenário, como o aumento do déficit governamental e ameaça de inflação. E essa metamorfose deverá ser discutida no nível estratégico. Empresas sem governança corporativa, sem espaços para interlocução qualificada voltada para a continuidade, terão dificuldades para lidar com este novo mundo.
Qual o caminho? A revitalização. É preciso elaborar um planejamento que contemple uma completa revisão do plano de negócios - com análise crítica das diversas dimensões da companhia -, a busca de novos recursos e a reestruturação de dívidas.
Para quem quer sobreviver, o caminho é de muito trabalho e autocrítica. Mas ele existe e pode ser trilhado, desde que haja disposição para tratar de todos os aspectos da crise - e não apenas a falta de liquidez.
Para sobreviver ao que está por vir, mais do que trocar a parede de lugar, é preciso reformar todo o edifício, das fundações ao telhado. A boa notícia: é possível, outros já fizeram antes e estão vivos para contar.
BIOLCHI EMPRESARIAL/DIVULGAÇÃO/JC

Juliana Biolchi
Juliana Biolchi

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