Michele Rolim
A companhia brasileira de teatro, um dos grupos mais expressivos do País, volta à Capital. Depois de apresentar o seu repertório em Porto Alegre que incluiu as montagens Vida, Oxigênio, Isso te interessa?, Descartes com lentes, Esta criança e Krum, ela traz seu mais recente espetáculo o projeto bRASIL, neste sábado, às 20h, e domingo, às 18h, no Theatro São Pedro (Praça Mal. Deodoro, s/nº).
Reconhecida por sua proposta vanguardista voltada para a encenação e a dramaturgia contemporânea, a companhia paranaense propõe uma montagem composta por um conjunto de performances criadas a partir da reflexão dos artistas sobre o Brasil com direção de Marcio Abreu. Entre 2013 e 2014, a companhia brasileira de teatro viajou por capitais das cinco regiões brasileiras, passando por Salvador, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília. Enquanto eram apresentados espetáculos de seu repertório, o grupo realizou seminários, palestras, leituras e vivências com o público e outros artistas.
Dessas viagens, trocas de informações com pessoas diversas e, também, das reflexões artísticas que o percurso gerou, foi montado o espetáculo. O resultado está entrelaçado nas cenas que estão no palco. "É uma sequência de performances que tem uma certa autonomia, juntas e articuladas tocam uma outra dimensão", acredita o diretor.
Os atores Giovana Soar, Nadja Naira e Rodrigo Bolzan e o músico Felipe Storino tratam, entre outras coisas, de temas como política, igualdade, gênero, consumo exacerbado, economia de mercado, ética e o papel da arte no mundo. Muito disso, é expresso pelo corpo dos atores, mas há também momentos de texto propriamente dito, inspirados em discursos reais, como os da ex-ministra da Justiça da França Christiane Taubira ou do ex-presidente uruguaio Jose Mujica, bem como criações da própria companhia.
"Não fizemos essa peça para falar sobre o País, nunca foi o objetivo. E a tendência é cair nisso, mas o que queremos é refletir a partir do Brasil, sobretudo das nossas vivencias do processo de parar e olhar para esse País. O projeto evoca a questão: como respondemos ao mundo tudo que vivemos?", afirma Abreu.
A execução do projeto começou logo após as manifestações de junho de 2013, e com essas avalanches de acontecimentos da cena política, o espetáculo acabou passando por uma série de atravessamentos. "Ele não modificou na sua estrutura, mas substancialmente sim", conta o diretor, que explica que trata-se de um obra cênica que não é o "resultado final" da proposta e por isso chama-se "projeto".
O plano de ação nasceu da inserção do grupo na seleção pública de Manutenção de Companhias de Teatro da Petrobras, que concedeu patrocínio por três anos para pesquisa, montagem e circulação. Em Porto Alegre, será realizada também uma oficina teatral, nesta sexta-feira, das 18h às 22h, no complexo cultural Multipalco. A atividade é destinada a estudantes, artistas e interessados. Inscrições podem ser feitas no site do grupo
(www.companhiabrasileira.art.br).