“Conheça seu produto como quem consome” foi uma das máximas de Mitch Lowe, um dos fundadores da Netflix, durante painel no Oracle OpenWorld na última quarta-feira (20), em São Paulo. Não à toa, no passado a empresa de conteúdo via streaming contratou 500 pessoas para passar o dia inteiro assistindo aos filmes da plataforma, a fim de categorizá-los e, assim, chegar com mais assertividade ao consumidor. Por consumidor, ele se refere aos 100 milhões de usuários espalhados por 130 países, que assistem a 125 milhões de horas de vídeo na Netflix todos os dias. “Nós devemos saber o que você quer antes de você pedir”, afirma ele, sobre o foco do serviço em eliminar processos para facilitar a vida do usuário, tendo a tecnologia como base de uma experiência cada dia mais esperta e intuitiva.
Na palestra, Mitch salientou que trabalhar olhando para frente e não para o passado é um dos principais motes da empresa. Ele falou sobre a importância de as companhias estarem conectadas com o futuro e o quanto a falta disso abre espaço, justamente, para o surgimento dos negócios disruptivos que balançam os mercados. “Empresas como o Hilton e Marriott deveriam ter feito o AirBnb, sabe?”, exemplifica.
Com esta visão prafrentex a respeito do modelo de negócio, em 20 anos a Netflix passou de uma distribuidora de DVD’s à domicílio para o que é hoje: a empresa de mídia mais valiosa do mundo, avaliada em US$ 152 bilhões, e assunto recorrente nas conversas em mesas de bares e cafés do mundo inteiro.
Mitch Lowe falou para plateia brasileira durante o Oracle OpenWorld, no Auditório Ibirapuera, em São Paulo | Foto: Oracle/Divulgação/JC
Mitch contou para a plateia brasileira no Auditório Ibirapuera sobre o episódio histórico em que a Netflix se ofereceu para a Blockbuster por US$ 50 milhões, quando se viu totalmente em crise, no início dos anos 2000. A maior rede de videolocadoras dos Estados Unidos não quis. Posteriormente, acabou falindo, em 2013. “Eles ficaram olhando só para o passado”, comenta Mitch. Um dos passos da Netflix em direção ao futuro foi a aproximação com as novas tecnologias. O desenrolar da história é visto aqui e agora: a empresa tornou-se também um estúdio com produções próprias, que se vale dos dados para guiar o sucesso de público.
"Gastamos cerca de US$ 8 bilhões em conteúdo”, sustenta ele, a partir das séries de sucesso próprias como House of Cards, Orange is the new black, Black Mirror, Stranger Things, Narcos, entre várias outras. Embora a base e o uso de dados seja recorrente na cultura da empresa, ainda assim, “nenhum dado irá fazer a diferença de estar perto do consumidor”, pontua ele. Não obstante, um dos principais diferenciais competitivos da ferramenta é operar em quase qualquer dispositivo.
Features e, novamente, pessoas
Mitch falou também sobre a descoberta de alguns features básicos da plataforma - tão usuais que parece que sempre estiveram ali: “é tão óbvio que parar o que você está assistindo e ter que buscar o próximo episódio é muito chato. Deveríamos automaticamente dar play no próximo episódio, é claro!”, aponta, emulando a eureka diante do público na capital paulista.
O empresário pontuou que uma das chaves do sucesso da companhia está nas pessoas que contrata. Ele contou que a empresa, inclusive, oferecia US$ 2 mil para a pessoa não pegar o emprego na Netflix. “Ou seja, ela só ficava se queria muito”, ressalta. Além disso, ele destacou a “no assholes policy” (em tradução livre, uma política de não trabalhar com imbecis). “Queremos pessoas divertidas em nossa volta, e pessoas que saibam tomar decisões. Se as pessoas sabem o que estão fazendo, não precisamos de tantas reuniões.”
*Roberta Fofonka esteve em São Paulo a convite da Oracle.