Duvide sempre de algum profissional que diga: "o caminho é este e não tem risco". Tudo tem risco! A questão é saber quais são e aqueles que menos impactam na sua empresa.

Quando o cisne negro terminará seu voo?


Duvide sempre de algum profissional que diga: "o caminho é este e não tem risco". Tudo tem risco! A questão é saber quais são e aqueles que menos impactam na sua empresa.

Um evento improvável e extraordinário pode ser comparado a um cisne negro espécie vista pela primeira vez no fim do século. Essa analogia faz parte da obra "A lógica do cisne negro", de Nassim Taleb, na qual o autor demonstra como esses acontecimentos surpreendentes podem impactar a sociedade como um todo.
Pois no início de 2020, enquanto o mundo se preparava para outro ano aparentemente ordinário, o cisne negro alçou seu voo. A então epidemia da Covid-19 logo se tornaria uma pandemia. Um vírus ainda desconhecido pela ciência que obrigou bilhões a se isolarem, mudando a lógica de toda a sociedade.
Para preservar vidas, surgiram as medidas restritivas. Necessárias, mas também com um custo financeiro de escala global. A crise sanitária se somou à turbulência econômica, obrigando todos os players a reverem seus planejamentos. Queda nas receitas, desemprego e endividamento: esse foi o roteiro de muitas histórias durante o período e, até hoje, alguns segmentos não voltaram a operar como antes.
Para os negócios, veio a incerteza, principalmente nos casos de pequenos empreendedores. Nos primeiros dias, imaginou-se que seriam duas semanas ou um mês de paralisação. Quando ensaiávamos uma retomada, veio a segunda onda. Agora, com a vacinação a pleno na maioria dos países, a variante Delta faz explodir novamente os casos da doença. Uma tortura sem fim para quem lidera uma empresa.
Por mais inovador e aberto a riscos que seja, o empreendedor é uma figura racional e que precisa de elementos concretos para tomar decisões. Hoje, são diversos os questionamentos e escassas as certezas. Virá outra onda? As vacinas darão conta da doença? Pode surgir outra variante? Perguntas ainda sem respostas. Além disso, há um fator crítico: a população empobreceu. Poucos foram os setores que cresceram na pandemia, enquanto a maioria regrediu.
Mas e quando a crise chega a um patamar insustentável, como fazer? Não estamos diante de uma questão matemática, mas estratégica. É pensar na dívida e estabelecer premissas de acordo com o fluxo de caixa da empresa. É avaliar, reavaliar e calcular cada centavo destinado a determinado compromisso ou investimento. Optar automaticamente pelo caminho da recuperação judicial ou falência só piora as coisas. Pode até ser inevitável, mas antes é necessário esgotar todas as alternativas. Judicializar o problema não é mais uma boa prática de crise: a saída é tentar resolver, conversar com credores, fornecedores e funcionários. Caso não haja diálogo, muitas vezes, é melhor administrar um passivo do que ingressar com um processo. Hoje, a lei oferece inúmeras soluções conciliatórias, mediadoras e extrajudiciais que não podem ser dispensadas.
O caminho, portanto, exige prudência, transparência e redução de custos, cuidando para não gerar problemas futuros. É imperativo buscar alternativas baratas e simples, usar a criatividade, desenvolver promoções, pensar no negócio de uma forma mais racional. E, também, duvidar sempre de algum profissional que diga: "o caminho é este e não tem risco". Tudo tem risco! A questão é saber quais são e aqueles que menos impactam na sua empresa.
Quando, enfim, o cisne negro terminará seu voo? Questão que, como tantas que formulamos desde março de 2020, segue sem resposta. Diante do imponderável, cabe aos empreendedores um olhar prudente para o futuro. Otimista, sim, mas sempre realista, estando pronto para o inevitável que, a qualquer momento, pode nos atingir. E não permitir que o pânico afete seu discernimento. É hora de levantar a cabeça, manter a serenidade e, acima de tudo, usar a razão.
ARQUIVO PESSOAL/REPRODUÇÃO/JC

Gabriele Chimelo, sócia da SCA Advogados
Gabriele Chimelo

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