Michele Rolim
Luiz Gonzaga, de Norte a Sul do Brasil, é conhecido como o Rei do Baião. A partir do imaginário popular nordestino, surgiu o musical Gonzagão - A lenda, que estreou em 2012, em homenagem ao centenário do músico, que faleceu em 1989. O musical será apresentado neste sábado, às 19h, em Porto Alegre, no Parque da Redenção (próximo ao espelho d'água), com entrada franca. Em caso de chuva, o espetáculo será cancelado.
Para contar a história do autor da clássica Asa branca, o diretor João Falcão reúne no palco oito atores e uma atriz. Há uma metalinguagem no espetáculo: é uma trupe de teatro em um futuro imaginário que conta a história do músico. Portanto, realidade e fantasia se misturam em uma narrativa na qual o diretor se permite tratar mais sobre o mito do que sobre o homem. Admitindo diversas "licenças poéticas".
Na trama, há coisas ficcionais, como um desafio entre o Rei do Baião e o Rei do Cangaço, ou então fatos documentais, como quando ele aprendeu a tocar sanfona com seu pai, Januário; sobre a criação do baião; e ainda sobre sua ida para o Rio de Janeiro e um encontro com o filho, Gonzaguinha.
Como acontece com uma lenda, a vida de Luiz Gonzaga tem momentos em sua biografia que não são consenso entre estudiosos e amigos. Além das inúmeras biografias lidas pelo diretor, serviu de material também o show no Teatro Tereza Rachel, em Copacabana, Luiz Gonzaga volta pra curtir, de 1972. Nele, Luiz Gonzaga conta diversos causos.
Depois desse show, ele passou a ser curtido por uma nova geração de músicos, cantores e compositores. "Luiz Gonzaga foi um cara que ajudou muito a identidade nordestina. Foi ele que ligou as manifestações culturais do Nordeste a uma festa, porque até então a identidade era caracterizada pela seca e pela tristeza, e mesmo quando ele canta a tristeza, por conta da levada dançante, acaba virando uma festa", opina João Falcão.
Quem interpreta Gonzagão é Marcelo Mimoso. Filho de sanfoneiro, Mimoso era taxista, cantor de forró e nunca havia assistido a uma peça antes de ser convidado para fazer parte do musical. Ele, que foi descoberto por Falcão em uma noite em que se apresentava em um bar da Lapa, canta a maior parte do repertório do espetáculo, que reúne cerca de 40 canções, entre elas sucessos como Cintura fina, O xote das meninas, Qui nem jiló, Baião e P.
Os músicos tocam ao vivo os três instrumentos típicos do baião (sanfona, zabumba e triângulo), além de rabeca, viola e violoncelo. A direção musical é de Alexandre Elias.
Falcão conta que essa foi uma das partes mais difíceis do espetáculo: a escolha do repertório. As músicas não são apresentadas em ordem cronológica, mas se encaixam na trama para ilustrar a história. "Muitas músicas eu queria que estivesse de todo o jeito e procurava alguma coisa na história dele que pudesse encaixar na música. O contrário também ocorria, as vezes, eu tinha uma situação e ia procurar na obra do Luiz Gonzaga músicas que correspondiam a este momento", explica o diretor e também dramaturgo.
Há tempos, o realizador flerta com as tradições nordestinas no palco e na tela. Em O auto da compadecida (2000) e O Coronel e o Lobisomem (2005), ele foi o responsável pelo roteiro e atuou também como diretor no filme A máquina (2005).
Natural também do interior de Pernambuco, Luiz Gonzaga povoou o imaginário de Falcão desde a sua infância. "A maior festa que tinha não era Natal ou Carnaval, e sim São João. Desta data, as recordações são muito mais fortes", conta Falcão.
Gonzagão - A lenda já tem diversos prêmios na bagagem, entre eles o Prêmio Shell de Teatro 2012 de Melhor Música.
A continuidade do trabalho realizado nesse espetáculo deu ao conjunto de atores a possibilidade de formar uma cia teatral. A Barca dos Corações Partidos - Companhia Brasileira de Movimento e Som já possui mais duas peças musicais em seu repertório: Ópera do malandro, de Chico Buarque, também com direção de João Falcão, e Auê, com direção de Duda Maia.