Um negócio que não resolve algo relevante não resiste

Está nos primeiros anos? Prepare-se para perder sua empresa


Um negócio que não resolve algo relevante não resiste

Todo empreendedor é movido pela paixão por uma ideia. No entanto, pouco se fala que esse mesmo sentimento pode ser, também, a causa mortis da empresa. Por quê? Quando alguém está convencido de que seu insight tem potencial, é esse fascínio solitário que alimenta os primeiros impulsos. É o que torna qualquer pessoa um empresário destemido - aquele que vai ao encontro do mercado vendendo seu próprio sonho. Convicção, disposição e poder de convencimento são determinantes para o nascimento e o crescimento de uma startup em seus primeiros anos.
Essa paixão, inicialmente tão importante, poderá matar o negócio se crescer em demasia. Falo aqui de um sentimento que cega, impede a evolução, não divide responsabilidades e conquistas. Enfim, que transforma uma fase da vida de uma empresa em algo permanente e de curta duração. Tudo começa com a concepção. Em tese, seria preciso olhar primeiro para o mercado e buscar soluções para problemas relevantes. Na prática, o contrário acontece: para convencer a si mesmo e ao seu círculo imediato, o empreendedor colhe dados e fatos que comprovam sua ideia, em vez de atestar que há uma demanda real sem solução.
O sucesso de um negócio em seus primeiros anos está em endereçar um desafio grande e pertinente. E o apego à ideia pode colocar tudo a perder. Em síntese, uma empresa que não resolve algo relevante não resiste. Simples assim. E quando o sucesso vem? Ser o criador de uma grande inovação gera orgulho, reconhecimento - e um status social diferenciado. Muitas vezes, por ter dado um passo significativo na dianteira do mercado, o fundador passa a acreditar que deve seguir sozinho. Ora, uma startup nasce de uma ideia - mas só persiste com sua execução. O fazer determina seu sucesso. É a tática em direção à estratégia que gera os resultados. Portanto, essa posição centralizadora é o primeiro passo para que o negócio fique limitado à força de trabalho e à criatividade de um único dono.
Dividir a assinatura é parte relevante do ato de empreender, transformando pares coadjuvantes em protagonistas. O empreendedor sagaz estimula o seu entorno a se sentir dono, dividindo glórias e desafios - colocando-os em uma posição de maior destaque. Compartilhar a criação fortalece a perpetuidade.
Por concepção, uma startup tem a intenção de crescer em escala, ter inovação como o seu motor e oferecer uma solução disruptiva ao mercado. Por isso, crescer de forma orgânica deveria estar fora de cogitação. Ser pequeno dá trabalho e é caro. Assim, nos deparamos com o paradigma de captar recursos - ou crescer de forma linear, correndo o risco de perder o timing. A paixão gera apego. É preciso saber dosar a relação entre desapegar e dar conta das emoções envolvidas. Faz parte do processo receber novos sócios e garantir a saúde da empresa. Se tudo der certo, evoluirá - e você vai perder sua startup para outro alguém ou outro time. Quem cria um negócio não é, em geral, quem o torna escalável.
Nestes últimos cinco anos, o GeraçãoE retratou milhares de histórias de empreendedores apaixonados. Gente que transformou ideias em realizações, movimentando a economia e contribuindo com a sociedade. Exemplos de perseverança, superação e boas ideias.
A todos esses - atuais ou futuros - idealizadores, preparem-se: vocês vão perder os seus negócios. E isso é excelente. Afinal, neste caso, perder também é ganhar - e fechar o ciclo dos sonhos de qualquer empreendedor.
ARQUIVO PESSOAL/CHIEFSGROUP/DIVULGAÇÃO/JC

Cristiane Ribeiro Mendes, CEO do Chiefs.Group
Cristiane Ribeiro Mendes

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